J U L I E T A
por Joba Tridente
Nos últimos anos o cinema de Pedro Almodóvar já não tem me
caído tão bem como antigamente. Após o excelente Os Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, 2009) - que boa parte
dos críticos odeia - ele me pareceu piegas e enfadonho em A Pele Que Habito (La Piel que Habito, 2011) - que a
maioria dos críticos adora - e totalmente descartável em Os Amantes Passageiros (Los Amantes Pasajeros, 2013)..., que não
conheço nenhum crítico que o defenda!
Em Julieta, o seu
mais recente trabalho, o cineasta espanhol Pedro
Almodóvar, com sua vistosa paleta (explorando tons de vermelho e de azul),
desfile de metáforas (para todas as decodificações) e constante estética visual,
entre o beneficio e o malefício da dúvida, “sugere” um cine-questionamento
sobre a casualidade (e a culpa!) no universo
feminino (é claro!).
Inspirado em três contos do livro Fugitiva, da escritora canadense Alice Munro, o roteiro (de
Almodóvar) circunda Julieta (Emma Suárez), uma mulher de meia idade
que, prestes a se mudar da Espanha para Portugal, com o companheiro Lorenzo (Dario Grandinetti), casualmente,
numa esquina de Madri, encontra Bea (Michelle Jenner), uma amiga de
adolescência de sua filha Antía (Blanca Parés), que lhe fala de um
recente encontro casual com a garota.
O comentário faz Julieta mudar os seus
planos e começar a escrever cartas para a filha que não vê há muitos anos. São
essas cartas/narrativas (redundantes!) que levam o espectador a “mergulhar” nos
fragmentos da sua memória, embarcando com a sua versão jovem (Adriana Ugarte) numa viagem de trem
onde ela, casualmente, conhece o
pescador Xoan (Daniel Grao), futuro pai de Antía
que, adolescente (Priscila Delgado),
casualmente conhece a jovem Bea (Sara Jiménez)... Há muitas outras casualidades, preguiçosamente alinhavadas para dar forma ao também
fragmentado e raso script (“plantão médico”), mas é melhor que o espectador casualmente descubra sozinho.
Julieta (Julieta, 2016) é um melodrama(lhão) com
pitadas de thriller, onde a solidão,
o ciúmes, a traição, a fuga, a perda, o apego às mínimas lembranças se repetem
num depressivo (!) ciclo vicioso, qual herança maldita conspirada pelo destino
para aprisionar (e fortalecer?), na dor, mulheres de uma mesma família. Um
drama introspectivo e sem espaço para qualquer alívio cômico, mas com iluminadas
metáforas por todo canto..., que talvez passem despercebidas, já que, embora até
pertinentes, podem não ser tão claras na leitura (consciente) de todo
espectador. Ou (quem sabe?) não passem de jogo de cena (de mestre) na “composição”
para enredar o público numa história pouco atraente: uma mãe em busca de respostas
para o desparecimento misterioso da filha.
Assim, considerando
a excelência do elenco e a homenagem a Luis Buñuel (com duas atrizes diferentes
na pele de Julieta: Suárez e Urgate);
atento à
quantidade de mulheres enfermas (em Coma, com Alzheimer, pós Derrame/LER, com Depressão) e de homens
(tristes e solitários) excessivamente carentes; pensando na beleza de algumas locações e ao menos de uma sequência
fantástica (transição de atrizes no banheiro), que dão ao espectador a
impressão de que na vida (almodovariana) de Julieta
nem tudo é o que parece na calmaria azul do mar ou na leveza vermelha da argila;
vendo os belos signos gráficos do
diretor pontuando bem a trama, mas não lhe cobrindo por inteiro; questionando a fragilidade de todos os personagens
e o (meu) desinteresse pelo destino de cada um..., Julieta me soa um Almodóvar pela metade. Ou seja, após a sessão,
praticamente nada fica na memória!
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