Já não é novidade,
pelo menos para quem tem a liberdade e a curiosidade de fuçar na web, que
existe um fascinante mundo animado e de animação além dos EUA. Estúdios no
Japão, Coreia do Sul, Inglaterra, Alemanha, Rússia, México, Cuba, Brasil...,
sempre que conseguem vencer a monopólio americano, costumam surpreender os fãs
desta fascinante arte. A França, por exemplo, de quem nos chega a preciosidade O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince, 2015), já nos
presenteou com A Pequena Loja de
Suicídios, As Bicicletas de Belleville, Kirikou,
Ernest & Celestine, O Planeta Fantástico, Jack e o Coração Mecânico, O Gato do Rabino, Um Gato em Paris, Persépolis,
Um Monstro em Paris..., entre muitos
outros.
Baseado na obra
imortal de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944),
o roteiro especial de Irena Brignull e Bob Persichetti, para o desenho animado O Pequeno Príncipe, é um desafio e
tanto para o diretor Mark Osborne,
principalmente por oferecer ao público uma leitura diferenciada e ampliada do
livro que encanta o mundo desde a sua publicação em 1943. Se a adaptação
“simples” de um best seller da moda
já dá o que falar, imagine, então, (re)mexer no conteúdo de um clássico que é um
dos cinco livros mais traduzido em todo mundo! Imaginou? Então, esqueça! Não há
com o quê se preocupar, esta versão do Pequeno
Príncipe ficou muito boa, mesmo! Com certeza você nem vai se lembrar (se é
que ainda se lembra!) da série animada japonesa (1978) e muito menos dos filmes
homônimos dirigidos, em 1966, pelo diretor lituano Arünas Zebriünas (1931-2013)
e, em 1974, por Stanley Donen.
A narrativa,
alternando técnicas de animação em computação gráfica e stop motion, gira ao redor de uma solitária garota de oito anos de
idade, cuja rotina de estudos é transformada quando ela conhece o seu vizinho,
um velho aviador que lhe conta do seu encontro com o Pequeno Príncipe. Das duas técnicas, a stop motion, que se apropria das ilustrações aquareladas originais
de Exupéry, em bonecos feitos (aparentemente) de papel machê, é a que mais
fascina, pela delicadeza e colorido.
Quando “o essencial é invisível aos olhos”, é
preciso saber equilibrar a prosa e o verso para tocar profundamente o coração.
E isso Osborne faz com muita propriedade nesta gratificante animação capaz de
emocionar toda a família..., sem ser piegas e ou manipulador. Contemporâneo em
sua essência, o enredo é requintado e oportuno ao retratar o burocrático mundo
cinza-padrão da menina e da sua mãe controladora, ambas enquadradas numa
sociedade automatizada que se anula diariamente..., e o poético mundo lúdico do
velho aviador, repleto de histórias maravilhosas e lembranças que encantam a
menina na medida em que incomodam todos os adultos cinza-neurose.
O antes e o depois
(alternativos) acrescentados à história escrita por Saint-Exupéry, que a
princípio seria uma afronta, não a macula em momento algum. Pelo contrário, além
de engrandecer a obra (já) universal, abre caminho para saudáveis reflexões
sobre o crescer num mundo adulto demais para qualquer criança e o
aprisionamento dos prazeres da infância no lado oculto do cérebro.
Enfim, uma excelente
animação para quem já conhece e ou (imperdível introdução) para quem quer
conhecer esta magnífica novela de Antoine de Saint-Exupéry que é O Pequeno Príncipe. Ah, não esqueça,
deixe o seu adulto em casa, ao acompanhar os pequenos ao cinema!
Nenhum comentário:
Postar um comentário