sexta-feira, 12 de março de 2010

Crítica: Ilha do Medo


Ilha do Medo
elementais confusões mentais...

Um filme de Scorsese sempre causa expectativa, mas não mais o impacto de seus primeiros trabalhos. Para mim, os memoráveis são Alice Não Mora Mais Aqui, A Última Tentação de Cristo e Depois de Horas (o favorito).

Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2009) tem um roteiro razoável (apesar de previsível), ótimos atores, excelente trilha sonora, bons efeitos especiais, mas... O filme, baseado no livro Shutter Island (Paciente 67, no Brasil), de Dennis Lehane, é um thriller psicológico que se passa no auge da Guerra Fria, em 1954, quando os agentes federais Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) são enviados a Shutter Island, para investigar o inexplicável desaparecimento da paciente Rachel Solando (Emily Mortimer e Tarícia Clarkson), de dentro de uma cela, no misterioso Hospital Psiquiátrico Aschecliffe. A ilha só tem um lugar possível para entrar ou sair de barco. O hospício tem cercas eletrificadas. Um interno (comum ou criminoso) não tem como e nem pra onde fugir.

A princípio o filme lembra o clássico de Milos Forman, Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, EUA, 1975), pela forma como os pacientes são tratados e o uso excessivo das mais variadas drogas e técnicas de “cura”. Mas logo se encaminha pra um clima soturno, arrastando Teddy (DiCaprio) em um redemoinho de emoções conflituosas, repletas de alucinações e pesadelos. Algumas cenas e sequências são construídas com maestria e outras com desmazelo técnico, principalmente com a iluminação. Mas não é o que compromete o resultado. Todos os elementos pertinentes à linguagem de Scorsese estão ali: violência, crueldade, flashback, bizarrice, trilha sonora (muito) bem elaborada, mas o filme parece não ter alma. Segue a apenas a receita..., a cartilha de como se fazer um thriller.

O foco na paranóia e na manipulação psicossocial até desperta interesse, mas não arrebata, não incomoda, não entretêm por inteiro. Parece sobrar ou faltar uma peça no quebra-cabeça. Talvez por isso, ao meio da projeção, um espectador mais atendo terá resolvido a charada que envolve os agentes e aquele lugar. E se for um bom cinéfilo, vai perceber que viu o mesmo final em diversos outros filmes. Ilha do Medo, com seu clima gótico, é um bom exemplar de psicocinema, pena que fique pelo meio do caminho na exploração da claustrofobia sensorial que se propõe. É um filme para fãs. Vale lembrar que ele não tem nada a ver com o clima de terror (do título brasileiro) e muito menos com o que é sugerido no trailer.

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