A lenda de Noé
é uma das mais conhecidas da Bíblia, o livro capital da mitologia
judaico-cristã. Já mereceu várias adaptações e versões para o cinema e a
tv. Mas nenhuma tão estranha como a do
diretor Darren Aronofsky. Para ele: “-
O público pode esperar por todos os
grandes momentos da história de Noé: a Arca, os animais, o primeiro arco-íris,
a pomba. Mas espero que tenham sido capturados de maneira nova e inesperada. Em
vez de repetir o que já foi visto anteriormente, consideramos cuidadosamente o
que está escrito no Livro de Gênesis e, depois, criamos um cenário na tela onde
achamos que estes milagres poderiam ocorrer”.
Bem, se a primeira impressão é que fica, logo de
cara, ao deparar com o figurino estiloso..., homens e mulheres (!) vestindo
calças compridas, corte reto (as das mulheres justinhas e enrugadinhas), camisas
e casacos modernos, bem costurados e bem chuleados..., o espectador se sente
transportado para um filme de ficção científica pós-apocalíptico, onde é comum
esse tipo de vestimenta. A roupa, muito bacana, chama mais atenção que a trama,
principalmente porque deixa um monte de perguntas sem respostas: Se o errante Noé vivia no deserto com a sua esposa e
os três filhos, não tinha ovelhas e nenhuma plantação de algodão, ou sequer uma
máquina de fiar, nem contado com a “civilização de homens” (?!), quem desenhava
e tecia os tecidos? No princípio do mundo judeu já existia brim, jeans, blusa
plissada? Sendo vegetarianos/veganos porque usavam (e onde conseguiam?)
arrojadas botas e peças de couro? Empaquei! Ah, melhor seguir com outro
assunto.
Noé (Noah, EUA, 2014) é um drama/fantasia de
ação e alguma aventura livremente inspirado no personagem bíblico Noé. Aquele homem que, submisso a um Deus
tirano, construiu uma arca para salvar a sua família e um casal de cada espécie
animal da ira divina, em forma de dilúvio universal, que varreu do planeta o
resto dos habitantes..., e depois (incestuosamente?) repovoou a Terra. Com
roteiro de Aronofsky e Ari Handel a trama está mais para naufrágio do que para
resgate do espectador descrente que vai boiar ou se enterrar com os homens de
pedra “emprestados” de O Senhor dos Anéis.
Se no “original” a história (quem conta
um conto aumenta um ponto) já é inverossímil, na telona, então...
A trama (previsível, óbvio!) segue a nado
cachorrinho. Quando parece que vai engatar, surge uma goteira de água fria. Não
estou falando da insuportável onipresente trilha chorosa, mas do enredo pouco
inspirado e seus clichês religiosos..., com certeza ao gosto dos “crentes fé
cega” e criacionistas. Haja devoção! Tudo se resolve com pedras, ervas e
semente mágicas. Ou se justifica com um acampamento de “homens” maus,
pecaminosos, ateus..., argh!!! Até mesmo um trabuco (?!) dá o explosivo ar da
graça. Outro mistério: onde, no meio do nada, arranjam pólvora e ou forjam
armas, correntes, ferramentas? Enfim, não
falta nem correção do Gênesis: “Antes dos
peixes, foram criados animais enormes (dinossauros?) que desapareceram da
Terra”. Eu ouvi isso?!
Noé tem
cara de história bíblica para adolescente romântico. Conta com umas duas ou três boas
sequências, incluindo aí uns dois ou três bons diálogos, digo, monólogo (de Noé), cujo assunto, é claro, é o embate
entre o Deus (tirano) e a sua criação infiel (homens). Pelo menos na hora me
pareceram inspirados! Os efeitos especiais beiram o ridículo..., nada de encher
os olhos, apenas ilustram o roteiro. O desenho dos homens de pedra e das borradas
cenas de batalha é horrível, primário! O elenco acompanha a história: assim
assim! Em tempo, como ocidentais (artistas ou não) adoram ocidentalizar os
orientais, Noé (Russell Crowe) e família são brancos, bons e bonitos. O “rei” Tubal-Cain (Ray Winstone) e súditos são morenos, malvados e feios.
Um filme na medida para religiosos crédulos e
incrédulos estilistas de moda sem inspiração.
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