quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Crítica: Bravura Indômita


por Joba Tridente

Os irmãos Ethan e Joel Cohen são um capítulo à parte na História do Cinema. Mestres incomparáveis do humor negro (e outras bizarrices) são únicos no estilo que os consagraram. Todas as suas histórias começam com uma “bobagem” qualquer, na vida de um personagem e, sem que nem mais porque, o que parecia insignificante cresce feito uma bola de neve, rolando e derrubando tudo à frente, até um grande (e “explosivo”) final. O primeiro filme deles, Gosto de Sangue (Blood Simple, 1984), já diz a que vieram. Possivelmente o único diretor que me lembro ter chegado mais perto, com uma inesquecível história, foi Martin Scorsese e o seu inspiradíssimo Depois de Horas (After Hours, de 1985), com roteiro de Joseph Minion.

Bravura Indômita (True Grit, EUA, 2010) narra a saga da jovem adolescente Mattie Ross (Hailee Steinfeld), em busca de justiça pelo brutal assassinato do seu pai. Para caçar o criminoso Tom Chaney (Josh Brolin), ela contrata o velho e beberrão xerife Rooster Gogburn (Jeff Bridges), e acaba “ganhando” a ocasional companhia de LaBouef (Matt Damon), um policial texano dândi que está procurando o mesmo bandido, por um outro crime e melhor recompensa. Três personagens com idades e intenções diferentes, cada um bravo à sua maneira, mas que só terão sucesso se apararem os “topetes” e deixarem a vaidade de lado.

Baseado na série literária True Grit, de Charles Portis, publicada em 1968, no Saturday Evening Post, o Bravura Indômita, dos Cohen, não se propõe a uma refilmagem do clássico de Henry Hathaway, de 1969, com o mítico John Wayne no papel de Rooster Cogburn, agora de Jeff Bridges. Originais, eles não deixam a câmera cair ao contar (assim é se lhes parece) a história de Portis e não a de Hathaway. Tem muita gente que vê metáforas aqui e acolá nas duas versões. Eu vejo apenas uma ótima história de faroeste, com uma belíssima fotografia de Roger Deakins e emocionante trilha sonora de Carter Burwell. Só por estes dois detalhes já valeria ver tamanha bravura.

Apesar dos resquícios de Bad Blake, o um decadente compositor e cantor country de Coração Louco (Crazy Heart, 2009), incomodar em alguns momentos, Bridges dá conta do recado, assim como Matt Damon. A boa surpresa fica por conta da expressiva estreante Hailee Steinfeld, que se sai divinamente no papel da jovem teimosa e decidida que sabe usar a força da persuasão como ninguém ou, no mínimo, feito um “bom” advogado. Nas locações belíssimas na sua aridez gelada o ótimo roteiro, dos próprios Cohen, flui tranquilo, recheado de bons diálogos e causos divertidos ou melancólicos, contados ao relento, em volta da fogueira, ou pra passar o tempo nas longas caminhadas. É um filme onde os personagens falam muito, atiram um bocado menos, mas com a mesma precisão. São impulsivos, preconceituosos, falastrões, mas confiáveis e capazes até de demonstrar algum sentimento. O mais notável é que, mesmo sendo de outro universo, esta obra tem a cara dos Cohen.

2 comentários:

  1. Este filme dos irmãos Coen é mais fiel ao livro pelo final que em 1969 fizeram um final como quê de encomenda para Jonh Wayne. Porém os irmãos Coen usam no roteiro várias soluções que a roterista do primeiro filme Marguerite Roberts usou. Se os roteiros fossem para uma arbitragem do sindicato ela ia ganhar um crédito ali com certeza absoluta. Esta "atualização" é "melhor" pelo respeito ao final do livro, principalmente por podermos ouvir a voz da personagem principal que narra o filme assim como narra o livro.

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  2. Olá, Antunes.
    Quando lê um livro a ser (re)adaptado
    o diretor e ou roteirista pensa na coerência com a obra ou com o mercado.

    Não deixe de ver Rango.

    Abs.

    T+
    Joba

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