Homem-Aranha no Aranhaverso
por Joba Tridente
Demais!
Demais! Demais! Q+!..., é o mínimo que se pode dizer do novíssimo filme do Homem Aranha, que chega aos cinemas num
formato de animação que une arte tradicional em 2D, 3D, anime, mangá e cartum. Assistir
ao inovador Homem-Aranha no Aranhaverso
é uma experiência muito próxima a de se ler um gibi gigantesco transbordando
criatividade narrativa e gráfica.
Confesso
que, embora tenha tido uma considerável coleção de gibis (ou por isso), sou um
tanto tradicional e torço o nariz para as invencionices que mudam origens, universos,
cor, sexo, orientação sexual de heróis e de super-heróis..., só para se encaixar
(?) no politicamente correto e ou (mais provável) conquistar novos leitores. Ou
ainda por qualquer outra (?) razão. Das HQs do Homem-Aranha acompanhei até o uniforme negro. Ouvi falar do Miles Morales, o afro-americano que iria
substituí-lo e não tive a menor curiosidade em conhecê-lo. Agora, vendo a sua
história na telona, mordo a língua. O Miles
Morales é nada menos que espetacular...
Homem-Aranha no Aranhaverso tem um roteiro simples, mas jamais
(mesmo!) tedioso. A trama envolvente, fazendo jus às histórias (cinematográficas)
de origem, lança seus fios grudentos já na apresentação do simpático adolescente
Miles Morales (Shameik Moore), pouco feliz com a transferência para a Brooklyn Visions Academy (escola para
quem tem Q.I bem acima da média). Filho do policial afro-americano Jefferson Davis (Brian Tyree Henry) e da enfermeira porto-riquenha Rio Morales (Luna Lauren Velez), Miles
tem grande afinidade com o ambíguo tio Aaron
(Mahershala Ali), que, além de bom
ouvinte das suas reclamações adolescentes, o apoia e o incentiva nas suas transgressões
grafiteiras.
Já
enredados pelo prólogo, seguimos a rotina do acidente com a aranha radioativa e
os efeitos no corpo frágil do jovem. Daí, quando pensamos saber o que virá, como
as boas ações do “amigo da vizinhança”,
um experimento do obsessivo Wilson Fisk
(Liev Schreiber), o Rei do Crime, abre
um fenda interdimensional por onde “caem”, em Nova York, cinco versões
alternativas de “heróicos espécimes-aranha” de outros universos: o desleixado Peter B. Parker (Jake Johnson); o cartunesco Porco-Aranha
(John Mullaney); o detetive Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), em preto e branco; a adolescente
Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), a Mulher-Aranha;
e a jovem Peni Parker (Kimiko Glenn), de anime..., influenciando
drasticamente a vida de Morales que, mesmo
sem nenhum treinamento adequado, se sentirá obrigado a ir à luta, a pedido do próprio
Homem Aranha (Peter Parker), que pode (nunca se sabe!) estar morto nesse
multiverso. Caberá ao jovem Homem-Aranha
(Morales) enfrentar o Rei do Crime e ajudar aos diferentes Aranhas resolverem a parada do Portal..., se quiserem voltar para suas Nova
York em segurança. Uma tarefa nada fácil. Porém, muito divertida de se acompanhar,
já que cada Aranha tem um tipo de
habilidade e humor peculiar (mesmo involuntário), inclusive o tímido Miles...
Para não me sentir tão leigo diante da “nova” saga do “novo” espetacular Cabeça de Teia, logo após a sessão de cinema pesquisei sobre Miles Morales e achei melhor não me apegar ao que li a respeito da sua mutação, já que, digamos, é (bem) diferente do que se vê na excelente animação. Como gosto de frisar: quadrinhos é uma coisa e cinema, ainda que baseado em quadrinhos, é outra. Toda via da novela gráfica, no entanto, Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018), escrito por Phil Lord (Uma Aventura LEGO) e Rodney Rothman e dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodnei Rothman tem material mais que suficiente para agradar, em cheio, tanto ao espectador-leitor juvenil, que entende as idiossincrasias desses tais multiversos, quanto àquele que sequer sabia da sua existência. Tampouco vai decepcionar quem espera uma adaptação tal e qual a dos gibis. Para que a imersão nas páginas da revista de história em quadrinhos na telona seja ainda mais surpreendente, não assista ao trailer e não queira saber mais do que a sinopse informa. Faça como eu, descubra quem é quem com o próprio Miles Morales.
Não bastasse a história solta e jovial, ao melhor estilo do “amigo da vizinhança”, a animação (de cair o queixo!) impressiona também pela originalidade no uso de recursos técnicos (incluindo a retícula comum na impressão dos gibis), do grafismo e da metalinguagem sem limites. Os personagens são todos carismáticos..., principalmente Morales e suas tiradas irônicas às revistas em quadrinhos do Homem Aranha. A narrativa sempre encontra soluções inteligentes e bem-humoradas para a ação dos heróis contra vilões (também modificados) deste e doutros mundos. Não faltam gags realmente engraçadas e até insanas e pitadas de nostalgia, com mais uma participação pra lá de especial do grande Stan Lee. Ah, por falar em nostalgia, quem tiver um pouco de paciência e esperar até o fim de todos os créditos, irá viajar no tempo e curtir uma sequência (que é uma piada) muito louca e pode sinalizar o próximo capítulo...
Contemporâneo e estiloso, Homem-Aranha no Aranhaverso, com seus cortes, recortes e enquadramentos inusitados que dialogam visualmente com todos os públicos, está sendo considerado por alguns críticos como o melhor filme do Homem-Aranha. A mim, há controvérsia, já que trata-se de uma primeira versão alternativa de Homem-Aranha na pele do jovem Miles Morales..., e não de (mais uma vez) o Homem-Aranha na pele de Peter Parker (que retorna às telonas em 2019 com Homem-Aranha: De Volta ao Lar 2). Pode ser (e é!) um dos melhores filmes de heróis já feitos, mas não o melhor do Homem-Aranha. Nessa estranhíssima linha de tempo nem mesmo a adorável Tia May (Lily Tomlin) é a velha e ingênua Tia May. Pra quem gosta de bola dividida, é um chute que tanto pode acertar a Aranha Viúva-Negra quanto a Aranha Marrom.
Enfim,
a animação, por si só, já é um magnífico espetáculo gráfico. O seu enredo espirituoso
emociona, faz rir (quase gargalhar) e refletir sobre perdas, coragem e deveres,
sem ser melodramático. Um excelente passatempo que deve dar ainda pano pra muitas páginas,
digo, mangas. Este personagem e seus coadjuvantes multiculturais prometem...
*Joba Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm,
realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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