Independence Day - O Ressurgimento
por Joba Tridente
Assistir ao Independence
Day, em 1996, foi uma experiência e tanto. A sala era a do extinto Cine
Palace Itália..., ampla e superconfortável, localizada no 7º andar do Centro
Comercial Itália, em Curitiba, Brasil. Na época a novidade era o som surround e a imersão na trama era
total, já que as caixas de som, estrategicamente distribuídas, faziam o áudio
percorrer toda a área. A impressão era a de alguém falando ao lado ou atrás de
você. As aeronaves “cruzavam” e estremeciam toda a sala. Um componente
imprescindível para curtir o exagerado sci-fi
de Emmerich, onde não falta a histeria norte-americana (diante do caos), o
patriotismo estadunidense (diante da adversidade), a exaltação nacionalista dos
sobrinhos do Tio Sam, sempre dispostos a “salvar” o mundo de qualquer ameaça
externa, até mesmo alienígena.
Acho que sou um dos raros críticos brasileiros assumidamente
fã do patriótico e bizarro Independence
Day (1996), de Roland Emmerich, o diretor dos mais caros (alguns até
divertidos) trash movies de
Hollywood. O filme de ação, que qualquer cinéfilo, com esperteza mínima,
detecta logo de cara que a inspiração atualizada (com bactéria substituída por vírus
de computador) vem do romance de ficção científica Guerra dos Mundos (1898), de H.G.Wells, cuja adaptação para o
cinema, com roteiro de Barré Lyndon e direção de Byron Haskin, em 1953, está
entre as melhores de todos os tempos..., é o tipo de produção que se ama ou se
odeia. Em 2005, a obra de Wells, que deveria descansar em paz, também serviu de
inspiração para uma versão insossa de Steven Spielberg.
Agora, aproveitando a onda revivalista hollywoodiana que, em
2015, já despertou em refilmagens toscas O Exterminador do Futuro, Star Wars e Jurassic
World, os produtores assopram as velhas brasas de Independence Day..., para ver o que ressurge dos escombros e pode
seguir iluminando economicamente o caminho da tremulante bandeira americana. Como
soprar as cinzas, 20 anos depois, exige um bom fole, além de Roland Emmerich, Dean
Devlin, Nicolas Wright, James A. Woods e James Vanderbilt roteirizaram a “nova”
invasão: Independence Day - O Resurgimento
(Independence Day - Resurgence,
2016).
Independece Day - O Ressurgimento,
dirigido com o costumeiro estardalhaço destrutivo por Roland Emmerich é pouco mais e pouco menos do mesmo. No pouco mais:
as dimensões da nave mãe (praticamente um planetoide do tamanho do Oceano Atlântico
e que nem cabe na tela) e um novo alienígena. No pouco menos: a falta de humor,
de nonsense, de ironia (adoradores de ETs); de ingenuidade, de cenas icônicas
(destruição da Casa Branca) que marcaram o Independence
Day (1996). Em comum, entre os dois 4
de Julho, além da data que deve ser importante também para os alienígenas, a
presença da grande maioria dos personagens/atores (David Levinson/Jeff Goldblum,
Thomas J. Whitmore/Bill Pullman, Dr. Brackish Okun/Brent
Spiner, Julius Levinson/Judd Hirsch) do filme anterior, agora mais velhos e meio
psicóticos, mas ainda cheios de gás para combater o mal que vem do espaço
sideral. Os velhos personagens podem até estar datados, mas “empolgam” mais que
os jovens militares (Jake Morrison/Liam Hemsworth, Dylan Dubrow-Hiller/Jessie
Usher, Patricia Whitmore/Maika Monroe, Rain Lao/Angelababy)
dispostos a morrer pelo mundo (americano).
Por conta de um argumento pouco original para o Ressurgimento..., resgate de meia dúzia
de ETs pingados e (como sempre) extermínio de toda vida na Terra para apropriação
da sua maior fonte de energia..., o roteiro, a cinco cabeças pensantes, é
claudicante. Ou melhor, é infantil com entorpecimento juvenil (adolescente):
sem imaginação! Haja buracos! Os personagens (todos sem nenhum carisma) e os
arcos melodramáticos têm a profundidade rasa de um pires. Sequências
barulhentas sucedem sequências barulhentas, embaladas por uma invasiva e
horrenda trilha sonora, do princípio ao fim, e pelo (descerebrado) discurso
militaresco americano de salvador (único!) do mundo. O que até poderia ser
divertido se não faltasse o sarcasmo, o sabor trashão (involuntariamente?) típico de Emmerich.
Enfim, considerando que a sua narrativa (ainda que confusa) é
tão previsível (já vista em trocentos filmes-catástrofe) e sem qualquer sinal
de perigo imediato; que nenhum espectador vai sentir frio na espinha, ficar
grudado na cadeira e ou perder muita coisa se for ao banheiro; que o 3D e os
efeitos (CGI) especiais são razoáveis (embora os de agrupamento de aeronaves pareçam
amadores); que as sequências de destruição grandiloquentes não chegam a
surpreender; que as gags não
funcionam e o humor é zero; que os clichês de salvamento (incluindo a de um
cachorro), o chororô e mortes ou desaparecimento (sem sangue) de um bocado de
gente, os equivocados traumas familiares e as insinuações amorosas são enfadonhas...,
por se levar muito a sério (?), quando a pedida é de puro escracho (!), Independece Day - O Ressurgimento me
pareceu apenas um filme de “boas” intenções que infelizmente não se concretizaram.
Não sou saudosista, mas me lembro (e me empolgo mais ao me
lembrar) de cenas do Independence Day,
que vi há 20 anos, do que das que vi há dois dias.
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