Deslumbrante! É a primeira palavra que vem à
mente durante e após a sessão do belo drama romântico, às vezes cômico, As vantagens de ser invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA,
2012), de Stephen Chbosky. Coisa
rara, um diretor (praticamente estreante) realizar um filme tão desconcertante quanto magnífico. É difícil não adjetivar esta obra minimalista que se ocupa da
essência e não dos contornos de uma história emocionante sobre a juventude e ou
sobre ser jovem (em qualquer época ou lugar).
Narrar com simplicidade, em uma época de cinema
prolixo (e descartável!), não é tão simples (ou fácil) quanto parece. Chbosky,
que adaptou o próprio livro (The Perks of
Being a Wallflower), é direto, dá o seu recado sem recorrer ao clichê baixaria
e ou à lição de moral. Entre o cinema da moda (do lucro fácil garantido na
escatologia) e o cinema “cabeça”, o diretor apostou na vida inteligente (uma
réstia, que seja!) que ainda pulsa no universo adolescente em todo o mundo.
A frase que deu início ao romance e pauta todo o
filme é: Nós aceitamos o amor que achamos
merecer. A trama gira em torno de Charlie
(Logan Lerman), um adolescente estranho
até para si mesmo, perseguido por um passado trágico. Enquanto silenciosamente
observa o “mundo real” ao seu redor (em busca do seu espaço), ele escreve
cartas para um amigo (oculto). É através delas que, aos poucos vamos conhecendo
a sua dócil e conturbada personalidade cheia de dores e segredos. Solitário e
com dificuldades de relacionamento social, ele encontra nos descolados jovens
meio-irmãos Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), e no gentil Sr. Anderson (Paul Rudd), professor de literatura, o apoio necessário para sair
do seu incômodo casulo e tentar passar incólume pelo primeiro ano do 2º Grau.
As vantagens
de ser invisível passa ao largo de qualquer gratuidade e ou
pieguice de divã ao tratar de questões pertinentes ao universo juvenil: suicídio,
sexo, drogas, homossexualidade, amor..., autoafirmação. Chbosky não adoça a
vida (como ela é!) dos seus personagens, seria trair o bom senso do seu público
leitor (e agora) espectador. Também porque, como ele mesmo diz: “Eu estava passando por um período difícil em
minha vida pessoal. Mas também tinha chegado a um ponto da vida em que estava pronto
para escrever sobre o motivo para que pessoas boas passem por certas coisas
ruins, e como a família e os amigos podem nos ajudar a passar por tais coisas.
Eu realmente precisava de respostas, e foi como se Charlie me desse um tapinha
no ombro e dissesse ‘Estou pronto para contar minha história. Eu não estava
tentando agradar ou tocar todo mundo. Estava apenas tentando contar minha
própria verdade. Nunca pensei em agradar um público vasto. Contei minha
história de forma verdadeira e acho que as pessoas respeitam isso”.
É surpreendente o domínio cinematográfico de Stephen
Chbosky que, até então, tinha em seu currículo o roteiro de Rent (2005) e o longa The Four Corners of Nowhere (1995). Traduzir
em imagens e diálogos (para o cinema) um livro de cartas de um adolescente (com
humor variável) mantendo a coerência e sem ser enfadonho, é realmente um feito
notável. É evidente que ele tem a vantagem de ser o roteirista e autor da obra
original e sabe exatamente o que merece destaque e o que pode passar batido sem
perda de conteúdo. No entanto, de nada adiantaria tanto apuro na criação de
personagens tão cativantes sem a excelência do renovado trio protagonista e do
ótimo elenco coadjuvante. Aquele fascinante mundo de outras fantasias ficou bem
lá trás. Que bom.
Ambientado nos anos 1990, em nenhum momento As Vantagens de ser invisível parece datado.
As boas músicas (da trilha) que ilustram deliciosas passagens continuam atuais
(ainda tocam no rádio!). São memoráveis as duas arrepiantes sequências com Watson
e Lerman (que dispensaram dublês), ao som de Heroes, de David Bowie (e Brian Eno), muito bem captadas pelo fotógrafo
britânico Andrew Dunn. Os mais saudosistas vão delirar com as divertidas representações
colegiais de The Rocky Horror Picture
Show, as seleções musicais em fita cassete e as “festas descoladas”
noventistas... Ponto para a direção de arte!
As vantagens
de ser invisível é um filme para o espectador que ainda acredita
no cinema de qualidade (independente da nacionalidade). Para um público que
valoriza o seu dinheiro e gosta de ser surpreendido e não subestimado. Um dos melhores
filmes do ano. Imperdível!
Fotos: Divulgação
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