quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Crítica: O Impossível



Final de ano sem um inspirador melodrama cinematográfico (edificante), baseado em fatos reais (sempre) envolvendo estadunidenses superando (seus) limites físicos e mentais, a serviço da união e do amor em família..., não é fim de ano hollywoodiano. Mas, será que nessa Árvore de Natal, enfeitada com lágrimas brilhantes, corações abertos e risos de satisfação, há espaço para um enfeite estrangeiro, digamos, espanhol?

Parece que sim! Apostando na emoção sem limites, estreia O Impossível (Lo imposible, Espanha, 2012), filme-catástrofe hiper-realista, dirigido por Juan Antonio Bayona (O Orfanato), que tem como pano de fundo o tsunami que devastou a costa asiática no dia 26 de dezembro de 2004. Baseado na história real da família espanhola Belón, que virou a britânica Bennet (marketing?)..., o drama acompanha os dias de terror vividos pelo casal Maria (Naomi Watts) e Henry Bennet (Ewan McGregor), e seus três filhos: Lucas (Tom Holland), de doze anos, Thomas (Samuel Joslin) de sete e Simon (Oaklee Pendergast) de cinco, que passavam férias em Khao Lak e foram gravemente feridos e separados pelo acidente natural que atingiu a paradisíaca Tailândia.


O roteiro de Sergio G. Sánchez é seco, sem subtramas, vai direto ao nervo para contar a luta pela sobrevivência e reunião dessa família vitimada pelo devastador tsunami, que deixou cerca de 300 mil mortos. Uma família comum (entre muitas) que, durante o sinistro, não se distinguia muito de qualquer outra (local ou turista) sobrevivente, mas que protagonizou uma história “tão inacreditável que a gente não acredita” ser possível. O elenco se entrega com paixão (e dor!) aos seus papéis. Falar o quê da excelência de Watts e McGregor? É mais fácil elogiar a ótima estreia do expressivo Tom Holland e o cativante trabalho dos pequenos Samuel e Oaklee, que, com a naturalidade de qualquer criança, põe a reboque os grandes.

Bayona é preciso na direção de atores e de ação. A impressão é a de que, em se tratando de efeitos e cenografia, evita o exagero..., lhe interessa o essencial, o natural. Aí, o menos se torna muito mais e o que se vê na tela é apenas o que a vista alcança na vida real. O tsunami dura aproximadamente 10 minutos, mas o realismo das imagens é tão intenso e apavorante que parece infindável. Não há exploração gratuita do sofrimento dos sobreviventes desnorteados, apenas o seu registro. Nem mesmo a catástrofe vira espetáculo. Algumas das cenas mais aflitivas, vividas por Maria (Watts) e Lucas (Holland), são de uma delicadeza arrebatadora.


O Impossível não é totalmente isento de clichê. Tem uns dois sutis (válvula de escape?) dispensáveis e uma sequência inicial, no mínimo, estranha (ou fora de contexto!) em que o mar é mostrado como uma entidade maligna (?) à espreita dos incautos turistas na praia, na iminência do seu ataque. Realmente não consegui entender a “metáfora” do “mar monstro”, segundo o diretor e o roteirista. A exagerada trilha chorosa, digo, sonora, de Fernando Velázquez, irrita (!) nos momentos “chora coração!”.

Quem assistiu a docs e ou telefilmes na época, ou mesmo posteriormente, no cinema, ao Além da Vida (2011), de Clint Eastwood e ou o sul-coreano Tsunami, A Fúria do Oceano (2009), vai encontrar alguns pontos em comum, principalmente na reconstituição da avassaladora onda de 98 metros de altura. O bilhete deixado pela mulher de um sobrevivente, inclusive, apareceu em muitos telejornais, emocionando telespectadores em todo o mundo. Todavia, essas observações (muito pessoais) não chegam a sequer arranhar esta produção espanhola com padrão comparável ao melhor do gênero americano.  


O Impossível é visceral e não recomendado para quem tem estômago delicado e ou para quem gosta de se empanturrar de pipoca e refri. A narrativa é incômoda (ferimentos expostos, precariedade hospitalar) e, cá pra nós, é preciso ser muito sádico (ou estar faminto) para apreciar um lanchinho diante da desgraceira generalizada que se vê na telona. Enfim, cada um sabe do seu estômago. Ah, é aconselhável não esquecer o lenço (mesmo de papel). Nunca se sabe se vai ser útil para as lágrimas e ou...

4 comentários:

  1. Salve, Joba!!! Há quanto tempo!!! Sumi mesmo, admito, mas a culpa não é minha, mas da #@$% do meu facebook... Preciso me atualizar, tanto no seu blog quanto no cinema propriamente... Recentmeente só vi A origem dos guardiões... Mas tenho uma boa notícia! Saiu, há pouco tempo, um livro organizado por mim (um projeto iniciado há uns quatro ou cinco anos!) sobre "cinema radical". Meu texto é sobre Anticristo do "von" Trier, mas a coletânea vai de Citizen Kane a Pink Flamingos... Dê uma olhada no release: http://www.nankin.com.br/imprensa/Releases/Release-industria-radical.htm Enfim, quero lhe enviar um exemplar, e se você achar que vale a pena faz uma propagandazinha aí no blog, pode ser? Além disso, não é impossível que o projeto tenha continuidade, e nesse caso você estará convidadíssimo... Mas isso, como diz o Machado, são cousas futuras... No mais, feliz ano novo, meu amigo! Ao longo deste, foi um grande prazer trocar ideias e ideais contigo! Muita força, paz e saúde!

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    1. Olá, Ravel.
      Parabéns pelo lançamento do livro Indústria Radical.
      Estou postando o release e também vou enviar para o Almanakito
      da Maria do Rosário Caetano, crítica, ensaísta, pesquisadora de cinema no Brasil e no mundo. No Brasil, creio, é a mais importante. O Almanakito é enviado (digitalmente) para todos os cineastas, críticos etc do Brasil e do mundo.

      Gostaria que enviasse um exemplar para ela.

      Entro em contato contigo (via email) depois.

      Abração!

      T+

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  2. No mais, seu texto me deu vontade de ver esse filme... Esse e o do Pi. Ainda quero escrever sobre filmes de náufragos...

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    1. O que Impossível tem de tenso Pi tem de leve.
      Pi é excepcional!

      Abração!

      T+

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