quinta-feira, 14 de março de 2019

Crítica: O Parque dos Sonhos


O Parque dos Sonhos
por Joba Tridente

Dar asas à imaginação..., para que ela voe livre e encontre espaços vagos na memória, onde possa criar mundos infinitos ou diversões únicas! Será que nos dias de hoje, com o advento da internet e do celular, até mesmo quem é filho do interior se dá ao luxo de inventar e reinventar e reciclar brinquedos e ou material descartado sonhando mundos outros? Ou, massificado, fica mesmo com o que está pronto e quando este quebrar joga no lixo? Questiono porque sei, por experiência própria, que não é fácil trabalhar atividades lúdicas com crianças viciadas em jogos eletrônicos (games).


O parágrafo acima pode ser um razoável argumento para a ótima animação O Parque dos Sonhos, cuja trama acompanha as aventuras da criativa jovem June, de 12 anos, pelo mundo da imaginação. Desde a tenra infância June leva uma vida feliz na companhia dos participativos pais, dividindo momentos encantadores, especialmente com a mãe, na construção de um impressionante parque de diversões em miniatura que é cuidado por um chimpanzé (Peanut), uma javali (Greta), dois castores (Gus e Cooper), um porco espinho (Steve) e um urso (Boomer). Porém, quando sua mãe precisa se ausentar para um longo tratamento de saúde, a garota, em fase de crescimento, vai perdendo o ânimo em continuar sozinha com a inventiva brincadeira..., sem saber que a sua decisão pode causar a maior confusão num Parque dos Sonhos (semelhante ao seu) que existe em algum lugar paralelo da sua imaginação...


Embora traga algum resquício da melancolia e do caos presentes em Divertida Mente (2015) e História Sem Fim (1984), já que também trata da insegurança de uma criança que, diante de fatos que não compreende (como a doença da mãe) e temendo pelo pior, não consegue reagir à tristeza e à raiva, para continuar sozinha um jogo tão divertido (a dois)..., a animação O Parque dos Sonhos (Wonder Park, 2019), dirigida por David Feiss e roteirizada por Josh Appelbaum e André Nemec, tem história e dinâmica próprias. A começar pela bela cenografia que, com excelente 3D de profundidade, convida o espectador a mergulhar num universo maravilhoso e acompanhar (em linguagem acessível a qualquer público) os percalços de June para botar ordem nos seus dois mundos, o físico e o da imaginação, e ainda resolver a carência do afeto materno.


O que mais chama a atenção em O Parque dos Sonhos é que não há uma só criança do bairro de June conectada, feito um zumbi, a um computador e ou a um celular. A garotada é esperta, ativa e cria suas brincadeiras malucas (que deixam os pais de cabelo em pé!) como a maioria das crianças de antigamente criava, usando o que encontrasse jogado fora pelo caminho ou na vizinhança. Uma delícia! Espero que sirva de estímulo para a criançada do mundo real! Se ao menos ajudar a desconectá-la por um tempo, já terá valido o esforço.

No entanto, não creio que a maioria dos pais de hoje (cansados e sem imaginação) permitiriam que seus filhos (dependentes de brinquedos prontos) se “arriscassem” tanto nas brincadeiras de ruas e quintais, por um momento inesquecível de felicidade, como as que se vê (com algum desconto) na tela..., independente de não existirem mais quintais. Na trama de espírito juvenil, a construção da montanha russa artesanal, com seu hilário resultado cartum, é genial! Perigosa? Talvez! Mas é convidativa! E é o que importa nessa idealização retrô que pode despertar a curiosidade de qualquer jovem espectador inteligente para outras traquinagens infantojuvenis..., digamos, mais seguras (risos). Ou até provocar nele uma invejazinha das animadas crianças do “faz de conta”...


Muitos pontos se destacam na narrativa fluída, como a técnica irretocável (ainda que, desde o nascimento da animação digital (CGI),  a eterna vesguice dos personagens, que nunca entendi a razão, me incomode); as texturas e a harmonia das cores; o desenho e a personalidade de cada personagem humano ou animal. Toda via da viagem no tempo, porém, enquanto adulto saudoso, vale ressaltar a forma inteligente, muito bem arquitetada, que o enredo “encontrou” de convidar o espectador infantojuvenil sedentário a dar asas à imaginação (desde que seus pais sejam também parceiros de construção, é claro!), como eu fazia quando criança de interior e, evidentemente, sem me dar conta do futuro tecnológico à minha espera. Nota: não sou um zumbilular, já que não uso celular!


Enfim, com seu humor discreto; as boas gags; sem mensagens piegas e ou lição de moral; criança agindo como criança, sem medo de ser feliz e ou sem reprimir a tristeza e a angústia diante das adversidades (ainda desconhecidas) da vida; roteiro redondinho e perspicaz e, portanto, sem subestimar o público; sem musiquinha chatinha a cada cinco minutos..., O Parque dos Sonhos é uma ótima pedida de filme para toda a família. Ah, mas pra curtir para valer esta bonita e surpreendente animação, os adultos não devem esquecer, em algum canto da casa ou apartamento, a sua eterna criança...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

4 comentários:

  1. Excelente publicação com as fotos e comentários

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ..., grato, Marina Seischi. ..., volte pra dizer se concorda com as minhas considerações. ..., grande abraço!

      Excluir
    2. Achei ótima .
      Vamos combinar que quando eu não gostar eu escrevo .Adoro uma boa "discussão."
      Gosto de ler porque me lembro do filme e percebo que não prestei atenção em certos detalhes.

      Excluir
    3. ..., combinadíssimo!!! ..., bom final de sema!!!

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...