A lógica do lucro é simples, apesar de nem
sempre eficaz: se um filme vai bem de bilheteria nos EUA e no “resto” do mundo,
não adianta chiar, vira, vira, vira e vai virando franquia, até cansar (?) o
público fiel. É claro que nem todos os títulos e gêneros são fecundos. Muitas
promessas (e apostas altas) de fertilidade (e criatividade) são abortadas no
lançamento da matriz. O que (ainda) não é o caso do repasto Tá
Chovendo Hambúrguer.
Estimulada pelo grande sucesso em 2009, a
comédia de animação Tá Chovendo Hambúrguer
2 (Cloudy With a Chance of Meatballs
2, EUA, 2013) traz Flint e sua turma
em uma aventura ainda mais surreal. Para quem não viu (?) a desastrada
empreitada de Flint, no filme
anterior, um prólogo o coloca no palco dos acontecimentos e continua daí. A
nova trama, cuja receita mistura tecnologia (geek: sucesso a qualquer preço) e psicodelia (hippie: paz e amor), trata de dois assuntos: a busca de Flint por reconhecimento profissional no
campo científico e a limpeza de ilha, coberta de alimentos produzidos pela
máquina FLDSMDFR. Ambos têm um ponto
em comum: Chester V, CEO da Live Corp, que, além de oferecer gratuitamente
os serviços da sua empresa, para limpar Swallow Falls, convida o jovem inventor
a estagiar em sua corporação. O inocente Flint,
que idolatra Chester V, aceita seus préstimos, sem questionar
a razão de tanta “bondade”.
Na primeira história a comida chovia sobre os
turistas e ilhéus de Chewandswallow (antiga Swallow Falls). Agora, desde que a
máquina FLDSMDFR (Flint Lockwood Diatonic Super Mutating
Dynamic Food Replicator) despencou na ilha, ela surge da água primordial
empoçada ali. Swallow Falls está lá, ainda coberta de restos de comida, mas não
é exatamente o mesmo “acidente geográfico”. À semelhança daquela que abriga o Jurassic Park, a ilha (cuja exuberância
também lembra Pandora, de Avatar) poderia
ser chamada de Éden-Food Island, já
que está ocupada por coloridíssimas famílias de comidanimais: bananavestruzes,
flamangas, serpentortas, queijaranhas,
mosquitorradas, camaranzés, melanfantes, temperossauros...
Como o seu antecessor, Tá Chovendo Hambúrguer 2, dirigido por Cody Cameron e Kris Pearn,
começa dinâmico, com uma fascinante estilização do interior da molecular Live Corp, no Vale do Silício, onde Flint e milhares de outros nerds
estagiam em busca de uma vaga (sim, você pode ter visto algo parecido em Os Estagiários). Porém,
assim que os diretores e roteiristas caem na real (?) de que o alvo é a
criançada e não necessariamente os seus acompanhantes, os dois terços seguintes
se arrastam repetitivos e menos envolventes (para o adulto!). É totalmente
desnecessária a explicação detalhada (duas ou três vezes) de tudo.
Por mais graciosas e coloridas que sejam as comidanimais, logo vem a conexão com a
fauna extravagante de O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida, e Os Croods - Uma Aventura nas Cavernas. Se
bem, que nesse caso, é difícil atribuir alguma culpa (ou falta de originalidade!),
já que a realização de uma animação toma um bocado de tempo e, quem sabe!, pode
ser mera coincidência a exploração do mundo animal absurdo.
Tá
Chovendo Hambúrguer 2, apesar do roteiro relativamente simplório
(para o adulto!), é uma animação simpática. Por conta da maluquice dos personagens,
ela tem bons elementos para agradar a criançada (que adora brincar com a
comida!). O seu humor é meio assim-assim: trocadilhos, piadas escatológicas, de
duplo sentido, de sentido perdido na tradução e dublagem - só entendi algumas tiradas
(como a do tomate, por exemplo) muito depois de ter deixado a sala. Em meio a
mensagens edificantes chama a atenção o irônico destino do vilão. Um destino
incomum na grande maioria das produções de ação e aventura, independente do seu
público alvo.
Ah, adoraria ver a reação dos radicais
vegetarianos, veganos, carnívoros, macrôs etc..., diante de uma comida tão
linda, tão selvagem e tão viva! Será que passariam fome ou partiriam logo para
a “antropofagia”?
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