sábado, 4 de junho de 2016

Crítica: Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos


Como não conheço o famoso RPG Warcraft de mesa ou vídeo e ou versão que o valha, fui assistir ao Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos por causa de algumas cenas, imaginando mais um animation que um live-action...., e pela excelência do seu diretor Duncan Jones (do magnífico Lunar e do bom Contra o Tempo). Não ter visto ao trailer e ou me inteirado mais do conteúdo foi a melhor decisão para poder acompanhar filme em live-ation/animation com imparcialidade e sem a obrigação de compará-lo ao game.  


Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos, com roteiro de Charles Leavitt e Duncan, é uma fantasia de ação, com pretensões épicas, baseada no jogo Warcraft: Orcs and Humans, que (em 1994) deu início à jornada de sucesso do RPG. Para os leigos, uma escolha acertada, pois é ali que é aberto um portal ligando o agonizante planeta Draenor, com sua horda de orcs, à bucólica terra de Azeroth, habitat de humanos, elfos, anões, duendes, que convivem em harmonia. O que não quer dizer que a referência seja facilmente assimilável pelo espectador de primeira viagem, já que no mundo dos orcs há uma hierarquia meio complexa, com diversos clãs..., onde se destaca o Clã Lobo do Gelo, com seu expressivo líder (e o melhor personagem) Durotan (Toby Kebbell - por captura de performance). Mas, nada que o impeça de acompanhar esta história (até rasteira) sem muitas novidades de conteúdo: 1 - raça (alienígena?) predadora que depois de devastar o seu mundo sai em busca de outras terras para repetir a devastação; 2 - raça (humana) que é surpreendida por uma força (alienígena?) avassaladora e fará de tudo para sobreviver ao ataque; 3 - magos ambiciosos (drenadores de energia) às voltas com o poder das magias branca e negra; 4 - romance, relação (e escolhas) entre pais e filhos, traições, batalhas sem fim, selvageria etc. Elementos coincidentes em peças (e franquias) do gênero (ação, aventura, ficção científica, guerra, faroeste etc).


Há um certo desequilíbrio no desenvolvimento dos personagens..., os insanos orcs saem-se muito melhor que os sensatos humanos..., que parecem mais passivos que pacíficos. Possivelmente a psique (e lerdeza?) dos humanos tenha a ver com o roteiro "simplificado" (de game?) e pode ser que mude, caso a franquia tenha êxito. E se mudar, que pelo menos a próxima rodada e ou jogo ganhe em humor, já que nessa primeira cartada não há espaço para gracejo algum. A não ser que a ovelha seja uma piada? Seriedade excessiva pode cansar nesse tipo de narrativa onde se quer acreditar que os personagens estão comprometidos demais com a dramaticidade da guerra para perder tempo com piadinhas (ou blefe) no ir e vir do campo de batalhas e ou nas enfadonhas discussões de estratégias.


Já que jamais joguei o RPG, não sei o quanto Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos assemelha-se e ou reproduz a plataforma (e níveis) do game..., mas, com seus cenários fantásticos (reais e em CGI), é um espetáculo de encher os olhos. O destaque, sem dúvida, fica com a excelente animação (em CGI) dos orcs, elaborada com impressionante detalhamento. Embora crie um ruído curioso, ao misturar a notável animação com humanos, se você pensar que o título fala em “dois mundos”, então não há problema em aceitar universos (tecnicamente) tão diferentes, mas cheios de pontos em comum: heróis e vilãos, benevolência e traição..., onde o bem e ou o mal está na subjetividade do espectador (jogador?) diante da trama (linear). Um viés de amoralidade que não deixa de ser um ponto positivo.


Enfim, para um mero espectador, o Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos não me soou tão ruim quanto a muitos colegas de crítica (e talvez jogadores do game). Embora tenha pontos soltos (o que aconteceu com os lobos?) e algumas “soluções” apressadas (nada convincentes, talvez a serviço de um argumento futuro), um ou outro tropeço na edição e personagens humanos sem nenhum carisma, a ser creditado mais ao script do que ao elenco..., desembarquei relativamente satisfeito da fantasia. Talvez não seja tão relevante, mas certamente algum cinéfilo irá se divertir (mais?) fazendo analogias míticas, com nomes e sequências que remetem, principalmente, às lendas judaico-cristãs..., ou passar batido pelas insignificâncias que, propositais ou não, com certeza têm nada a ver com a onda de filmes para a evangelização. 

Ah, e verdade não seja ocultada, apesar da falta de humor (me) incomodar, seria injusto não saudar a ousadia de Duncan em matar personagens importantes na história..., pelo menos neste capítulo. Para tamanho gesto, há que se ter uma ótima carta na manga.

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