NONA: SE ME
MOLHAM, EU OS QUEIMO
por Joba Tridente
Para alguns, a vingança (principalmente amorosa) é um tira-gosto que se come frio. Para outros, a vingança é um petisco que se saboreia quente, flamejante. No cinema não há uma idade e ou um método específico para que um personagem se vingue de alguém que lhe tenha feito mal e ou lhe tenha trazido algum tipo de aborrecimento. As pessoas se vingam por picuinhas, ciúmes amorosos ou profissionais e até por questões imperdoáveis. No cinema (que, às vezes imita a vida que, às vezes, imita o cinema) tudo é possível na inspiração e na sugestão de vingança. Humor negro, comédia rasgada, drama, thriller, fantasia infantojuvenil..., ela está lá à espera da faísca.
Ultimamente tenho visto que mais e mais cineastas se “inspiram” em alguma passagem das suas vidas em família para realizar um filme. Pelo jeito, sai bem mais barato pegar algum fato familiar (que pareça agradável) e “roteirizar” do que criar um roteiro autoral e ou pagar Direitos Autorais para adaptar uma obra literária de qualidade. Parece que estamos vivendo um tempo de “cinebiografias” domésticas. Via das facilidades íntimas à parte, nem tudo que é memorabilia resulta em obras razoáveis. Muitas deveriam continuar esquecidas no álbum de fotografias e em velhas fitas de vídeo numa caixa no sótão.
Ora, se o trecho da trama dedicado aos vingadores Nona (avó da diretora) e Pedro é o que há de melhor e de mais original no roteiro, não dá para entender o descaso. Se ele é o ponto de desenvolvimento do argumento, é uma pena que, no roteiro, as três sequências não passem de um fiapo de estopa para pavio de coquetel molotov. Se estendido, certamente o episódio, contando todo o imbróglio envolvendo o casal, faria de Nona: Se me molham, eu os queimo um filme hilário, de humor negro, completamente absurdo. Mas, relegado a um segundo plano, para abrir metragem para a colagem de filmetes pessoais (bacaninhas apenas para a família e não para estranhos), o fato perde a graça. Também porque o espectador não tem a menor ideia do que está acontecendo quando o fato de fato acontece. As aparências enganam.
NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida
experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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