sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba


OLHAR DE CINEMA

Festival Internacional de Curitiba

 Com a onda mortal do coronavírus, o melhor jeito que os artistas, os produtores e os espectadores encontraram para usufruir do que há de melhor da cultura teatral, musical, literária, cinematográfica, é surfando na internet. Assim, nada mais “natural” que os Festivais de Cinema migrarem temporariamente (?) para as web-plataformas (de streaming). E se faz necessário alardear: com muito sucesso, já que alcançaram um público online muito maior que o presencial. É claro que o custo zero para os web-espectadores ajudou em muito..., inclusive nos debates ao vivo (as tais lives). É óbvio que, em tempos de distanciamento social, o charme e o glamour, o corpo a corpo do público nas concorridas sessões e nas conversas pós-filmes têm sabor bem diferente (insosso para alguns)..., mas, quem se preocupa com esse detalhe diante do bem-estar de todos? Assim, nada mais natural que também o Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba faça uso da plataforma de streaming, que parece ter vindo para ficar como alternativa e ou mesmo via dupla dos Festivais e Mostras Cinematográficas no Brasil.

Para os diretores do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, Antônio Junior e Eugenia Castello, esta nona edição, que acontecerá de 07 a 15 de outubro de 2020, pode ter mudado a forma de exibição, mas não a qualidade do conteúdo dividido em Mostra Competitiva, Novos Olhares, Outros Olhares, Olhares Brasil, Exibições Especiais e Mirada Paranaense. Antônio destaca: “Claro que não estar na sala de cinema gera uma relação completamente diferente, mas é possível participar do festival, e estamos tentando transpor para esse universo online diversas das atividades presenciais que a gente tinha. O festival mudou pouco, as mostras quase todas continuam intactas e com a sua quantidade de filmes. Vamos fazer alguns ajustes em uma ou outra, cortar algumas que não fazem sentido no online, mas as outras atividades paralelas: oficinas, seminários e Curitiba_Lab estão todas mantidas.” E Eugenia reforça: “Entendemos que é uma edição excepcional e tanto nós como o público estaremos vivenciando um Olhar de Cinema como nunca vimos antes, mas com o mesmo cuidado com a seleção, filmes, público e convidados. Se por um lado a gente pensa num aspecto negativo, de não poder ter algo tão característico do Olhar, que são os encontros presenciais, o público e as salas lotadas; por outro, agora a gente tem a oportunidade de ser conhecido pelo Brasil inteiro”.

O Olhar de Cinema é um festival que vem se firmando nacional e internacionalmente por destacar o cinema independente realizado em todo o mundo. O propósito é apresentar ao público estéticas inventivas, envolventes e com comprometimento temático, que abrange desde a abordagem de inquietações contemporâneas acerca do micro universo cotidiano de relacionamentos, até interpretações e posicionamentos sobre política e economia mundial. Filmes que se arriscam em novas formas de linguagem cinematográfica, que estão abertos ao experimentalismo e que, ainda assim, possuem um grande potencial de comunicação com o público.

  


Olhares Brasil

Entre os títulos estão longas e curtas-metragens que compõem um recorte da nova e mais ousada cinematografia brasileira. A diversidade de olhares e narrativas é o ponto de maior destaque da mostra, que traz a co-produção Brasil/Portugal/Moçambique Um Animal Amarelo, nova fábula visual de Felipe Bragança, exibido no começo do ano no Festival de Roterdã. A seleção conta também com o vencedor do prêmio do júri na 23ª Mostra de Tiradentes Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus Bairros, e ainda da mostra mineira, o longa Cabeça de Nêgo, que cria uma narrativa que tem como base ideais do Panteras Negras.

Outro destaque é o documentário Fakir, assinado por Helena Ignez. O filme tem despertado as mais diversas sensações por onde passa. Foi exibido no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no XV Panorama Coisa de Cinema e forumdoc.bh, além de outros festivais brasileiros e internacionais. O veterano Geraldo Sarno também tem filme na seleção. O diretor de Viramundo (1965) apresenta no Olhar de Cinema seu último filme, Sertânia, uma revisita modernizada ao sertão, ao cangaço e ao cinema novo. A ancestralidade é o tema dos dois títulos que completam a mostra: Cavalo, de Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti e Yãmĩyhex: as mulheres-espírito, da Associação Filmes de Quintal. Enquanto este se volta para o resgate da mitologia e tradição indígena, aquele traz a dança para falar das marcas do passado.

A seleção de curtas também está bem atenta às temáticas atuais. Negritude, lesbiandade e anscestralidade se fazem presentes nos curtas Enraizadas, de Juliana Nascimento e Gabriele Roza; Minha História É Outra, de Mariana Campos; Mãtãnãg, a Encantada, de Shawari Maxacali e Charles Bicalho; A Morte Branca do Feiticeiro Negro, de Rodrigo Ribeiro; e O verbo se fez carne, de Ziel Karapotó. A distopias também não ficaram de fora. Conversando com os dias atuais, está o curta Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho, e Os Últimos Românticos do Mundo, de Henrique Arruda, que faz uma ponte entre o futuro pré-apocalíptico e o desconhecido, exibido no 17º IndieLisboa.

 


Mirada Paranaense

Nesta 9ª edição do evento, onze títulos integrarão a mostra local. Entre eles está o longa-metragem documental A Alma do Gesto, de Eduardo Baggio e Juslaine Abreu-Nogueira, que explora a criação artística e a construção imagética de outra arte que não o cinema. A arte também é o tema de Exumação da Arte, curta-metragem de Maurício Ramos Marques. Outros 9 curtas integram a seleção, que destaca o racismo e a negritude como um de seus temas. Exibido na 23ª Mostra de Tiradentes, E no rumo do meu sangue, de Gabriel Borges, reorganiza imagens para construir uma nova narrativa. O documentário Meia Lua Falciforme, de Dê Kelm e Débora Evellyn Olimpio, fala sobre a Doença Falciforme, que afeta principalmente a população afrodescendente. 

A mostra traz também a história de Enedina Alves Marques, a primeira mulher negra a se formar engenheira no Brasil, no curta Além de Tudo, Ela, de Pedro Vigeta Lopes, Pâmela Regina Kath, Mickaelle Lima Souza, Lívia Zanuni. Em linguagem experimental, Cor de Pele, de Larissa Barbosa, questiona as opressões sofridas pelas mulheres negras. Outro retrato do preconceito da sociedade está no curta de documentário Seremos Ouvidas, de Larissa Nepomuceno, que investiga o movimento feminista surdo. As mulheres, em diferentes fases da vida, também são o foco dos curtas Aonde Vão os Pés, de Débora Zanatta, e A Mulher Que Sou, de Nathália Tereza, este, premiado no último festival de Gramado, com o Kikito de melhor atriz para Cassia Damasceno. Completam a seleção a única animação da mostra, Napo, curta afetivo de Gustavo Ribeiro sobre memória, e Cancha - Domingo é dia de jogo, de Welyton Crestani, sobre o poder do futebol de várzea em Vila Verde.

 

Mostra Competitiva

Fazem parte da seleção de longas-metragens os brasileiros inéditos O Índio Cor de Rosa, de Tiago Almeida, e A Flecha e a Farda, de Miguel Antunes Ramos, além de O Reflexo do Lago, que esteve na seleção Festival de Berlim; o indiano Crônica do Espaço, de Akshay Indikar, a co-produção França, Bélgica e Burkina Faso, Traverser (Após a Travessia), dirigido por Joël Akafou; e o argentino Responsabilidade Empresarial, de Jonathan Perel. Do FIDMarseille chega a co-produção Eslovênia e República Tcheca, Oroslan, de Matjaz Ivanisin; do NY Film Festival vem Trouble, uma co-produção entre Estados Unidos e Reino Unido, dirigida por Mariah Garnett, e o longa chileno Visão Noturna, dirigido por Carolina Moscoso Briceño.

 


Programação

O escolhido para abrir a 9ª edição do Olhar de Cinema é o filme  brasileiro Para Onde Voam as Feiticeiras, de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral, que une encenações e improvisos de sete artistas de rua de São Paulo, expondo a permanência de antigos preconceitos de gênero e raça. O longa foi selecionado para o Cinelatino Rencontres de Toulouse, mas não chegou a ser exibido por causa da pandemia de Covid-19. 

Os filmes serão exibidos, de 07 a 15 de outubro de 2020, no próprio site do Olhar de Cinema. Cada título estará disponível até às 23h59 da data divulgada na programação. A venda de ingressos (R$ 5,00 por filme) para todas as sessões começa no dia 23 de setembro e o número de ingressos limitado. Confira abaixo a programação, conforme material divulgado pelos realizadores.

  

Confira a programação completa no site do festival:

9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba


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