quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Crítica: Relatos Selvagens


Quem nunca esteve à beira de uma explosão de fúria, em tempos tão burocráticos e ou politicamente (in)corretos em que vivemos, que atire primeiro e se desculpe pela pedrada depois. Para lavar a alma de todos os “pecadores” com e ou sem convicção (ou seria culpa?) chega aos cinemas, com seis histórias tragicômicas, vestidas com o mais sincero humor negro e pitadas de sadismo, o catártico filme argentino Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, 2014). Uma produção que vai fazer muito espectador pensar se não seria melhor contar até mil antes de explodir. Há quem diga que a melhor vingança é aquela que se come crua. Mas há também quem não sabe contar até dez!

Hoje em dia, qualquer nadica de nada é razão para as inconsequências das vias de fato ou do fato. O descontrole é tão grande que, uma passada de olhos na mais famosa das redes sociais..., aquela onde os amigos juram eterna amizade, até terem sua postagem criticada e, sem argumentos para uma saudável discussão (da opinião contrária), partirem para ofensas pessoais, feito torcedores mentecaptos esporte clube que a cada jogo se preparam para confrontos com torcedores mentecaptos clube esportivo..., é suficiente para encontrarmos cidadãos (?) furiosos.


Relatos Selvagens é uma comédia (dramática) escrita, dirigida e editada por Damián Szifron, que não mede roteiros para desconstruir, com fina ironia, a sensatez humana (se é que ela existe) em histórias curtas e absurdas, que poderiam passar por bizarras, não fosse o teor de veracidade que cada uma exala. São narrativas breves que expõem (sem qualquer julgamento moral) a selvageria explícita de homens e mulheres dispostos a tudo para se vingar de uma humilhação sofrida (e não esquecida!) no seu cotidiano, por vezes patético. Sabe como é, quando vem aquele GRRRRR!!!!! gutural e o sujeito não se aguenta mais de quicar aqui e acolá, há (sempre) aquela porta estreita (demais) de serventia que, com certeza, vai deixar marcas em um ou em outra.

Relatos Selvagens, que traz o excelente Ricardo Darín encabeçando um elenco de peso (Erica Rivas, Oscar Martínez, Leonardo Sbaraglia, Rita Cortese, Darío Grandinetti, Julieta Zylberberg). pode não fazer o mesmo número de espectadores argentinos (três milhões) mas, com suas crônicas (universalmente) pertinentes desvelando o ridículo de cada um de nosotros, tem tudo para também causar por aqui.


Em um filme onde todas as histórias são geniais (pelo menos três antológicas!), inclusive a que flerta com Um Dia de Fúria (1993), de Joel Schumacher, além da montagem ágil, em que Szifrón contou com a colaboração de Pablo Barbieri, é impossível não destacar a imaginativa fotografia de Javier Juliá e a música inspirada de Gustavo Santaolalla. Imperdível!!!

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