quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Crítica: O Quarto de Jack


Quando se é criança, o seu quarto, a sua casa e até mesmo a sua aldeia é a coisa maior da Terra. Além do seu círculo o mundo não mais existe. Não é real. É ilusório. Fantasia! Acima da sua cabeça há o sol, a lua e as estrelas pintadas no céu. Talvez existam anjos, santos ou, quem sabe?, até mesmo um deus voando por lá. Mas o que importa o quê não existe lá fora quando não se sabe o que quer dizer fora...


O Quarto de Jack (Room, 2015), baseado no roteiro e romance homônimo de Emma Donoghue, com irretocável direção do irlandês Lenny Abrahamson, é um drama que, para melhor apreciação, deve se buscar a informação mínima sobre o enredo. Basta saber que é uma história imersiva, lúdica e tensa, envolvendo uma mãe amorosa, Ma (Brie Larson), e seu adorável filho de cinco anos, Jack (Jacob Tremblay), confinados em um pequeno quarto. A razão do claustro, você (espectador) vai saber junto com o garoto, cujo referencial de vida (real ou fantasiosa) é a mãe e a tv.


A trama perturbadora, que perpassa pelo Mito da Caverna, de Platão, assim como por notícias incômodas que, vez ou outra, frequentam o noticiário, mais que a situação inusitada que os dois vivem, nos faz refletir sobre a importância e a força da imaginação para a sobrevivência e a sanidade (principalmente das crianças) em situações limites. Assim, se o lá fora ocorrer, será mais fácil absorver novas informações e absolver velhas referências. Diante do abominável, a catarse é a boia necessária para nos libertar de todo pavor ancorado.


O Quarto de Jack é um drama que surpreende do princípio ao fim: pelo enredo (original) crível; produção cuidadosa, elenco excelente, onde se destaca o jovem Jacob Tremblay, a fotografia magnífica (e subjetiva?) de Danny Cohen e a já mencionada competentíssima direção (livre de qualquer pieguice!) de Lenny Abrahamson.


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