quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Crítica: Tim Maia


Do compositor e cantor Tim Maia conhecia apenas o trivial: as amizades de início de carreira com Roberto Carlos e Erasmo Carlos; algumas belas canções entre uma e outra baba; as reclamações do som no palco (quando comparecia a algum show!); a fase Cultura Racional, que resultou em dois discos: Tim Maia Racional, lançados em 1975 e 1976. Não li a biografia Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia (2007), do jornalista Nelson Motta, que serviu de base para o filme dirigido por Mauro Lima, e tampouco o livro Até Parece que Foi Sonho - Meus 30 anos de Trabalho e Amizade com Tim Maia (2007), do cantor e compositor Fabio Stella.  Portanto, fui ver Tim Maia sem nenhuma ideia pré-concebida. Confesso que fiquei tão surpreso quanto frustrado com o resultado da cinebiografia. Surpreso com a corajosa abordagem dos fatos e frustrado com o formato (didático) e o tom drama(lhão).


Tim Maia, com roteiro de Mauro Lima e Antonia Pellegrino, surpreende ao fugir do óbvio e abordar o lado mais obscuro da vida do grande músico que aportuguesou o soul: firmar carreira, marginalidade, drogas. Mas peca, onde deveria ser glorificado, pela excessiva dramaticidade. Sequência a sequência a história vai ficando tão sofrida e soturna que chega a sufocar (até o espectador). Praticamente sem alívio cômico, a vida de Sebastião Rodrigues Maia ou Tião Maia e ou Tim Maia acaba pesando toneladas. A impressão é a de que o artista nasceu, viveu e morreu com raiva do mundo, ainda que compusesse maravilhas como Azul da Cor do Mar (1970)..., e ou que era um psicótico. Haja dor pra tanto exorcismo moral. Talvez o título até suportasse um subtítulo: O Raivoso.


Tim Maia tem excelente direção de atores, ainda que um ou outro personagem soe caricato (Roberto Carlos, Rita Lee). Embora Robson Nunes e Babu Santana estejam perfeitos na pele de Tim jovem e adulto, quem emociona e rouba as cenas é a expressiva Valdinéia Soriano, num papel breve como Dona Maria, mãe do músico. O filme, com uma pitada de ficção, não é exatamente um musical, mas tem alguns bons números. A direção de arte e figurino, primorosos na reconstituição de época, e a elaborada fotografia merecem destaque principalmente porque fazem a gente quase (eu disse quase!) esquecer o imperdoável vício de linguagem: locução off, que permeia a narrativa.  A intragável voz off, que é divertida em film noir e às vezes cai bem em documentário, aqui não passa de redundância áudio óbvia descritiva que subestima o espectador. 


Enfim, considerando que a vida do “síndico” Tim Maia, pelo que se ouve (?), se lê (?) e se vê (?), foi de altos e baixos em um mar de verdades e mentiras, ao sabor do folclore que alimenta a vida de artistas de renome; que selecionar (sem macular a aura) o quê expor publicamente não é fácil; que em qualquer biografia deve se acreditar desconfiando da trajetória de sucesso e ou de fracasso do biografado; que alguns números musicais são contagiantes; que o elenco segura bem a triste e conturbada história do músico possessivo (?); que excetuando os excessos dramáticos e off, o filme tem sequências brilhantes..., acredito que os fãs do cantor também vão se surpreender (e se chocar!) com cinebiografia, ainda que muitos se sintam mais confortáveis com as hagiografias, ignorando que, no mundo das celebridades (?), o desencanto é uma constante. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...