Quem nunca esteve à beira de uma explosão de
fúria, em tempos tão burocráticos e ou politicamente (in)corretos em que
vivemos, que atire primeiro e se desculpe pela pedrada depois. Para lavar a
alma de todos os “pecadores” com e ou sem convicção (ou seria culpa?) chega aos
cinemas, com seis histórias tragicômicas, vestidas com o mais sincero humor
negro e pitadas de sadismo, o catártico filme argentino Relatos Selvagens (Relatos
Salvajes, 2014). Uma produção que vai fazer muito espectador pensar se não
seria melhor contar até mil antes de explodir. Há quem diga que a melhor
vingança é aquela que se come crua. Mas há também quem não sabe contar até dez!
Hoje em dia, qualquer nadica de nada é razão
para as inconsequências das vias de fato ou do fato. O descontrole é tão grande
que, uma passada de olhos na mais famosa das redes sociais..., aquela onde os
amigos juram eterna amizade, até terem sua postagem criticada e, sem argumentos
para uma saudável discussão (da opinião contrária), partirem para ofensas
pessoais, feito torcedores mentecaptos esporte clube que a cada jogo se
preparam para confrontos com torcedores mentecaptos clube esportivo..., é
suficiente para encontrarmos cidadãos (?) furiosos.
Relatos
Selvagens é uma comédia (dramática) escrita, dirigida e editada por Damián Szifron, que não mede roteiros
para desconstruir, com fina ironia, a sensatez humana (se é que ela existe) em histórias
curtas e absurdas, que poderiam passar por bizarras, não fosse o teor de veracidade
que cada uma exala. São narrativas breves que expõem (sem qualquer julgamento
moral) a selvageria explícita de homens e mulheres dispostos a tudo para se
vingar de uma humilhação sofrida (e não esquecida!) no seu cotidiano, por vezes
patético. Sabe como é, quando vem aquele GRRRRR!!!!! gutural e o sujeito não se
aguenta mais de quicar aqui e acolá, há (sempre) aquela porta estreita (demais)
de serventia que, com certeza, vai deixar marcas em um ou em outra.
Relatos
Selvagens, que traz o excelente Ricardo
Darín encabeçando um elenco de peso (Erica Rivas, Oscar Martínez,
Leonardo Sbaraglia, Rita Cortese,
Darío Grandinetti, Julieta Zylberberg). pode não fazer
o mesmo número de espectadores argentinos (três milhões) mas, com suas crônicas
(universalmente) pertinentes desvelando o ridículo de cada um de nosotros, tem tudo
para também causar por aqui.
Em um filme onde todas as histórias são geniais
(pelo menos três antológicas!), inclusive a que flerta com Um Dia de Fúria (1993), de Joel Schumacher, além da montagem ágil, em
que Szifrón contou com a colaboração de Pablo
Barbieri, é impossível não destacar a imaginativa fotografia de Javier Juliá e a música inspirada de Gustavo Santaolalla. Imperdível!!!
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