quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Crítica: Um Parto de Viagem



Um Parto de Viagem

Quando li a sinopse de Um Parto de Viagem (Due Date, EUA, 2010), do diretor Todd Phillips, estrelado por Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis, pensei que havia visto este filme em algum momento da minha vida: O arquiteto Peter Highman (Downey), um pai estreante, cuja esposa Sarah (Michele Monaghan) está com 8 meses e 29 dias de gravidez, se apressa a pegar um avião em Atlanta, para chegar a tempo do nascimento do bebê, em Los Angeles. No entanto, as suas melhores intenções vão por água abaixo, quando encontra, por acaso, o aspirante a ator Ethan Tremblay (Galifianakis) e seu inseparável buldogue francês Sonny. As confusões e rixas entre os dois começam na porta do aeroporto, vão para dentro do avião (de onde são expulsos) e continuam na estrada, quando se vêem obrigados a dividir um automóvel, para atravessar o país e chegar a tempo em LA/Hollywood. Enfim, uma história envolvendo dois improváveis companheiros de viagem: um estressado (metido a gente fina) e um mala sem alça (metido a ator esperto), apenas com um destino em comum.


Antes Só do que Mal Acompanhado

Então me lembrei da divertida comédia Antes Só do que Mal Acompanhado (Planes, Trains and Automobiles, EUA, 1987), com Steve Martin e John Candy (1950-1994), dirigido por John Hughes (1950-2009): Neal Page (Martin) é um publicitário que está em Nova York e decide ir de avião à Chicago, para passar o Dia de Ação de Graças com sua família. Ao chegar no aeroporto ele descobre que o vôo está atrasado e, posteriormente, que sua passagem de primeira classe foi transferida por engano para a classe turística. Ao embarcar, finalmente, é obrigado a aturar, ao seu lado, o chato e inconveniente Del Griffith (Candy), um vendedor de alças para cortinas de chuveiro. Como se não bastasse tantos transtornos, por conta de uma nevasca, que impede aterrissagem em Chicago, o avião é obrigado a pousar em uma pequena cidade do Kansas. Por conta dos problemas no tráfego aéreo e ansioso para chegar em casa, acaba dividindo um carro com Griffith, que transforma aquela viagem, pelos EUA, num inferno. Enfim, uma história envolvendo dois improváveis companheiros de viagem: um estressado (metido a gente fina) e um mala sem alça (metido a vendedor esperto), apenas com um destino em comum.


Como se vê, a Hollywood de hoje continua “relendo” ou “reinterpretando” ou “reescrevendo” histórias da Hollywood de anteontem. Nas duas comédias até os atores são meio parecidos fisicamente: Steve Martin/Robert Downey Jr. e John Candy/Zach Galifianakis. O que se pode argumentar (?) a favor de um ou detrimento de outro é que, se em Antes Só do que Mal Acompanhado, John Hughes, propunha uma humor simples e direto, na versão update Um Parto de Viagem, Todd Phillips dá voltas com um humor travestido de transgressor, irreverente, politicamente incorreto, numa new comedy old repleta de novos clichês velhos. Basta um cochilo e lá vêm as mesmas tais “transgressoras” sequências (de novo) em uma (nova) comédia remix americana. É pior do que filme na TV XXXXX, não importa o quanto foi (re)exibido, vai ser sempre “filme inédito!”. Para os “moderninhos” diretores, o suprassumo é colocar em cena um personagem queimando fumo “adoidado” ou... É melhor deixar a “surpresa” sexual (?) para os “fãs” dos atores e diretor. Por falar em transgressão, vale lembrar (aos novatos) que ela está presente na “inocente” obra (teen) de Hughes desde o tempo da National Lampoon Magazine, ganhando vista em alguns de seus melhores filmes e roteiros.


Um Parto de Viagem é uma comédia (?) fraca, de pouca graça (pra quem se cansou de “releitura”) forçada no humor (clichê) quase negro. É bem verdade que o roteiro pobre e batido (de dupla improvável) não ajuda muito. Os atores são ótimos, têm química, e fazem o que podem com seus personagens já desgastados (em todos os gêneros imagináveis) e quando não dão mais conta, entram as cenas de violência gratuita, correrias, perseguição automobilísticas, destruição de carros, tiros a esmo etc. Mesmo assim é enfadonho e previsivelmente bobo. Um drama “cômico” ou “comédia’ dramática, sei lá, que insinua mais do que ousa e decepciona quem busca algo que fuja do lugar comum. O que, em se tratando de cinema norte-americano que chega ao Brasil, é praticamente impossível. No entanto, deve agradar (?) quem nunca viu (?) algo parecido no cinema ou na TV.

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