sábado, 20 de outubro de 2012

Crítica: Os Candidatos


Em tempos de eleição e campanhas políticas, sempre regadas a muita baixaria (campanha política e baixaria “são” sinônimos em qualquer lugar), a comédia Os Candidatos pode surpreender e divertir o espectador mais ingênuo. Porém, quem conhece o ambiente fétido e sabe muito bem como funciona a falcatruagem parlamentar, talvez, entre uma indignação e outra, dê boas gargalhas..., mas não muitas.

Os Candidatos (The Campaign, EUA, 2012), dirigido por Jay Roach, começa com a seguinte advertência: “A guerra tem regras, briga na lama tem regras. Na política não há regras.” - Ross Perot, candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988. A sátira acompanha os bastidores da campanha política de dois candidatos ao Congresso Norte Americano: Cam Brady (Will Ferrell), um “político profissional” (machista) e Marty Huggins (Zach Galifianakis), um “inocente” (e afetado) guia turístico. Cam era candidato único a um quarto mandato, mas após um novo escândalo sexual se viu obrigado a enfrentar nas urnas um rival excêntrico e despreparado. No entanto ele acredita que, mesmo em pleno declínio nas pesquisas, é capaz de vencer o delicado concorrente. Cam só não contava com a chegada de Tim Wattley (Dylan McDermott), um agente de campanha contratado para transformar Marty em um novo homem e ou (ao menos) em um homem viril. Wattley é um sujeito que não gosta de perder e, então, aproveita para mudar também a personalidade da família, da casa e (literalmente) os cães de Marty. Com o picadeiro armado tem início o show de obscenidades.


Escrito por Chris Henchy e Shawn Harwell, a comédia tem como alvo a campanha política estadunidense de 2012, mas acaba por satirizar políticos em todo o mundo. É incômodo (e vergonhoso) se dar conta de que os absurdos da narrativa são práticas (re)correntes desses “profissionais” de lábia fácil e discurso vazio. Roach acredita que “...ultimamente a comédia é a resposta certa para a política. Pelo menos nos dá algo para rir e faz com que a realidade dessa situação seja mais fácil de engolir, diferente de quando você só assiste aos noticiários, o que pode ser bem assustador. Olhando algumas das campanhas eleitorais atuais, eu fico na dúvida se era isto que os fundadores deste país tinham em mente". Já para Galifianakis: “Acompanhei a política toda minha vida e ainda me impressiono com a quantidade de manipulação que ocorre nos bastidores da construção de um político, e como o público pode ser enganado por isso. Só estamos mostrando, de uma forma divertida e engraçada, como a salsicha é feita”.

O argumento é interessante, resta saber se a crítica (em tom de galhofa) consegue tocar e acordar o espectador-eleitor entorpecido no lado de baixo do Equador. Grande (?) parte da população concorda que todo político é farinha do mesmo saco, mas será que todo saco (norte ou sul-americano) resiste à mesma farinha? É bom que se diga que Os Candidatos não tem a mesma força (catártica) do thriller político Tudo Pelo Poder, de George Clooney (que vai direto ao nervo), mas suas retóricas apresentam alguns pontos em comum. No entanto, o que mais os diferencia (e os distancia) é o epílogo, Roach “opta” por um (improvável) final edificante e moralista..., bem ao gosto de Hollywood. Aqui a arte não imita a vida, sugere uma saída.


A paródia política de Roach é um filme irregular, mas acima da média. Na ânsia de dissecar o maior número possível de baixarias (buscando humor em tudo), acaba pecando pelo excesso de alvos e algumas setas se perdem no caminho fácil do clichê e da caricatura. Em se tratando de nova comédia americana, algumas piadas (até politicamente incorretas) são realmente engraçadas. Outras, que abusam da sexualidade (e do indefectível pênis!), são enfadonhas. O uso dos chavões políticos (Família, Jesus e Liberdade, Coluna Vertebral) é hilário. Assim como o adesivo no carro do candidato Cam (um achado!) ou a impagável sequência na Igreja do Avivamento (com suas cobras sagradas).

O elenco de comediantes de Os Candidatos (incluindo: Jason Sudeikis, John Lithgow, Dan Aykroyd ) é muito bom, mas merece uma ressalva: já passou da hora de Galifianakis deixar de lado os trejeitos afeminados, a impressão é que, com ou sem barba, ele está representando sempre o mesmo personagem enrustido. Vale a pena refletir sobre a dica do figurinista Daniel Orlandi sobre a arte de se vestir um político: “Você precisa de um bom terno mas não muito bom. Você não quer que pareça inacessível às massas com que eles estão tentando se identificar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...