Almas à Venda
Almas à Venda é o típico filme que se ama ou se odeia. Não tem meio termo. Ou sai da sala no início ou fica até o fim e se delicia com um cinema raro. Um cinema provocativo que leva à reflexão, através de uma narrativa inteligente e segura, na exposição da arte de (bem) interpretar em qualquer palco da vida. O teatro nos acompanha do nascimento à morte. Aprendemos a representar assim que nascemos (pelo que queremos) e continuamos vida afora (pelo que sonhamos) até findar no caixão (na atuação daqueles que nos velam). Nas telas já vimos muitos personagens invejosos e poderosos que não se satisfazem com simples troca de identidade, de face, de corpo..., mas, e se pudessem negociar a própria alma?
Almas à Venda é o típico filme que se ama ou se odeia. Não tem meio termo. Ou sai da sala no início ou fica até o fim e se delicia com um cinema raro. Um cinema provocativo que leva à reflexão, através de uma narrativa inteligente e segura, na exposição da arte de (bem) interpretar em qualquer palco da vida. O teatro nos acompanha do nascimento à morte. Aprendemos a representar assim que nascemos (pelo que queremos) e continuamos vida afora (pelo que sonhamos) até findar no caixão (na atuação daqueles que nos velam). Nas telas já vimos muitos personagens invejosos e poderosos que não se satisfazem com simples troca de identidade, de face, de corpo..., mas, e se pudessem negociar a própria alma?
Almas à Venda fala de um tempo em que até mesmo a alma humana pode ser negociada, alugada ou até emprestada, por algum valor (compatível) nada simbólico. Paul Giamatti (por ele mesmo) é um ator americano que, em meio aos ensaios da peça Tio Vânia, de Anton Tchecov (1860-1904), não consegue se dissociar do personagem amargurado que interpreta e, como se carregasse toda a culpa e as dores do mundo, começa a se sentir depressivo, comprometendo a sua atuação. Ao ler um artigo, na revista The New Yorker sobre uma empresa que alivia o sofrimento das pessoas, através da extração da alma, ele resolve procurá-la. Depois de uma absurda conversa (sobre os percalços da alma) com o Dr. Flintstein (David Strathairn), decide experimentar o revolucionário tratamento. Bem, é claro que não lhe avisam dos efeitos colaterais e muito menos do tráfico de almas entre os EUA e a Rússia, que é onde a sua vai parar, para satisfação de Sveta (Katheryn Winnick), uma belíssima e medíocre atriz, que sonha em possuir a alma de premiados atores americanos. Se para Giamatti, o tragicômico ator teatral, não era nada fácil carregar uma alma sofrida, tentar recuperá-la, antes que seja arruinada, será muito pior.
Quem gosta de variar e até mesmo radicalizar na apreciação da sétima arte, não vai se decepcionar com o ousado e belo Almas à Venda (Cold Souls, EUA, França, 2010), roteirizado dirigido por Sophie Barthes. Ele lembra o melhor das obras estranhas (bizarras!) e nonsense de Charlie Kaufman e do mestre Woody Allen, recheadas de tiradas metafísicas e personagens surreais. No entanto, quem não tem intimidade e apreço pelo teatro e pela filosofia, passe ao largo, porque dificilmente vai entender o jogo de palavras e a metáfora do tráfico de almas (entre EUA e Rússia) que remetem tanto a Almas Mortas, de Nikolai Gógol (1809-1852), quanto ao pensamento (do desejo e da vontade) de Arthur Schopenhauer (1788-1860).
Irônico, mas tremendamente poético, de uma ludicidade comovente, Almas à Venda fala do homem-coisa (que pode ser comercializado no todo ou em pedaços) e do que ainda lhe resta de dignidade, de humanidade, num mundo em que a identidade é o que menos importa. Questiona as insatisfações profissionais, pessoais e o próprio existir. É um filme difícil de classificar, pois varia no humor e no drama. Se num momento provoca um riso solto (sem ser gratuito), com Paul Giamatti embasbacado diante do peculiar formato de sua alma, noutros emociona profundamente (sem ser piegas), ao destacar uma gente a quem só resta vender a própria alma. Infelizmente é uma obra para um público seleto. O espectador que se deixar envolver pelo aquém e além da narrativa verá uma obra singular e com a excelência técnica de uma fascinante fotografia (naturalista) com direção de Andrij Parekh. Sublime, do princípio ao simbólico final. E que final!
O filme é realmente tudo isso que você escreveu, mas é prejudicado um pouco no final pelo ritmo quase de trama policial para fechar a história. E a fotografia é comprometida pela projeção digital. Ver este filme em película seria maravilhoso, mas fazer o quê?
ResponderExcluirOlá, Antunes.
ResponderExcluirPelícula é película, mas em tempos digitais e de RAIN, fazer o quê?
Quanto ao deslumbrante final,achei tão bem resolvido o "resquício de almas" em ambos os personagens, se bem que de forma diferenciada, que o alvoroço policial passou batido.
Grande abraço.
T+
Joba