quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Crítica: Bastardos Inglórios


Bastardos Inglórios
por Joba Tridente

Todo cinéfilo que conhece os filmes do cinéfilo Quentin Tarantino sabe das suas referências cinematográficas (menos explícitas que as do parceiro Robert Rodriguez?) ou releituras atualizadas de grandes clássicos ou de produções “desconhecidas”. Ele mesmo nunca negou isso e até cita suas fontes. Em Bastardos Inglórios não é diferente, porém mais divertido. Aliás, acho que Quentin Tarantino só se torna interessante quando não é levado tão a sério, assim como os seus filmes de puro delírio. Afinal, o seu negócio é produzir diversão e não dissertação acadêmica.

Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, EUA, Alemanha, 2009), de Quentin Tarantino, além de divertido, pode ser visto como uma versão alternativa de Operação Valquíria (Valkyrie - de Bryan Singer/2008), entre outras produções cinematográficas sobre a 2ª Guerra Mundial, e até mesmo da verdadeira história desta guerra infame. Num clima de faroeste, bem ao gosto de Sérgio Leone e John Ford, e com as suas melhores canções, a lenda dos Bastardos Inglórios começa com um Era Uma vez... O plano do grupo de soldados americanos judeus é o de matar, com requintes de crueldade, o maior número possível de nazistas, que ocupam a França, e assim espalhar o pânico entre os soldados e o alto comando alemão. A ação suicida dá certo e alguns integrantes do grupo são destacados pra participar de uma operação de extermínio coletivo da alta cúpula nazista, incluindo seu chefe maior, Hitler, durante a estréia do filme NATION’S PRIDE (Orgulho da Nação), numa sala de cinema em Paris.

Ao focalizar a ação numa pomposa sessão de cinema, Tarantino transforma arte cinematográfica (e o próprio cinema) num veículo de criação e destruição da própria arte, já que o filme em questão é sobre os atos heróicos de um soldado nazista que vira astro de cinema, ao interpretar a si mesmo matando centenas de soldados inimigos. Arte ou heroísmo é apenas uma questão de ponto de vista. Palco e sujeito da mídia, desde a sua invenção, o cinema ainda serve aos mais diferentes propósitos, da diversão à propaganda política. Portanto, a catarse dos bastardos vingadores, numa sala de cinema, é muito subjetiva. Mas, eficiente, se possível. Quem não se lembra da trágica noite de 3 de novembro de 1999, quando, na última sessão de Clube da Luta (Fight Club, 1999), numa sala de cinema em São Paulo, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira se levantou, sacou uma submetralhadora 9mm e começou a atirar, matando três pessoas e ferindo quatro?

Bastardos Inglórios tem um elenco charmoso, multinacional e afinadíssimo, que vai de Brad Pitt (Aldo "O Apache" Raine) e Diane Kruger (atriz e espiã Bridget von Hammersmark) a Daniel Brühl (militar e ator Fredrick Zoller). Mas o destaque unânime fica com o ator austríaco Christoph Waltz (tenente-coronel Hans Landa) que não rouba só a cena, mas o filme inteiro. Bastardos Inglórios é falado em inglês (britânico e americano), francês e alemão, o que dá mais veracidade e proporciona excelentes tiradas de humor. É um Tarantino mais experiente, mais centrado nos diálogos, nos gestos, nos detalhes muito bem fotografados, mas ainda é o Tarantino com gosto pelas imagens sangrentas, mesmo que num volume menor. O filme, contado em capítulos (será coincidência que A Pedra Mágica, de Robert Rodriguez, também seja em capítulos?), com doses precisas de ação, violência, suspense, paixão, intriga..., tem 2h30, mas passa rapidinho.

Bastardos Inglórios é diversão certa para fãs de Tarantino e também para o espectador que não aguenta mais ver filme de guerra cheio de judeu coitadinho e alemão vítima da situação. Se a vingança é doce ou amarga, saboreada com champanhe, whisky, cerveja ou leite, só aquele que se vinga é que pode dizer. Mas, que o final tão à flor da pele, que não deixa pedra sobre pedra, vai dar a muita gente vontade de aplaudir..., ah, isso vai!

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