Os 3 (Brasil, 2011) é
um filme brasileiro para quem gosta de cinema de qualidade e para restaurar a
confiança do público que entrou de gaiato numa sala e acabou se atolando na
pornochanchada em cartaz. Dirigido por Nando
Olival, o drama cômico (e ou comédia dramática) narra o dia a dia de um
divertido triângulo amoroso formado por três jovens universitários: Camila (Juliana Schalch), Cazé (Gabriel Godoy) e Rafael (Victor Mendes), recém-chegados a São Paulo, que se conhecem em uma festa e decidem
dividir um apartamento. Eles são sonhadores, têm segredos, algumas frustrações,
e estão virando a página da adolescência. Para conviver como novos adultos, a única
regra é não se apaixonar uns pelos outros. Mas, como é mais fácil falar sobre
relações (baseadas em amizade, amor, paixão, tesão) do que viver, eles vão ser
obrigados a rever seus conceitos, quatro anos depois, quando um despretensioso
projeto de graduação (do grupo) cai nas graças de uma grande loja de departamentos,
e vira do avesso a vida da garotada. Ou melhor, expõe na rede a estranha vida
deste adorável trio que já não sabe se a vida que leva é real ou pura
encenação.
Por certo, alguns
cinéfilos vão se lembrar que o tema já
propiciou a realização de clássicos e os jovens, menos informados, se
muito, vão achar que tem a ver com aquela série chatinha: Aline. Bobagem, a coincidência está apenas no fato de ser um trio. Os 3 cheira a novidade e esbanja
contemporaneidade. É deliciosamente juvenil e jovial. Com roteiro do próprio
Olival, em parceria com Thiago Dottori,
ele enreda o espectador, aos poucos, numa trama bacana, que brinca com a
metalinguagem e também com a armação dos sem noção reality shows, surpreendendo
o espectador duplamente voyeur. O
elenco protagonista tem uma química toda especial e só o fato de não ser formado
por “atores” celebridades, daquela tal rede de televisão, já é uma grande
vantagem.
Os 3 é extremamente
sensual e delicado ao tratar de flerte, amor e sexo. Sabe quando insinuar, o
quê e quando mostrar, sem precisar explicitar gratuitamente. Ele tem bons
diálogos e um humor saudável, sem escrachos e piadas de baixo calão. A sua
comicidade desperta o riso fácil e não a gargalhada espalhafatosa. Ter e saber
narrar uma boa história, já é meia metragem ganha, contar com ótimos atores,
ajuda muito, mas Os 3 não se
bastaria (nestes detalhes óbvios) sem a impressionante fotografia de Ricardo Della Rosa, com closes e
enquadramentos inusitados, e a montagem especialíssima de Daniel Rezende, que dá leitura (e liga) às narrativas do filme
dentro do filme, na internet e fora dela. Dispor de profissionais técnicos
competentes, que fazem o difícil parecer fácil, é o ganho certo da outra metade
da metragem.
Destacaria,
ainda, a direção de arte de Clô Azevedo,
pela habilidosa exploração cênica da atulhada locação, e a interessante trilha
de Ed Côrtes, que chama a atenção
por ser um complemento e não um incômodo condutor de emoções baratas. Os 3
é daquelas raras produções nacionais que dão prazer assistir e recomendar. É,
sem dúvidas, um dos melhores brasileiros do ano.
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