La La Land: Cantando Estações
por Joba
Tridente*
Em
tempos de violência generalizada no mundo do cinema e no mundo dos
espectadores, assistir a uma boa fantasia com vocação melodiosa é um bálsamo...,
como se dizia antigamente, e ou nos tempos áureos dos grandes musicais
norte-americanos. Em 2016 foi uma delícia assistir aos descompromissados e
excelentes desenhos muitíssimos animados Trolls
e SING ou ao curioso melodrama brasileiro Elis.
Ainda não é possível saber se toda a safra cinematográfica prometida para 2017
será de qualidade, mas começa bem com o simpático musical La La Land: Cantando Estações, escrito e dirigido por Damien Chazelle (Whiplash) e protagonizado por Ryan
Gosling (Sebastian) e Emma Stone (Mia), uma dupla de atores cheia de disposição para tocar, dançar e
cantar os sonhos e frustrações das suas personagens no vai e vem das estações
do ano pela ensolarada Los Angeles...
La La Land: Cantando Estações (La La Land, EUA, 2016) é um musical com mais diálogos que
números musicais e de dança. Ou seja, tem mais gente falando ou reclamando da
indústria do entretenimento do que cantando e dançando. Seu roteiro é simples,
mas não chega a ser totalmente raso: um músico radicalmente apaixonado pelo jazz conhece
uma atriz apaixonada pelo cinema e, claro, se enamoram. Ambos vivem na Cidade
dos Sonhos: Los Angeles. Ele é Sebastian
(Gosling), pianista que odeia o jazz moderno (e o samba!), toca esporadicamente em casas
noturnas e sonha em abrir o próprio bar temático. Ela é Mia (Stone), trabalha como barista, num café instalado dentro dos
estúdios da Warner, vai a todos o testes de elenco e sonha em atuar em algum filme.
Os dois sabem que LA é mãe e madrasta dos artistas e que apenas a perseverança os
levará ao estrelato na música e ou no cinema.
Com
uma trama que lembra as histórias (por vezes melancólicas) do diretor e
jazzista Woody Allen (como, por exemplo, o ferino Café
Society) e referências aos melhores musicais norte-americanos, embora não traga nenhuma canção realmente memorável e
ou coreografia (original) espetacular, La La Land é envolvente pela química
entre os atores Gosling e Stone que, se não são excepcionais cantores e
bailarinos, dão conta do recado com certa graciosidade nos números de dança e
interpretação segura nos diálogos e cantoria. Essa “deficiência” dos atores, na
música e na dança, acaba até tornando os seus personagens muito mais críveis.
Mas,
como nem tudo que brilha são estrelas no céu hollywoodiano, na trama musicada há
ao menos uma nota bem desafinada nos arredores de um bar com música ao vivo. Sem
a eloquência woodyalleniana (já que
não é um filme do mestre), a narrativa trata com exagerada nostalgia (e até escárnio)
a questão dos músicos puristas estadunidenses que não conseguem aceitar os rumos
que o jazz e o blues tomaram nos EUA e nem a chegada de uma nova geração (norte-americana)
de compositores e intérpretes ao mercado, fundindo ritmos em busca de nova
sonoridade e plateias. Nesse imbróglio sobra até para o samba (brasileiro)...,
ainda confundido (pelo insano Tio Sam)
com gêneros musicais latinos (rumba, salsa, bolero, mariachi)..., em duas ou
três cenas constrangedoras e totalmente fora de contexto, porém, ao gosto xenofóbico
de Trump e onde caberia, sem dúvida alguma (em resposta ao roteirista e diretor
Chazelle), a recente fala de Meryl Streep, na premiação do Globo de Ouro: “Hollywood está cheia de estrangeiros. Se
expulsarmos todos eles vocês não terão nada para assistir, exceto por futebol e
artes marciais mistas”.
Aliás,
eu nem sabia que o (execrado) samba (acompanhado de “malditos” petiscos
latinos) faz tanto sucesso nas casas noturnas de Los Angeles, a ponto de ser citado no musical como responsável por desempregar tradicionais jazzistas estadunidenses e ser a razão de destempero do
personagem Sebastian, numa ridícula cena
noturna de vandalismo. Haja fobia! E por falar em estrangeiros, nem vou
comentar (pra não me repetir) o destino da personagem Mia.
Bem, piada
(?) de mau gosto com o samba e com a comida mexicana (que você pode nem notar!) à parte, La La Land: Cantando Estações é um bom
programa para os amantes de musicais aerados. Ao público acostumado a musicais
arrebatadores, a canção-tema, principalmente cantada, pode não soar das mais
bonitas. Digamos que, assim como as outras músicas da trilha, está mais para
estranha do que para marcante. Mas cumpre a sua função narrativa e, em meio ao
cenário e danças, acaba razoável. Se bem que, possivelmente, ao final da sessão,
você não vai lembrar nem da letra e nem da melodia. No entanto, toda via
passada não importa mais. Já no quesito dança, há ao menos três interessantes coreografias customizadas de outros musicais (autoestrada, praça/rua, observatório) que resistem na memória até você ligar
algum aparelho eletrônico...
Enfim,
La La Land é uma nostálgica comédia romântica leve
e bem comportada (sem sexo e com beijo técnico) sobre os percalços da vida de
artista em Los Angeles. Não chega a ser hilária (está bem longe disso), mas tem
algumas gags legais relacionadas às apresentações de Sebastian (Gosling) e às audições de Mia (Stone). Inclusive, em uma delas (de puro humor negro), creio
que a primeira, Emma Stone está soberba numa performance tão desconcertante
quanto toda a cena ao redor. Ryan Gosling também tem ótimas performances.
Com
sua história conservadora (assim meio retrô/vintage e com pitadas de melancolia), algumas sequências brilhantes e
outras nem tanto, La La Land: Cantando
Canções pode não ser tão divertido e criativo quanto SING, mas é um filme que pode ser saboreado sem contraindicação e sem pressa num boa sala de
cinema, por toda a família..., desde que a criançada goste de jazz (puro ou
fusão) e de dança. Pelo que me lembro, é isso!
*Joba Tridente:
O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara
à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Vou assistir! Obrigada pela dica!
ResponderExcluir..., depois (re)passe por aqui para dizer o que achou, Sonia Regina!
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