Há um grande número de filmes tematizando algum tipo
de vírus terrestre e ou alienígena. No vale-tudo do cinema sempre há alguém
querendo contar (mais) uma história com alguma variação de humor e ou de
terror. Se o agente infeccioso não está transformando cidadãos (de bem e de
mal) em zumbis, está matando indiscriminadamente e criando a maior paranoia em uma
e ou em outra situação. Aí, o medo acaba fazendo mais estragos que o próprio
vírus, quer seja ele de origem animal, laboratorial, militar, alien e até mesmo
digital.
Ficção literária ou cinematográfica (científica ou
não) à parte, a verdade é que, na vida real, à simples menção de algum vírus, o
pandemônio é geral. Em 2011 a bactéria E.coli (Escherichia coli) causou
estragos comerciais na “União” Europeia e até mudou hábitos alimentares, em
2009 quem apavorou foi a Gripe Suína e em 2004/2005 a Influenza Aviária foi a gripe
da vez. Ah, por falar em literatura, vale lembrar que o médico e escritor Robin
Cook é um autor de best sellers (Contágio,
Vírus, Febre, Coma) que explora
as mais diversas doenças, num clima que mistura ciência medicinal, ética e um
bocado de fantasia, para a felicidade dos seus leitores (não necessariamente
hipocondríacos) chegados em histórias hospitalares de suspense. Algumas já
foram adaptadas para o cinema e televisão.
Contágio (Contagion,
EUA, 2011), de Steven
Soderbergh, é um filme que, a despeito do tema central (vírus
avassalador), se atém à fragilidade do ser humano. Baseado no roteiro de Scott
Z. Burns, o drama de suspense não tem exatamente (e ou apenas) uma história. A trama começa com retorno da executiva Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow), para Minneapolis, após viagem de negócios a Hong
Kong. Dois dias depois ela e seu filho morrem sem que se saiba a causa
mortis. Ao mesmo tempo surgem notícias de outras mortes idênticas em Tóquio,
Chicago, Londres, Paris e Hong Kong. A classe médica acredita que o responsável
por tantos óbitos é um vírus desconhecido e inicia-se, então, uma corrida para encontrar
a cura.
Contágio
traz um elenco estelar em uma narrativa repleta de
personagens protagonistas (cada um aproveitando muito bem seus “15” minutos): Laurence Fishburne é o Dr. Ellis Cheever, o Vice-Diretor do
CDC, responsável pela coordenação das pesquisas sobre o vírus; Kate Winslet, no corpo e alma da Dra. Erin Mears, é uma médica que
trabalha junto aos infectados; Marion
Cotillard, na pele da Dra. Leonora
Orantes, é a pesquisadora da OMS que investiga a origem do vírus; Jude Law é o inquieto jornalista
blogueiro Alan Krumwiede que, na
busca da (sua) verdade e na publicação de matérias alarmantes, cria muita
confusão entre os seus seguidores, o governo e a classe científica; Matt Damon é Mitch Emhoff, marido de Beth,
a primeira vítima conhecida. O curioso é que nenhum personagem se destaca
mais que o outro. Alguns entram e saem (até desaparecem) da trama sem maiores
explicações. Assim, como se fosse coisa natural.
No mundo cinematográfico o inimigo
da hora é a China, com ou sem metáfora. O tema, sem dúvida, é sensacionalista
e Soderbergh procura evitar os clichês
espetaculosos do gênero. Porém, sempre um ou outro acaba deslizando para dentro
do enredo, como a abnegação dos dedicados pesquisadores médicos (no Dia de Ação
de Graças, Natal, Ano Novo), ou o bom pai que se sacrifica pela filha e ou
ainda a desprotegida mulher amada... Nem por isso o filme fica menos frio ou menos
intenso em sua narrativa. Excetuando o gentil Mitch e o falastrão Krumwiede, que dão uma certa humanidade
à história, os outros personagens, com suas (até instrutivas) falas científicas
(“Não converse
com ninguém. Não toque em ninguém. Fique longe das pessoas. Não toque o rosto.
Lave as Mãos.”) não causam qualquer empatia.
Parecem estar além do próprio umbigo.
Contágio é
uma ficção possível e (sendo americana) com um enaltecedor final provável. Em meio ao caos gerado pela pandemia há uma rápida “intriga”
sobre quem ganha (indústria farmacêutica) com a desgraça alheia e ou tem o
privilégio (americano) de encontrar e usufruir da vacina salvadora, e o dia a
dia do cidadão comum que, pela incerteza da informação que recebe, entra em
pânico, motivando uma reação em cadeia. Nada de novo, é verdade, a não ser a
linguagem que apresenta vários pontos
de vista sobre o mesmo assunto (vírus: origem e consequência). Em sua
fragmentação há, também, uma história de amor (e apego) à vida e outra de
selvageria, quando, na iminência da morte, o homem comum (ou
instruído) justifica o seu egoísmo (e egocentrismo) em gestos que podem
comprometer a sobrevivência de todos. A edição soderberghiana lhe dá um ritmo especial
e só no final o espectador vai entender a contagem dos dias (na tela) e o que
ocasionou o vírus. Não deixa de ser (mais) um filme-alerta que, em seu momento de
medicina preventiva, (re)ensina ao público as noções básicas de higiene dentro
e fora de casa.
Este, evidentemente,
não é um programa indicado aos apreciadores das divertidas obras trash do
catastrofista Roland Emmerich, mas pode
agradar e até surpreender quem sempre se preocupa com um segundo diagnóstico,
digo, opinião sobre vírus.
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