Eu sou alucinado por robôs desde criança. Vejo
tudo quando é filme e anime (de robô) que encontro. É claro que não vi tudo,
mas já vi um bom bocado. Também li contos fascinantes de ficção científica. Por
mais que veja filmes e animações e ou leia histórias protagonizadas ou
antagonizadas por robôs, a expectativa é a de que há sempre um novo viés a ser
explorado. Quando penso a respeito, primeira lembrança é a do belo e
melancólico anime Eve no Jikan
(2010), de Yasuhiro Yoshiura. A animação fala de um futuro onde a identidade (e
a necessidade) de robôs (semelhantes aos humanos) é colocada em xeque e, em meio
à intolerância, discutida em um café secreto, onde a regra é a de que não haja discriminação
entre androides e homens. Se gosta do tema, procure onde puder e assista ao
antológico Eve no Jikan.
Isso posto, vamos ao que interessa, o sci-fi Chappie (Chappie, 2015), de Neill
Blomkamp, diretor do surpreendente Distrito
9 (2009) e do instigante Elysium
(2013), que me pareceu a continuação (não oficial) de D9. Roteirizado por Blomkamp e Terri Tatchell, este terceiro filme
sugere (a mim) um prólogo ao Elysium.
Talvez por desenhar os primeiros passos da robotização policial, norma em 2154
e a distinção (informal) de classes.
Chappie se
passa no ano 2016, em Johannesburgo, onde, de um lado, a polícia se sente mais segura,
no combate ao crime, tendo como escudo robôs policiais..., e por outro, engenheiros
mecatrônicos como Deon Wilson (Dev Patel), em constante pesquisa para criar
um robô inteligente, e Vincent Moore
(Hugh Jackman), militar belicista,
que não vê a hora de colocar nas ruas o seu robô exterminador chamado de Alce. No meio, dois criminosos
“azarados” (pé de chinelo, mesmo) como Ninja
e ¥o-Landi (Ninja e ¥o-Landi Vi$$er,
dupla rap-rave da banda sul-africana Die Antwoord) que têm um plano: sequestrar
um robô e reprogramá-lo para ajudar nos assaltos. A dupla até consegue seu
intento, só não contava que a programação do robô, que a “mamãe” (¥o-Landi) chama de Chappie (Sharlto Copley),
fosse tão complicada.
O argumento desta irônica fábula futurista é bom.
Destaca-se pela pegada rousseauniana (bondade x corrupção) aplicada na
reprogramação do androide Chappie que,
ao adquirir consciência, fica dividido entre o modelo ético (do “pai criador” Deon) e o modelo imoral (do “pai
sequestrador” Ninja). Um dilema interessante
que deve encontrar eco no espectador adolescente, cuja personalidade também
está em formação. O assunto (criminalidade, polícia, elite, capitalismo) aliás,
não é de todo novidade na filmografia de Blomkamp, que curte efeitos especiais
de ponta e muita pancadaria (violência!), mas sem desprezar o conteúdo.
Chappie tem
algumas sequências adoráveis (pintura, ostentação, livro infantil), ótimas atuações e efeitos
especiais de cair o queixo. O robô (criado a partir da captação de movimentos,
na performance de Sharlto, e finalizado em CGI) é de um realismo
impressionante. As discussões sociopolíticas e filosóficas (infinitude,
identidade, personalidade) são pertinentes e atingem o alvo com seu humor
amargo e, por vezes, nonsense. Algumas cenas revoltantes (de humor negro)
levantam fagulhas: o que leva alguém a cometer atos criminosos?..., Todo crime
merece castigo?..., O fim justifica o meio? Quanto à trilha sonora dramática,
além de intrusiva, é um horror, mas a de ação é até aceitável, ainda que óbvia.
Agora, um porém: No todo, os destaques (acima) são
pontuados. É que, sempre que se prepara pra decolar para o alto e além e indo
onde nenhuma ficção jamais esteve, Chappie
patina num roteiro (juvenil) que vai afrouxando e tropeçando num RoboCop (1987) aqui, num Blade Runner (1982) ali, e outros robôs
memoráveis (em outras grandes produções, como Um Robô em Curto-Circuito, de 1986) acolá. É impossível não
reconhecer as “referências” (ou seria semelhanças?) com os filmes citados,
principalmente com RoboCop.
Não creio que esse detalhe influencie o gosto do
espectador comum que vai atrás de ação e aventura e não de referências a um filme
de 30 anos atrás. A mim, as citações (não assumidas) ao RoboCop, foi o que mais incomodou. Não fosse isso, seria brilhante.
O que não quer dizer que seja ruim..., apenas que, com o bom (e irônico)
argumento, merecia um roteiro melhor lapidado.
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