domingo, 14 de março de 2010

Crítica: Direito de Amar - A Single Man


Direito de Amar - A Single Man
fragmentos de uma profunda solidão

Não sou ligado ao supérfluo e talvez por isso, até saber que A Single Man (Um Homem Só), de Christopher Isherwood (1904 - 1986), seria adaptado para o cinema, nunca tinha ouvido falar de Tom Ford. Bem, não sou um fashionable! A minha preocupação (ô pretensão!) não era saber que um gênio do mundo fashion iria dirigir a obra-prima de Isherwood, mas no que ela iria se tornar com a roupagem cinematográfica. Ora, todos sabem que a maioria dos livros que cai nas graças de produtores, roteiristas, diretores de cinema, perde (de imediato) as suas características, se torna uma obra zumbi: repleta de palavras (ocas) e destituída de qualquer sentido lógico. Felizmente as piores previsões, desta vez, não se confirmaram. E a adaptação não poderia ter saído de melhor olhar.

A leitura que Tom Ford fez de A Single Man, de 1964, (publicado no Brasil em 1985, pela Nova Fronteira: Um Homem Só – Fragmentos de Uma Profunda Solidão, com tradução de Sônia Coutinho) é excelente. Pouquíssimas coisas (detalhes) não batem com o curto e belo romance de Christopher Isherwood, que fala de George Falconer (Colin Firth), um professor universitário que não consegue superar a morte de Jim (Matthew Goode), seu companheiro por 16 anos, e decide se suicidar. O clima do livro, a preparação do suicídio, a relação com os vizinhos e com a amiga ciumenta e ex-namorada Charley (Julianne Moore), o flerte com o aluno Kenny (Nicholas Hoult), a intensa dor de estar só, porque ao outro (Jim) cabia ser feliz..., e o irônico final, está ali. Feito uma ilustração da obra.

A história, que se passa no mês de novembro de 1962 e se concentra em apenas um dia, o que seria o último de George, ganha as telas com uma beleza estonteante e sem jamais perder o foco. Muitos críticos e comentaristas de plantão, não tendo onde pegar mal o filme, falam que ele é um preciosismo só e ou que deveria ter se aprofundado na discussão disso ou daquilo..., deixando claro que jamais leram (ou sabem do que se trata) o livro. A insistência em dizer que o filme de Tom Ford é semiautobiográfico (só porque ele tem um namorado (ainda que vivo) há mais de duas décadas?) é irritante e imbecil. O filme tem uns achados fotográficos de cortes, recortes, closes interessantes, favorecendo ainda mais a sua estética. E falando em beleza (reclamação dos que preferem coisas feias e mal acabadas), qual o problema em se fazer um filme bonito, com gente bonita, com música (PONTUADA) bonita de Abel Korzeniowski, em meio a tristeza e a questões políticas, (crise de mísseis com Cuba)?

Pela temática A Single Man (Um Homem Só), que recebeu o abominável título: Direito de Amar, é um filme discreto, pudico até demais. O contrário seria um desastre. Afinal ele não é “um filme gay” sobre “causa gay” e ou sobre um “homossexual em briga com a sua homossexualidade”, mas sobre a incapacidade de superar a perda de um grande amor. George não busca a saída no suicídio porque está cercado de hipócritas por todos os lados, mas porque sente falta da única coisa que lhe interessa e que o confortou por 16 anos, Jim. Ele sofre, não por ser “gay”, mas por ser um homem e, ainda, humano. E essa pegada não panfletária se percebe do começo ao fim, com uma direção cuidadosa e uma entrega impressionante de Firth, que lhe valeu os prêmios de melhor ator (Bafta e Copa Volp, no Festival de Veneza) e a indicação para o Oscar, e de coadjuvantes de peso como a sempre bela e talentosa Julianne Moore. Um filme extremamente elegante e (como raros) muito digno da obra original.

4 comentários:

  1. Joba,

    O Isherwood é um dos meus escritores preferidos. E esse livro em especial é muito, mas muito bom. Não tinha reparado no filme. Vou conferir. Sua resenha me ganhou.

    abraço

    ResponderExcluir
  2. Olá, Carlos, prazer em tê-lo por aqui.
    Eu acho que você também vai se surpreender com o filme. É tão belo e intenso quanto o livro.
    Se quiser, depois comente por aqui.

    Abração.

    T+
    Joba

    ResponderExcluir
  3. O filme é maravilhoso, confesso que fiquei p..da vida c/ o final, mas assim como a vida real é dificil um filme bom ter o final "felizes para sempre". Só tenho 3 coisas p/ reclamar:

    1 - quem deu o titulo tosco de novela mexicana ao filme. "direito de amar"? ninguem merece. Qual o problema em traduzir fielmente do inglês? O Brasil tem a péssima mania de estragar um filme com atitudes como estas.

    2 - sou fã de um filme bem produzido e belo, mas há um certo exagero na estética do filme. A vida parece meio comercial de margarina.

    3 - Não gosto do Nicholas Hoult, não simpatizo c/ ele e nem acho ele bonito.

    ResponderExcluir
  4. Olá, Anônimo.
    Quando puder, leia o livro.

    Abs.

    T+
    Joba

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...