Pets – A Vida Secreta dos Bichos
por Joba Tridente
O universo do desenho animado pode ser paralelo (repleto de histórias
já vistas anteriormente, com melhor e ou pior qualidade de arte e ou narrativa)
ou único (na originalidade). Como uma animação pode levar entre dois a cinco
anos para ficar pronta, dependendo do estúdio e ou condições financeiras, ocasionalmente
aparecem “coincidências” no argumento e ou roteiro de obras em produção e que acabam
suscitando questionamentos de “espionagem” ou “plágio” no lançamento. A verdade
é que, uma vez que a originalidade custa caro, tem sempre uns (artistas) e
outros (estúdios) querendo encurtar o caminho, mudando uma coisinha aqui e um
gênero acolá numa história conhecida, acreditando ter resolvido o seu problema
criativo...., apostando, evidentemente, na memória curta do espectador alvo (geralmente
infantil). O que não quer dizer que (re)contar uma história já conhecida seja
(de todo) ruim, o que vale é como se (re)conta essa história.
Durante muito tempo assisti curioso, nas salas de cinema, a
um mesmo trailer de Pets – A Vida
Secreta dos Bichos, ansioso por sua estreia. Ainda que constante, sempre
provocando alguns risos e gargalhadas. Somente depois de assistir ao filme em
sessão especial (Cabine de Imprensa) fiquei sabendo de mais dois trailer
veiculados no YouTube e dei graças
pela minha ignorância e espero que os amantes de animação também não tenham
sabido deles. É que muito da graça e da surpresa da trama está lá..., o que, pra
mim (avesso a trailer/spoiler), tira um pouco do brilho deste divertido e
animado desenho animal.
Pets – A Vida Secreta
dos Bichos (The Secret Life of Pets,
2016) dá asas à imaginação (assim como outros filmes nos primórdios do cinema)
ao se ocupar com uma questão: a rotina doméstica dos animais de estimação
quando os seus (solitários) donos saem para a sua rotina profissional. Provavelmente
você já se pegou na janela olhando o comportamento, por vezes, estranhos de
algum animal (cão ou gato) do vizinho (na web
há trocentos vídeos com registros bizarros desses domesticados em “ação”). Que
eles têm uma linguagem própria não há a menor dúvida. E o mais interessante é
que, além de se entenderem, ainda compreendem o linguajar humano. Um passo à
frente do homem que não tem muita noção do que eles estão dizendo. Aliás, o homem não entende nem o próprio
homem.
Abrindo com uma bela sequência aérea sobre Manhattan e Central
Park outonal, a crônica nova-iorquina Pets
– A Vida Secreta dos Bichos começa num edifício residencial, onde cães,
gatos, pássaros trocam confidências, e logo ganha as ruas da cidade. Em um
desses apartamentos, com maravilhosa vista para Nova York, o terrier Max leva a vida que pediu a Deus... até a
noite em que sua adorável Katie traz
para casa o enorme e peludo vira-lata Doug,
pra lhe fazer companhia. Óbvio que Max
odeia a ideia de compartilhar o que é seu (inclusive o amor da sua dona) com um
estranho desclassificado e logo no primeiro dia de relacionamento, por conta da
distração do passeador, os dois se metem numa confusão atrás da outra até dar
de cara com Bola de Neve, um
coelhinho tão foto quanto psicótico, líder da Turma do Bueiro, que agrega animais revoltados com o abandono de
seus donos. Perdidos em NY, na tentativa de voltar para casa e se livrar de Bola de Neve e seus capangas (Tatuagem, um porco, Brutus, um cão-focinheira, Croc,
um crocodilo e Dragão, um lagarto), Max e Doug acabam se conhecendo melhor. Enquanto isso, como “quem tem amigo tem tudo”, a lulu Gidget, vizinha de Max, estranhando o sumiço dele, convoca uma força-tarefa, que
inclui o falcão Tiberius e o cão
paraplégico Pops, para encontrá-lo.
Assim tem início uma jornada dupla de amizade, solidariedade e até mesmo de
redenção..., mas sem ser piegas e moralista.
Pets – A Vida Secreta
dos Bichos, dirigido por Chris
Renaud e Yarrow Cheney, é um
filme infantojuvenil, repleto de gags visuais, nonsense e humor pastelão, que
não decepcionará o acompanhante adulto que libertar a sua criança oculta e mergulhar
nessa fantasia surreal. Nem é preciso ter algum animal de estimação em casa,
para apreciar essa “maluquice”. Mas é bom ficar atento, porque a história, onde
os humanos são meros coadjuvantes, talvez pareça boba, alucinante (como
qualquer fábrica de salsicha deve ser), mas, no subtexto, traz provocante
reflexão sobre a adoção, o cuidado e o abandono de animais domésticos. O
gracejo com o cão paraplégico, com a obesidade da gata, com a “psicopatia” dos
animais do esgoto, não é gratuito.
Enfim, considerando que a animação, com boa dose de ação e
aventura, tem uma paleta de cores aconchegantes; que a textura dos animais é
simples e agradável; que a plasticidade de Manhattan e de Nova York é uma
beleza à parte, que o roteiro (surreal) é bacana para a diversão e reflexão (séria!)
que se propõe; que a dublagem brasileira não é das piores..., vale os minutos
de relaxamento e aprendizado para toda a família.
Ah, não chegue atrasado e nem saia antes dos primeiros
créditos, ou perderá o curta-metragem estrelado pelos hilários Minions e o epílogo de arromba com a bicharada do longa!
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