quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Crítica: As vantagens de ser invisível


Deslumbrante! É a primeira palavra que vem à mente durante e após a sessão do belo drama romântico, às vezes cômico, As vantagens de ser invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012), de Stephen Chbosky. Coisa rara, um diretor (praticamente estreante) realizar um filme tão desconcertante quanto magnífico. É difícil não adjetivar esta obra minimalista que se ocupa da essência e não dos contornos de uma história emocionante sobre a juventude e ou sobre ser jovem (em qualquer época ou lugar).

Narrar com simplicidade, em uma época de cinema prolixo (e descartável!), não é tão simples (ou fácil) quanto parece. Chbosky, que adaptou o próprio livro (The Perks of Being a Wallflower), é direto, dá o seu recado sem recorrer ao clichê baixaria e ou à lição de moral. Entre o cinema da moda (do lucro fácil garantido na escatologia) e o cinema “cabeça”, o diretor apostou na vida inteligente (uma réstia, que seja!) que ainda pulsa no universo adolescente em todo o mundo.


A frase que deu início ao romance e pauta todo o filme é: Nós aceitamos o amor que achamos merecer. A trama gira em torno de Charlie (Logan Lerman), um adolescente estranho até para si mesmo, perseguido por um passado trágico. Enquanto silenciosamente observa o “mundo real” ao seu redor (em busca do seu espaço), ele escreve cartas para um amigo (oculto). É através delas que, aos poucos vamos conhecendo a sua dócil e conturbada personalidade cheia de dores e segredos. Solitário e com dificuldades de relacionamento social, ele encontra nos descolados jovens meio-irmãos Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), e no gentil Sr. Anderson (Paul Rudd), professor de literatura, o apoio necessário para sair do seu incômodo casulo e tentar passar incólume pelo primeiro ano do 2º Grau.

As vantagens de ser invisível passa ao largo de qualquer gratuidade e ou pieguice de divã ao tratar de questões pertinentes ao universo juvenil: suicídio, sexo, drogas, homossexualidade, amor..., autoafirmação. Chbosky não adoça a vida (como ela é!) dos seus personagens, seria trair o bom senso do seu público leitor (e agora) espectador. Também porque, como ele mesmo diz: “Eu estava passando por um período difícil em minha vida pessoal. Mas também tinha chegado a um ponto da vida em que estava pronto para escrever sobre o motivo para que pessoas boas passem por certas coisas ruins, e como a família e os amigos podem nos ajudar a passar por tais coisas. Eu realmente precisava de respostas, e foi como se Charlie me desse um tapinha no ombro e dissesse ‘Estou pronto para contar minha história. Eu não estava tentando agradar ou tocar todo mundo. Estava apenas tentando contar minha própria verdade. Nunca pensei em agradar um público vasto. Contei minha história de forma verdadeira e acho que as pessoas respeitam isso”.


É surpreendente o domínio cinematográfico de Stephen Chbosky que, até então, tinha em seu currículo o roteiro de Rent (2005) e o longa The Four Corners of Nowhere (1995). Traduzir em imagens e diálogos (para o cinema) um livro de cartas de um adolescente (com humor variável) mantendo a coerência e sem ser enfadonho, é realmente um feito notável. É evidente que ele tem a vantagem de ser o roteirista e autor da obra original e sabe exatamente o que merece destaque e o que pode passar batido sem perda de conteúdo. No entanto, de nada adiantaria tanto apuro na criação de personagens tão cativantes sem a excelência do renovado trio protagonista e do ótimo elenco coadjuvante. Aquele fascinante mundo de outras fantasias ficou bem lá trás. Que bom.

Ambientado nos anos 1990, em nenhum momento As Vantagens de ser invisível parece datado. As boas músicas (da trilha) que ilustram deliciosas passagens continuam atuais (ainda tocam no rádio!). São memoráveis as duas arrepiantes sequências com Watson e Lerman (que dispensaram dublês), ao som de Heroes, de David Bowie (e Brian Eno), muito bem captadas pelo fotógrafo britânico Andrew Dunn. Os mais saudosistas vão delirar com as divertidas representações colegiais de The Rocky Horror Picture Show, as seleções musicais em fita cassete e as “festas descoladas” noventistas... Ponto para a direção de arte!

As vantagens de ser invisível é um filme para o espectador que ainda acredita no cinema de qualidade (independente da nacionalidade). Para um público que valoriza o seu dinheiro e gosta de ser surpreendido e não subestimado. Um dos melhores filmes do ano. Imperdível!

Fotos: Divulgação

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