Na adolescência
li um livro por causa da beleza do título: Olhai
os Lírios do Campo. Hoje me lembro mais do título e do autor, Érico
Veríssimo, que do enredo. E por falar em títulos interessantes, conferi no
cinema as adaptações de Um Certo Capitão
Rodrigo (1971), de Anselmo Duarte, com Francisco di Franco (Rodrigo) e Elza
de Castro (Bibiana), e de Ana Terra
(1971), de Durval Garcia, com Rossana Ghessa (Ana) e Geraldo del Rey (Pedro
Missioneiro)..., ambos capítulos extraídos de O Continente, da saga O Tempo
e o Vento, também do mestre Erico Veríssimo. Da minissérie O Tempo e o Vento (1985) o que ficou
(dos poucos capítulos que vi), foi o belíssimo tema de abertura escrito por Tom
Jobim, na sua mais perfeita tradução do tema.
Em 2013, após
sete anos de preparação, 27 roteiros, e um orçamento de R$ 13 milhões, finalmente
estreia nos cinemas a versão condensada de O
Tempo e Vento, inspirada no tomo O
Continente. O drama dirigido por Jayme
Monjardim, a partir da adaptação de Leticia Wierzchowski e Tabajara Ruas, é
um épico fiado ao sabor do tempo e desfiado ao sabor do vento que acalenta a
memória da velha Bibiana Terra (Fernanda Montenegro), tecelã da secular
história da família Terra Cambará.
Seu dileto ouvinte é o mesmo jovial e fanfarrão Capitão Rodrigo (Tiago
Lacerda) que há décadas apareceu por aquelas bandas: “Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo
Cambará entrara na vida de Santa Fé.”..., arrebatou o seu coração e dele
não saiu nem depois de morto.
Ambicionando o
todo e não apenas os dois capítulos mais populares da saga, Monjadim foca a
narrativa na voz cansada de Bibiana Terra
(neta de Ana Terra), que conta o quê de
mais importante ouviu e viu sobre a sua família. Como a coser uma colcha de
retalhos, ela vai juntando, com fios imaginários, pedaços mais ou menos
coloridos de 150 anos de histórias. Algumas estampas, como a paixão de Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez) por Ana
Terra (Cleo Pires) ou mesmo a
paixão dela (Bibiana) pelo sedutor Rodrigo, ganham maior relevância. Outras,
pertinentes à formação do Rio Grande do Sul, como a Revolução Federalista,
Farroupilha, Guerra do Paraguai, ou de menor (?) destaque na árvore genealógica
Terra Camará, acabam nos contornos
laterais. Ou seja, por mais que a premissa seja de uma colcha multicolorida,
ela não vai muito além do tricolor. Ana
Terra e Capitão Rodrigo estão
ali, quase por inteiro. Somente um olhar mais apurado percebe os remendos.
O Tempo e o Vento impressiona pelo apuro técnico, não pelo
roteiro (superficial) e direção claudicante (televisiva?). Excetuando o simpático
Capitão Rodrigo (Lacerda, ótimo), os
personagens parecem estar em cena apenas para decorar a paisagem ou a passagem
de um causo ou fato, como a jovem Bibiana
(Marjorie Estiano). A bela fotografia
de Affonso Beato, com sua inacreditável nuance de luz e cor, dá o tom preciso
da itinerância do tempo e do vento: Era
assim que o tempo se arrastava, o sol nascia e se sumia, a lua passava por
todas as fases, as estações iam e vinham, deixando sua marca nas árvores, na terra,
nas coisas e nas pessoas (Ana Terra). Porém, filtros à parte, se nos
enquadramentos externos as imagens são de encher os olhos, o uso exagerado de
(efeito) Lens Flare, no interior do sobrado de Bibiana, incomoda (haja sombra
tremulando!). A cena em que ela, anciã, desce as escadas é constrangedora..., nem J.J. Abrams ousaria tanto!
Jayme Monjardim
disse que seu estilo (na direção) “é mais emocional,
popular, mais feminino”. Logo, já encontrou o seu público.
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