Do compositor e cantor Tim Maia conhecia apenas
o trivial: as amizades de início de carreira com Roberto Carlos e Erasmo Carlos;
algumas belas canções entre uma e outra baba; as reclamações do som no palco
(quando comparecia a algum show!); a fase Cultura Racional, que resultou em
dois discos: Tim Maia Racional,
lançados em 1975 e 1976. Não li a biografia Vale
Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia (2007), do jornalista Nelson Motta, que
serviu de base para o filme dirigido por Mauro
Lima, e tampouco o livro Até Parece
que Foi Sonho - Meus 30 anos de Trabalho e Amizade com Tim Maia (2007), do
cantor e compositor Fabio Stella. Portanto, fui ver Tim Maia sem nenhuma ideia pré-concebida. Confesso que fiquei tão
surpreso quanto frustrado com o resultado da cinebiografia. Surpreso com a corajosa
abordagem dos fatos e frustrado com o formato (didático) e o tom drama(lhão).
Tim
Maia,
com roteiro de Mauro Lima e Antonia Pellegrino, surpreende ao fugir do óbvio e
abordar o lado mais obscuro da vida do grande músico que aportuguesou o soul: firmar carreira, marginalidade,
drogas. Mas peca, onde deveria ser glorificado, pela excessiva dramaticidade. Sequência
a sequência a história vai ficando tão sofrida e soturna que chega a sufocar
(até o espectador). Praticamente sem alívio cômico, a vida de Sebastião
Rodrigues Maia ou Tião Maia e ou Tim Maia acaba pesando toneladas. A impressão é
a de que o artista nasceu, viveu e morreu com raiva do mundo, ainda que
compusesse maravilhas como Azul da Cor do
Mar (1970)..., e ou que era um psicótico. Haja dor pra tanto exorcismo
moral. Talvez o título até suportasse um subtítulo: O Raivoso.
Tim
Maia
tem excelente direção de atores, ainda que um ou outro personagem soe caricato
(Roberto Carlos, Rita Lee). Embora Robson
Nunes e Babu Santana estejam
perfeitos na pele de Tim jovem e
adulto, quem emociona e rouba as cenas é a expressiva Valdinéia Soriano, num papel breve como Dona Maria, mãe do músico. O filme, com uma pitada de ficção, não é
exatamente um musical, mas tem alguns bons números. A direção de arte e
figurino, primorosos na reconstituição de época, e a elaborada fotografia merecem
destaque principalmente porque fazem a gente quase (eu disse quase!) esquecer o
imperdoável vício de linguagem: locução off,
que permeia a narrativa. A intragável voz
off, que é divertida em film noir e às vezes cai bem em
documentário, aqui não passa de redundância áudio óbvia descritiva que
subestima o espectador.
Enfim, considerando que a vida do “síndico” Tim
Maia, pelo que se ouve (?), se lê (?) e se vê (?), foi de altos e baixos em um
mar de verdades e mentiras, ao sabor do folclore que alimenta a vida de
artistas de renome; que selecionar (sem macular a aura) o quê expor
publicamente não é fácil; que em qualquer biografia deve se acreditar
desconfiando da trajetória de sucesso e ou de fracasso do biografado; que
alguns números musicais são contagiantes; que o elenco segura bem a triste e
conturbada história do músico possessivo (?); que excetuando os excessos
dramáticos e off, o filme tem
sequências brilhantes..., acredito que os fãs do cantor também vão se surpreender (e se chocar!) com cinebiografia,
ainda que muitos se sintam mais confortáveis com as hagiografias, ignorando que,
no mundo das celebridades (?), o desencanto é uma constante.
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