Será que é possível ser original com um tema tão
explorado? O diretor e roteirista Rodrigo Cortés acredita que sim: Poder Paranormal é ambivalente. É certo e
incerto. Poder Paranormal é um enigma. Você pensa que está pisando num terreno
sólido e então, de repente, o chão se abre sob seus pés. Poder Paranormal é um
mistério indesvendável; seus personagens, um labirinto; complexos e
contraditórios, em busca de si mesmos, definidos por atos e omissões, palavras
e silêncios. (...) Nossas crenças são determinadas por nossas esperanças,
necessidades, sonhos e desejos... Poder Paranormal propõe uma abordagem
rigorosa e científica de fenômenos paranormais. É um filme de gênero com alma
de thriller político, mostrando como o cérebro humano é instrumento de
percepção da realidade no qual não se deve confiar. Vemos o que queremos ver.
Acreditamos no que queremos acreditar.
Poder
Paranormal é terceiro longa-metragem de Rodrigo Cortés, o premiado diretor de Concursante (2007) e Enterrado
Vivo (2010). O drama de suspense começa com um interessante argumento (e
boas intenções), que acaba não se segurando e resultando apenas mediano. Ele
acompanha os passos da cética Dra. Margaret
Matheson (Sigourney Weaver) e
seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy), numa incansável busca para
desvendar fraudes em eventos paranormais (domésticos e ou profissionais). Ambos
guardam segredos que virão à tona com o inesperado reaparecimento de Simon Silver (Robert De Niro), um lendário e polêmico vidente cego que esteve
desaparecido por 30 anos. Silver quer
voltar a ser a grande estrela da paranormalidade espetáculo. Margaret acha que Simon é uma página virada. Buckley
tem lá as suas razões para crer que nem tudo é o que parece nesse conturbado
cenário de blefes entre a ciência e a fé.
Nos últimos três anos o cinema teve três ótimas
novidades: o apavorante mockumentary Atividade
Paranormal (2009); o arrepiante A
Casa (2010), feito em um plano-sequência; e a genial animação ParaNorman
(2012). Na TV, mexe e vira e aparece uma série, um documentário, um programa
qualquer especulando o tema paranormal. Ou seja, realmente é muito difícil ser
original. Mesmo assim, Poder Paranormal
(Red Lights, Espanha, EUA, 2012)
insiste em seguir adiante mostrando sequências óbvias e batidas para “explicar”
as fraudes. O título brasileiro, é claro, quer pegar carona no ainda rendoso Atividade Paranormal..., já o original Red Lights (Luzes Vermelhas) é um código
que o espectador logo descobrirá para que serve.
Cortés não tem pressa em contar a sua história.
O filme pega algum ritmo na segunda parte e atropela tudo no último ato. O
porquê da (desnecessária!) sequência de extrema violência (no final) é um
enigma tão grande quanto a irritante musiquinha condutora de sustos. O que
parecia ser um trunfo do argumento (ausência de almas penadas arrastando
humanos imbecis para o outro lado da vida e ou para o inferno) vai por gosma
abaixo quando, do nada, os protagonistas, até então inteligentes, racionais,
frios, calculistas (e outros adjetivos clichês) começam a agir com brutalidade
clichê (?). Aí, a narrativa que tinha alguma perspicácia ao lidar com o
esotérico e o exotérico e desenhava um divertido “mistério” (apesar de banal), tomada
de uma incômoda histeria acaba ofuscando a “grande revelação” de Tom Buckley, que não justifica tanta
selvageria. Os mercadores (americanos?) parecem crer que inteligência rima
mesmo é com demência.
Poder
Paranormal é um filme meio: meio interessante, meio envolvente, meio
satisfatório, meio sem rumo..., meio clichê. O roteiro renderia bem mais se as
ironias (apenas ensaiadas) fossem levadas a sério e ou ganhassem algumas
pinceladas de humor (mesmo negro). O trio protagonista dispensa comentários.
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