quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Crítica: O Pequeno Príncipe


Já não é novidade, pelo menos para quem tem a liberdade e a curiosidade de fuçar na web, que existe um fascinante mundo animado e de animação além dos EUA. Estúdios no Japão, Coreia do Sul, Inglaterra, Alemanha, Rússia, México, Cuba, Brasil..., sempre que conseguem vencer a monopólio americano, costumam surpreender os fãs desta fascinante arte. A França, por exemplo, de quem nos chega a preciosidade O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince, 2015), já nos presenteou com A Pequena Loja de Suicídios, As Bicicletas de Belleville, Kirikou, Ernest & Celestine, O Planeta Fantástico, Jack e o Coração Mecânico, O Gato do Rabino, Um Gato em Paris, Persépolis, Um Monstro em Paris..., entre muitos outros.


Baseado na obra imortal de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), o roteiro especial de Irena Brignull e Bob Persichetti, para o desenho animado O Pequeno Príncipe, é um desafio e tanto para o diretor Mark Osborne, principalmente por oferecer ao público uma leitura diferenciada e ampliada do livro que encanta o mundo desde a sua publicação em 1943. Se a adaptação “simples” de um best seller da moda já dá o que falar, imagine, então, (re)mexer no conteúdo de um clássico que é um dos cinco livros mais traduzido em todo mundo! Imaginou? Então, esqueça! Não há com o quê se preocupar, esta versão do Pequeno Príncipe ficou muito boa, mesmo! Com certeza você nem vai se lembrar (se é que ainda se lembra!) da série animada japonesa (1978) e muito menos dos filmes homônimos dirigidos, em 1966, pelo diretor lituano Arünas Zebriünas (1931-2013) e, em 1974, por Stanley Donen.


A narrativa, alternando técnicas de animação em computação gráfica e stop motion, gira ao redor de uma solitária garota de oito anos de idade, cuja rotina de estudos é transformada quando ela conhece o seu vizinho, um velho aviador que lhe conta do seu encontro com o Pequeno Príncipe. Das duas técnicas, a stop motion, que se apropria das ilustrações aquareladas originais de Exupéry, em bonecos feitos (aparentemente) de papel machê, é a que mais fascina, pela delicadeza e colorido.


Quando “o essencial é invisível aos olhos”, é preciso saber equilibrar a prosa e o verso para tocar profundamente o coração. E isso Osborne faz com muita propriedade nesta gratificante animação capaz de emocionar toda a família..., sem ser piegas e ou manipulador. Contemporâneo em sua essência, o enredo é requintado e oportuno ao retratar o burocrático mundo cinza-padrão da menina e da sua mãe controladora, ambas enquadradas numa sociedade automatizada que se anula diariamente..., e o poético mundo lúdico do velho aviador, repleto de histórias maravilhosas e lembranças que encantam a menina na medida em que incomodam todos os adultos cinza-neurose. 


O antes e o depois (alternativos) acrescentados à história escrita por Saint-Exupéry, que a princípio seria uma afronta, não a macula em momento algum. Pelo contrário, além de engrandecer a obra (já) universal, abre caminho para saudáveis reflexões sobre o crescer num mundo adulto demais para qualquer criança e o aprisionamento dos prazeres da infância no lado oculto do cérebro.

Enfim, uma excelente animação para quem já conhece e ou (imperdível introdução) para quem quer conhecer esta magnífica novela de Antoine de Saint-Exupéry que é O Pequeno Príncipe. Ah, não esqueça, deixe o seu adulto em casa, ao acompanhar os pequenos ao cinema!

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