Sabe aquela sensação de impotência e pânico que a grande
maioria da população sente ao assistir a um telejornal, ao ler um jornal ou
revista com suas notícias catastróficas, dando a impressão de que no Brasil e
no mundo estamos todos à beira do caos econômico, social, ambiental? Então, esta
é a base do curioso argumento de Tomorrowland
- Um Lugar Onde Nada É Impossível, que sugere uma reação em cadeia ao
pessimismo, conclamando os sonhadores (de pé no chão), com suas mentes
brilhantes e que realmente fazem a diferença no desenvolvimento da humanidade, ao
resgate do que ainda há de humano pensante em cada um de nós, para restaurar a
ordem e a harmonia entre os povos. Um chamado para concretizar um sonho de
progresso coletivo num mundo de amanhã..., para aqueles que acreditam num
amanhã muito melhor que hoje.
Tomorrowland
- Um Lugar Onde Nada É Impossível (Tomorrowland, 2015), ficção científica infantojuvenil dirigida por Brad Bird, autor do roteiro em parceria
com Damon Lindelof, é uma ode ao
otimismo, ainda que para se chegar à felicidade plena, quebre alguma cabeças
pelo caminho..., uma analogia à omelete.
A receita começa a ser preparada na Feira Mundial de 1964,
em Flushing Meadows, em Nova York, onde o garoto Frank Walker (Thomas
Robinson) chega para apresentar a David
Nix (Hugh Laurie) a sua mochila
voadora, feita com sucata, ganhando o apoio da adorável garota Athena (Raffey Cassidy, impressionante!) e um convite para conhecer a
espetacular Tomorrowland. Num
salto no tempo, o próximo ingrediente da massa, escolhido a dedo por Athena, é Casey Newton (Britt
Robertson), uma adolescente que quer ser astronauta e sonha com o futuro da
Terra resenhado positivamente. Após um incidente, Casey tem uma visão de Tomorrowland
e o seu contato com o velho cientista Frank
Walker (George Clooney) pode
responder a todas as suas questões sobre o amanhã.
É bom que se diga que Tomorrowland
- Um Lugar Onde Nada É impossível tem pouco ou nada a ver com a Tomorroland da Disneylândia. Ou talvez
tenha, já que é o universo expandido de um protótipo futurista de Walt Disney,
que tinha muita fé na tecnologia que deu vida ao seu gigantesco empreendimento
de entretenimento. Com o sucesso da Feira Mundial de 1964, o empreendedor desenvolveu
o projeto Experimental Prototype
Community of Tomorrow, ou EPCOT...,
uma cidade modelo onde a tecnologia e o planejamento urbano criavam um ambiente
ideal para se viver. Disney morreu antes de realizar o seu sonho e o projeto EPCOT foi simplificado.
Tomorrowland
- Um Lugar Onde Nada É Impossível tem um interessante leque de
reflexões sobre a influência dos nossos atos cotidianos no equilíbrio do
planeta, a médio e a longo (?) prazo, e como se fundamenta o conceito de utopia
e de distopia (tão na moda nos rasos filmes juvenis do gênero). Na discussão
sobre a influência da mídia na propagação do caos, que aparece de forma
pertinente na narrativa, sugiro a leitura do artigo Observatório
da Imprensa: Outras razões para a pauta negativa, que postei lá no Falas
ao Acaso.
A princípio, a trama pode parecer simplória e até infantil, com
seu otimismo exacerbado ao apostar (ou apontar) num futuro mais digno para toda
a sociedade. Mas, pensando bem, é nas crianças, nos jovens das próximas (terceira?
quarta?) gerações que estão depositadas as esperanças de quem não vê a saída
para um mundo tão desgovernado. Acho que somente a criança do amanhã poderá
responder à bela Imagine de John Lennon: (...) Imagine que não houvesse nenhum país/ Não é difícil imaginar/ Nenhum
motivo para matar ou morrer/ E nem religião, também/ Imagine todas as pessoas/
Vivendo a vida em paz (...) Imagine
que não há posses/ Eu me pergunto se você pode/ Sem a necessidade de ganância
ou fome/ Uma irmandade dos homens/ Imagine todas as pessoas/ Partilhando todo o
mundo (...) Você pode dizer que eu
sou um sonhador/ Mas eu não sou o único/ Espero que um dia você junte-se a nós/
E o mundo será como um só (...) E o
mundo viverá como um só..., e que talvez, inconscientemente, tenha servido
também de inspiração à esta história.
Nesse mote de imaginar e realizar, principalmente pensando
no público jovem (?), o roteiro é bom, mas a ansiedade acaba atropelando a
narrativa, deixando o terceiro ato meio confuso...., principalmente no
fechamento (simplório) do enredo e no (equivocado?) destino de Nix. Detalhe de uma leitura mais crítica...,
arranha, mas não tira o mérito desta parábola. E muito menos compromete a compreensão
do todo.
Tomorrowland
– Um Lugar Onde Nada É Impossível tem aquele adorável estilo
retrô sessentista, com referências ao steampunk. A surpreendente sequência da
Torre Eiffel, onde os geniais Gustave Eiffel, Jules Verne, Thomas Edison e Nikola
Tesla teriam se encontrado no outono de 1889, para discutir o futuro da
humanidade, é inesquecível. Os efeitos
visuais são excelentes e o elenco, com destaque para Raffey Cassidy, veste o
filme como uma luva. Eu diria que é um filme com efeitos colaterais. Na hora
nem se dá muita importância, mas, passado um tempo, as mensagens
(subliminares?) vão saltitando na sua mente pedindo um pouco de atenção e
dizendo: Por que não? Pois, como
disse Brad Bird: “Sempre que há uma tela
em branco, há duas maneiras de vê-la: uma é o vazio e outra é a grande abertura
a possibilidades. E é assim que eu gosto de ver o futuro - como uma grande
possibilidade. É uma visão que se perdeu em termos de ver o futuro”.
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