sábado, 13 de fevereiro de 2010

Crítica: Percy Jackson e o Ladrão de Raios


Percy Jackson e o Ladrão de Raios
nos passos de Harry Potter

Finalmente a garotada vai pode conferir o resultado de Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson and the Lightning Thief, EUA, 2010) que saiu diretamente da série literária infanto-juvenil criada por Rick Riordan, para o cinema de Chris Columbus, que dirigiu os dois primeiros filmes da série Harry Potter, com alguma competência.

Não li nenhum livro de Harry Potter, mas sou fã dos filmes que só fizeram melhorar a cada lançamento. Também não li nenhum livro que narra as aventuras do jovem Percy Jackson entre personagens da mitologia grega, vivendo disfarçados nos EUA. Mas, comparado ao resumo do livro e aos comentários dos leitores, que encontrei pela internet, o filme conta uma (outra) história apenas parecida e com (bem menos) personagens da série.

Como, independente da chiadeira, livro é livro e filme é filme, fiel ou não à literatura original, vamos ao que se vê na telona. Percy Jackson (Logan Lerman) é um garoto disléxico e com déficit de atenção. Tem problemas na sala de aula e em casa. Não entende e nem aceita a estranha convivência da mãe, Sally Jackson (Catherine Keener), com o abominável padrasto, Gabe Ugliano (Joe Pantoliano). Um dia, ele descobre, de uma vez só, que é um semideus, filho de Poseidon (Kevin McKidd); é acusado de roubar os Raios de Zeus (Sean Bean); o seu professor é o Centauro Quiron (Pierce Brosnan); a sua professora, Mrs Dodds (Maria Olsen) é uma Fúria; o seu amigo Grover (Brandon T. Jackson) é um Sátiro, e, ainda, que será levado para o Acampamento Meio-Sangue, para a sua proteção e treinamento. Lá, entre outros, conhecerá Annabeth Chase (Alexandra Daddario) - a filha de Athena, e Luke (Jake Abel) - filho de Hermes. Até provar a sua inocência no roubo dos Raios, ele enfrentará a Medusa (Uma Thurman), o Hades (Steve Coogan) e a sua “companheira” Perséfone (Rosario Dawnson), e também o Minotauro, o Cérbero, a Hidra... Ufa!!!

Percy Jackson e o Ladrão de Raios, (o filme) confesso, que ficou aquém das minhas expectativas. Ele lembra, e muito, Harry Potter: um garoto (perdidão) que, de uma hora pra outra, se vê dotado de algum poder e é obrigado a usá-lo para salvar alguém ou alguma coisa ou a si mesmo. A diferença é que Harry Potter (no cinema) aborda a magia de forma mais interessante do que Percy Jackson com a mitologia. Em Harry Potter o tema magia, ilusionismo, bruxaria, é uma fantasia que vai se aprendendo com a inventiva narrativa (querendo) sem se levar muito a sério e tem a cara da Inglaterra. A “transposição” do tema mitológico (Olimpo, Deuses, Heróis) da Grécia para os Estados Unidos (Nova York, Las Vegas, Hollywood) contemporâneo, me pareceu forçar demais. No entanto, uma vez que série é best-seller e ninguém reclamou da gratuidade, deve fazer sentido (?). Não convence, mas..., sei lá! Em se tratando de atualização de lendas, prefiro a de Fábulas (Fables), uma série em quadrinhos que narra as aventuras e as desventuras dos personagens imortais dos Contos de Fadas, vivendo numa colônia secreta (Cidade das Fábulas) em uma região de Nova York. É sarcástica, irônica e até violenta..., mas não é pra crianças. E que, espero, jamais chegue ao cinema. Ou ainda o romance O Último Mundo, do austríaco Christoph Ransmayr, que fala de Cotta, um admirador do poeta Publius Ovídio Naso (Ovídio), que sai em busca do exilado autor de Metamorfoses, numa impressionante viagem que confunde passado e presente numa narrativa repleta de metáforas críticas ao totalitarismo.

Percy Jackson e o Ladrão de Raios tem uma didática infantil (porque sim!) e rápida sobre os mitos. A história vai acontecendo assim, meio previsível, meio sem compromisso e sem explicação, com Percy tentando descer ao Inferno, pra salvar a mãe, e depois subir ao Olimpo, pra salvar a humanidade. Os Deuses e os Heróis não têm o tipo físico que se espera deles, são magricelas e inexpressivos. 99,99% aparecem mudos (por alguns segundos) e desaparecem calados. O Acampamento Meio-Sangue é bastante sem graça (pra não dizer um desastre) com um bando de jovens, mal coreografados, batendo espadas. Dá saudade da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, de Harry Potter, mais convincente e cheia de vida. O Olimpo, sobre o Empire State, por fora parece uma vila do Inferno e por dentro o hall de um cassino. Ô lugarzinho cafona. Aliás, até a sede do Inferno é horrorosa. Pelo jeito, os cenógrafos e os técnicos de efeitos especiais estavam em greve. Ou a grana era pequena demais pra construção de cenários melhores e mais bonitos.

É isso! Infelizmente, por mais que tentasse, não consegui ver Percy Jackson, o filme de Columbus, sem comparar a Harry Potter. Estão lá os amigos (Harry, Ron e Herminione em Percy, Grover, Annabeth), o inimigo (Draco em Luke), o professor protetor (Dumbledore em Quíron), e ainda os vilões, figuras míticas... Saem os castelos e aldeias e entram prédios e cidades. Mudam os nomes, as caras e os cenários, mas continua a mesma saga. Tem algumas “metáforas” interessantes sobre três pérolas perdidas e os lugares onde poderão ser encontradas. Em particular sobre a que está em um cassino, em Las Vegas, onde os heróis ficam temporariamente “presos” pelo vício (do jogo e da droga), após comerem doce de lótus. Ou ao menos uma piada risível: a entrada do Inferno (Submundo) ser em Hollywood. Fora isso, no geral, é cansativo, é lugar comum. Mas, quem sabe, pode cair no gosto dos menos familiarizados com o tema. E se ao menos despertar o interesse dos jovens espectadores (e adultos também, se houver) pela Mitologia Grega, entre outras, já será um grande feito.

Em 04.06.2009, numa entrevista à Revista Época, questionado sobre o seu envolvimento com o filme Percy Jackson e o Ladrão de Raios, e o que esperava dele, Rick Riordan falou: John Le Carré uma vez disse que ver alguém transformar um livro seu num filme é como assistir a alguém transformar seus bois num caldo de carne. É verdade. Na minha opinião, o livro é sempre melhor que a versão para o cinema. (...) Eu apenas espero que façam direito.

No Brasil já foram lançados, pela Editora Intrínseca, três, dos cinco livros da série: O ladrão de Raios, O Mar de Monstros, A Maldição do Titã.

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