Em tempos de eleição e campanhas políticas, sempre regadas a muita baixaria (campanha política e baixaria “são” sinônimos em qualquer lugar), a comédia Os Candidatos pode surpreender e divertir o espectador mais ingênuo. Porém, quem conhece o ambiente fétido e sabe muito bem como funciona a falcatruagem parlamentar, talvez, entre uma indignação e outra, dê boas gargalhas..., mas não muitas.
Os Candidatos (The Campaign, EUA, 2012), dirigido por Jay
Roach, começa com a seguinte advertência: “A
guerra tem regras, briga na lama tem regras. Na política não há regras.” -
Ross Perot, candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988. A sátira
acompanha os bastidores da campanha política de dois candidatos ao Congresso
Norte Americano: Cam Brady (Will Ferrell), um “político
profissional” (machista) e Marty Huggins (Zach Galifianakis), um “inocente” (e afetado) guia turístico. Cam era candidato único a um quarto
mandato, mas após um novo escândalo sexual se viu obrigado a enfrentar nas
urnas um rival excêntrico e despreparado. No entanto ele acredita que, mesmo em
pleno declínio nas pesquisas, é capaz de vencer o delicado concorrente. Cam só não contava com a chegada de Tim Wattley (Dylan McDermott), um agente de campanha contratado para transformar
Marty em um novo homem e ou (ao
menos) em um homem viril. Wattley é
um sujeito que não gosta de perder e, então, aproveita para mudar também a
personalidade da família, da casa e (literalmente) os cães de Marty. Com o picadeiro armado tem início
o show de obscenidades.
Escrito por Chris Henchy e Shawn Harwell, a
comédia tem como alvo a campanha política estadunidense de 2012, mas acaba por
satirizar políticos em todo o mundo. É incômodo (e vergonhoso) se dar conta de
que os absurdos da narrativa são práticas (re)correntes desses “profissionais”
de lábia fácil e discurso vazio. Roach acredita que “...ultimamente a comédia é a resposta certa para a política. Pelo menos
nos dá algo para rir e faz com que a realidade dessa situação seja mais fácil
de engolir, diferente de quando você só assiste aos noticiários, o que pode ser
bem assustador. Olhando algumas das campanhas eleitorais atuais, eu fico na
dúvida se era isto que os fundadores deste país tinham em mente". Já
para Galifianakis: “Acompanhei a política
toda minha vida e ainda me impressiono com a quantidade de manipulação que
ocorre nos bastidores da construção de um político, e como o público pode ser
enganado por isso. Só estamos mostrando, de uma forma divertida e engraçada,
como a salsicha é feita”.
O argumento é interessante, resta saber se a
crítica (em tom de galhofa) consegue tocar e acordar o espectador-eleitor
entorpecido no lado de baixo do Equador. Grande (?) parte da população concorda
que todo político é farinha do mesmo saco, mas será que todo saco (norte ou sul-americano)
resiste à mesma farinha? É bom que se diga que Os Candidatos não tem a mesma força (catártica) do thriller político Tudo Pelo Poder, de
George Clooney (que vai direto ao nervo), mas suas retóricas apresentam alguns
pontos em comum. No entanto, o que mais os diferencia (e os distancia) é o epílogo,
Roach “opta” por um (improvável) final edificante
e moralista..., bem ao gosto de Hollywood. Aqui a arte não imita a vida, sugere
uma saída.
A paródia política de Roach é um filme irregular,
mas acima da média. Na ânsia de dissecar o maior número possível de baixarias
(buscando humor em tudo), acaba pecando pelo excesso de alvos e algumas setas
se perdem no caminho fácil do clichê e da caricatura. Em se tratando de nova comédia
americana, algumas piadas (até politicamente incorretas) são realmente
engraçadas. Outras, que abusam da sexualidade (e do indefectível pênis!), são enfadonhas.
O uso dos chavões políticos (Família, Jesus e Liberdade, Coluna Vertebral) é
hilário. Assim como o adesivo no carro do candidato Cam (um achado!) ou a impagável sequência na Igreja do Avivamento
(com suas cobras sagradas).
O
elenco de comediantes de Os Candidatos (incluindo: Jason Sudeikis, John Lithgow, Dan Aykroyd
) é muito bom, mas merece uma ressalva: já passou da hora de Galifianakis deixar
de lado os trejeitos afeminados, a impressão é que, com ou sem barba, ele está
representando sempre o mesmo personagem enrustido. Vale a pena refletir sobre a
dica do figurinista Daniel Orlandi sobre a arte de se vestir um político: “Você precisa de um bom terno mas não muito
bom. Você não quer que pareça inacessível às massas com que eles estão tentando
se identificar."
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