Que Godzilla
é um simpático lagartão japonês, todo mundo sabe, até mesmo os japoneses. O
dinossauro que ganhou notoriedade em 1954, com o filme japonês Godzilla, exorcizando na telona os
horrores da 2ª Guerra Mundial, principalmente o ataque atômico (de 1945) a Hiroshima
e Nagasaki, vem resistindo ao tempo e ganhando releituras (animações, hqs) inclusive
(é claro!) norte-americanas, como a Godzilla
(1998), de Roland Emmerich, com aquela pegada de humor (trash) tradicional em seus filmes-catástrofes.
Agora, em 2014, o sessentão Godzilla está de volta na versão cinematográfica de Gareth Edwards (do excelente Monstros).
A nova história não varia muito o despertar e a ação intempestiva do Rei dos Monstros e, de quebra, de dois inimigos seus, os MUTOs..., por conta de abalos sísmicos, testes
nucleares, radioatividade, estupidez humana, arrogância, prepotência etc. O
roteiro é simplório, a trama é redondinha, bem na medida para crianças e adolescentes:
família (quase) feliz, pai ausente, cientistas em conflito, tragédia,
autoritarismo, medidas idiotas, atos “heroicos”. Excetuando a dieta dos
inimigos de Godzilla, há nada que não
se tenha visto em trocentos filmes do gênero catástrofe, principalmente quando
ela (a catástrofe!) é desencadeada pelos militares (norte-americanos) e ou ação em que eles
(os estadunidenses) são convocados (sempre) para "resolver" um problema (alheio),
geralmente da forma (bélica) mais radical.
Gostar ou não de um filme, muitas vezes (no meu
caso) depende do grau de expectativa. O trailer de Godzilla, com seu clima de mistério e insinuações de muita ação e
aventura, pareceu convidativo. Já o filme não me pareceu tão promissor assim,
com seu drama-clichê sem muita convicção e nenhum personagem humano
interessante e ou que mereça um mínimo de atenção e ou preocupação em suas
tramas secundárias (mesmo!). É tudo muito “então, tá!”. Por vezes lembra o
combatido Emmerich, que (é claro!) também não dispensa clichês.
Tubo bem que (cinematograficamente) não se faz catástrofe
urbana sem drama humano (piegas) expondo crianças e bichinhos de estimação em
situação tensa, mas esta, envolvendo japoneses, havaianos, americanos...,
poderia ser encurtada (em cacos), no mínimo, em meia hora, sem qualquer perda
narrativa. Em mais de duas horas de duração, apenas ¼ do filme é ocupado pelos
monstrengos: o velho simpático e pesadão e lento Godzilla
e os feiosos parasitas MUTO, misto de orangotango com pterodáctilo e
gárgulas-águias Art Déco da Chrysler Building, em NY. Os outros ¾ são enrolação
com burocrático e previsível drama familiar e jogo de cena militaresca
estadunidense.
Godzilla (Godzilla, EUA, 2014) ganha alguma ação (e
ritmo) apenas quando aparecem (ainda que de relance) um monstrengo ou outro. Na
verdade os MUTOs aparecem bem mais que
Godzilla...., não porque são um pouco
mais ágeis, mas porque têm pressa (você vai dizer que já viu desfecho subterrâneo
bem parecido!). Até mesmo a luta entre os três bichos é meio devagar. Não
empolga! Em momento algum o filme provoca alguma sensação de medo, pavor, ou terror.
Nem provoca algum riso, já que não tem uma piada (nem escatológica!) sequer. Como
disse, acima, é tudo muito “então, tá!”.
Enfim, considerando que Godzilla é infantojuvenil, não é tão divertido e envolvente quanto ao Círculo de Fogo, de Guillermo Del
Toro..., mas que os efeitos especiais, e ao menos a parte dos monstrengos, são excelentes
e que o elenco (Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Bryan Cranston), mesmo ciente
da insignificância de seus personagens, é dedicado, o filme pode agradar ao
espectador menos ansioso que eu. Se houver (con)sequência, é bem provável que o gorducho lagartão americanizado, com sua dieta de refrigerante e batatinhas, volte mesmo é como um lutador de sumô.
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