segunda-feira, 22 de março de 2010

Crítica: O Livro de Eli


O Livro de Eli
um Mad Max evangélico

Depois dos dramas católicos com muita ação e aventura: O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, EUA, 2006) e Anjos e Demônios (Angels & Demons, EUA, 2009), dirigidos por Ron Howard e estrelados por Tom Hanks, eis que chegou a vez de um novo filão religioso: o evangélico. Mas não é pra qualquer evangélico, não. É para aqueles xiitas de carteirinha que decoram a Bíblia (Antigo Testamento) lá deles, e acreditam em tudo que está escrito, sem questionar e sem ter a menor idéia da intenção daquelas lendas judaicas repletas de violência e recheadas de erotismo.

Já foi dito que após uma terceira guerra mundial o homem voltaria à barbárie e lutaria com paus e pedras e eventuais flechas. Em O Livro de Eli a premissa é outra, voltamos aos anos 1970, com tudo que a vida hippie tem direito, e mais um ingrediente: a barbárie (será pelo excesso de drogas?) bestificante. Aliás, não é só à década de 1970 que voltamos, não, na viagem passamos pelos mais variados fragmentos de filmes de ficção científica (clássicos e muito trash italiano hecatombista, em que a Bíblia é a culpada por todas as desgraças do mundo) com uma fixação maior na série Mad Max, de George Miller: cenário, figurino, diálogo estranho: “o mundo de antes”. Não falta nem música antiga (velha mesmo). Não sei porque os “produtores” de trilhas sonoras de sci-fi adoram música velha. Não importa qual o lugar (tempo) futuro, a música é sempre rock ou pop antigo. Será que no futuro (hollywoodiano), excetuando a esquisitice de Star Wars, de George Lucas, os músicos vão se ocupar com outras coisas ou caçar uma profissão mais lucrativa?

O Livro de Eli (The Book of Eli, EUA, 2010), dirigido pelos irmãos Albert e Allen Hughes, fala (com pouca originalidade) de um mundo pós-apocalíptico, onde só os homens (violentos) e mulheres (submissas), na faixa dos 30 anos, sobrevivem em meio a canibais e iletrados (?), ou a “serviço” de Carnegie (Gary Oldman), um homem esperto, na faixa dos 50 anos, cujo poder está (?) no fato de saber ler (e pensar?). Ele sonha dominar todos os sobreviventes (sem noção) que chafurdam na barbárie, através de ensinamentos (lavagem cerebral) contidos num livro antigo. O que ele não contava é que o tal livro (sagrado?), procurado pelo seu esquadrão assassino, está em poder de Eli (Denzel Washington), um andarilho (tipo guerreiro ninja) que também sabe ler e tem lá as suas razões para guardá-lo e defendê-lo a qualquer custo.

Isso posto, começam as desavenças (no salve quem puder) em nome do Deus de cada um em busca da “paz” e do “renascimento do homem civilizado”. De um lado, o “vilão” querendo se apropriar de um livro que traria textos sagrados que ensinam como dominar multidões através do (subliminar) bom uso da palavra divina. De outro, o “herói” acreditando que a sua missão evangélica é muito mais nobre, já que foi uma voz (divina?) que indicou onde estava o único (?) exemplar do tal livro e o encarregou de levá-lo para um lugar no oeste americano, onde seus ensinamentos serão a base (firme?) de uma nova civilização. E aí, assim como nos escritos bíblicos, não resta pedra sobre pedra e a carnificina santa é ampla, geral e irrestrita, sob o olhar bonzo dos que conseguem se esconder.

O Livro de Eli que parecer ecumênico, mas não consegue se safar do (sempre) velho sermão piegas, calcado no Antigo Testamento, que fazia sentido para “os do mundo de antes”, inocentes úteis do criacionismo. E dá-lhe reza! Excetuando o surpreendente pré-final, que (realmente) pega todo mundo, não há muito que destacar, além das boas atuações de Denzel e Oldman, já que o mérito da fotografia fica por conta (dos efeitos especiais) do mundo digital.

Em tempo: pra entender o inteligente final e se o Eli (americano) é o mesmo Elias e ou Eli (judeu) faça uma boa pesquisa (até na rede) em livros não contaminados e se surpreenda novamente. E ainda, se quiser saber mais sobre um divertido trash movie italiano, com temática parecida (ou quase), vá ao Boca do Inferno e leia um artigo de Felipe M. Guerra, sobre Gerreiros do Futuro (I Nuovi Barbari - Os Novos Bárbaros) dirigido por Enzo G. Castellari. É um dos filmes mais doidos que assisti e muito mais divertido que O Livro de Eli. E por falar em filme, recomendo o Fahrenheit 451, de François Trufaut, direto da obra genial de Ray Bradbury.

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