A
MÚMIA
por Joba Tridente*
Conta-se que, lá nos idos de 2014, o Dracula Untold (Drácula: A História
Desconhecida), da Universal, era para ser o prólogo de um novo selo-franquia, o
Dark Universe, dedicado ao resgate de monstros clássicos dos “primórdios” do
cinema e do estúdio. Mas, com o vampiresco fiasco e apostando na memória curta
do espectador, bombardeada por tanto filme-catástrofe de super-herói, a
Universal esperou a poeira baixar para lançar um novo e ambicioso prólogo ao
seu projeto: A Múmia (The Mummy, 2017)..., cuja missão é tirar
dos túmulos de celuloide o Frankenstein,
a Noiva do Frankenstein, o Van Helsing, o Lobisomem, o Homem Invisível,
o Fantasma da Ópera, o Monstro do Pântano...
Como quem assistiu aos trailers (que só vi depois da
sessão especial) já sabe tudo o que vai acontecer no drama de ação e aventura, pois
80% da trama estão lá (em desavergonhado spoiler),
não há muito a dizer sobre a sinopse. Mas, caso saiba nada a respeito: ..., lá
pras bandas do conflituoso Oriente Médio, o corajoso militar e ladrão de
túmulos ou vice-versa Nick Morton (Tom Cruise) e o seu medroso parceiro Chris Vail (Jake Johnson), numa de suas ambiciosas empreitadas, são
surpreendidos pelos terroristas do Estado Islâmico (os inimigos da vez!) e salvos
por um explosivo pelotão do exército inglês, que causa a abertura de uma antiga
tumba. Com a chegada providencial da arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle
Wallis), ficamos sabendo que o mausoléu guarda (ou prende!) a urna com o
corpo da renegada princesa egípcia Ahmanet
(Sofia Boutella), enterrada viva por
cometer crimes hediondos.
Paralelamente, em Londres, operários do metrô
encontram uma imensa sepultura de Cruzados (aqueles truculentos soldados do
exército católico que matavam, escravizavam e roubavam quem não aceitava a
religião do seu deus do amor). O que o túmulo inglês tem a ver com a tumba
egípcia? Pela coincidência (?), tudo! Pela lógica (?), nada! Porém (sem ele não
tem história!), no voo para a capital inglesa, onde o sarcófago será aberto e a
múmia estudada pelo Dr. Henry Jekyll
(Russell Crowe), chefão da
organização secreta Prodigium, um
grave acidente na aeronave desencadeia “estranhos” (e reciclados)
acontecimentos. Aí, está armado o pandemônio (de sempre?), com o desfile de
mortos-vivos e vivos-mortos, monstros, fantasmas etc...
Com seus três “prólogos” de apresentação (Antigo
Egito para a princesa Ahmanet; Oriente
Médio para os ladrões Nick e Chris; Londres para o (médico e
monstro) Dr. Henry Jekill), A Múmia, cuja história foi escrita por
três autores e o roteiro por mais três, é um verdadeiro balaio de ratos
trançado com gaze elástica costurada com finas teias de aranhas. Após os “prólogos”,
a claudicante ação em Londres, se resume nos pífios argumentos do Dr. Henry (sabe-se lá como ainda está
vivo!): “desenterrar o mal para estudar o
mal e (assim) combater o mal”. Entendeu? Não importa, já que nem mesmo a
presença da secular múmia se justifica neste clube de ambiciosos (é claro!)
vilões. Acredite, não há sequer um personagem bom (ou íntegro) nessa história
descerebrada. Todos, além de rasos, são maus. A única coisa que interessa a
cada um deles é a riqueza, o poder. Se for preciso matar (e está na cara que
é!) para dominar o mundo (!), faz parte do pacote “macabro”.
Apesar do que disse acima (e ou por isso) A Múmia, dirigido por Alex Kurtzman, é um filme de terror
infantojuvenil que não assusta nem criança do fundamental. Toda via do barulho
infernal, no entanto, se não estiver com o phone
do smart no ouvido, um jovem pode até
pular da poltrona, com os indefectíveis áudio-sustos explodem tímpanos, que ressuscitam
até mosca morta. Apesar da intenção, A
Múmia não provoca medo algum. As piadas (ou gags) são horríveis. Risível mesmo, só a malfadada tentativa de
parecer trash e ou filme “B”.
Tom Cruise passa praticamente o filme inteiro com
cara de basbaque, olhos estalados, como se não tivesse a menor noção do que
está fazendo em cena. Até aquele meme
do Travolta confuso é mais dramático e emocionante. Já a “arqueóloga” Jenny, de Wallis, parece estar
ali só pra cumprir cota (e ser salva), assim como Brie Larson, a “fotojornalista”
Mason, em Kong - A Ilha da Caveira. Se o insípido Dr. Jekill, de Crowe, não
está claro a que veio..., é melhor você concluir por conta própria a “importância”
do bobalhão Vail, de Johnson. O filme
só não é um desastre total porque tem uma ou duas sequências razoáveis. Se bem
que a do avião “gravidade zero” parece sobra de Missão Impossível. Por que só umas duas? Ora, porque a maioria vai lhe
parecer já vista em alguma sala de cinema, na tv e ou na telinha do seu pc.
Enfim, considerando que A Múmia não vai muito além de vitrine para o vaidoso ator e dublê Cruise
mostrar a sua invejável forma física de atleta; que a melhor performance (e personagem!)
é a de Sofia Boutella (Ahmanet); que
nem só de boas intenções se faz um filme original (com velhos personagens) de
terror ou suspense; que fazer humor não é contar piada chula (de orgasmo de 15
segundos) ou múmia falar inglês “porque é
uma língua de fácil domínio”; que seria interessante saber a opinião Robert
Louis Stevenson (1850-1894) sobre a “imortalidade” de seu personagem Dr. Henry Jekill (Será que o Victor Frankenstein tem algo a ver com
isso?); que os diálogos são um horror (ôps!); que a história infantojuvenil é apenas
a convencional (ressuscita-se uma múmia (do mal!) mas não se tem domínio sobre
ela); que o triângulo amoroso Ahmanet/Nick/Jenny
é um quadrado (não conto!) e tosco..., acho que o público alvo, que não gosta
de dar muito trabalho aos seus neurônios, pode até gostar da pancadaria sem
sangue mas com muita poeira (ou seria cálcio?) de ossos quebrados.
Quanto a mim, acho o press-book, com as informações sobre a produção do filme e as
“revelações” da paixão da equipe (desde criancinha) por monstros, muito melhor!
*Joba Tridente:
O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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