Natal chegando e já começa a pipocar nos cinemas
os filmes da época, tipo família, edificante, natalino e animações para todos
os gostos e idades.
Fechando novembro, estreia a mais nova aposta da
DreamWorks no que pode vir a ser uma divertida franquia muito (mas muito!) animada:
A Origem dos Guardiões. Baseada na
série literária The Guardians of
Childhood (Os Guardiões da Infância), do premiado escritor William Joyce (do fascinante
curta-metragem, ganhador do Oscar em 2012: The
Fantastic Flyng Books of Mr. Morris Lessmore), o filme apresenta um
estranho Conto de Fadas contemporâneo,
a começar pela inusitada esquipe protagonista: Papai Noel, Bicho Papão
(Pesadelo), Coelho da Páscoa, Fada do Dente, Sandman (Senhor dos Bons Sonhos) e Jack Frost.
São personagens que estão no imaginário das
crianças (e ex-crianças) do mundo inteiro. Alguns são mais regionais, como o
nórdico Jack Frost (relacionado ao
frio, à neve), mas que a fantasia globalizante ajuda a popularizar. Bem, esses seres
lendários foram reunidos numa espécie de “Liga
Heroica do Mundo da Fantasia”, denominada Os Guardiões, para combater o Bicho
Papão, que se prepara para espalhar seus piores pesadelos, principalmente entre
as crianças, envolvendo a Terra numa escuridão eterna. É o embate entre a Luz (alegria)
e a Treva (medo). Além de combater o mal, nossos heróis precisam fazer com que
as crianças não os esqueçam e nem deixem de curtir a infância com muitas
brincadeiras, dando asas à imaginação.
A
Origem dos Guardiões (Rise
of the Guardians, EUA, 2012), dirigida por Peter Ramsey (Monstros vs.
Alienígenas), traz alguma novidade aos temas (Natal, Páscoa, Fadas) excessivamente
explorados, como por exemplo, um imenso Papai
Noel tatuado, que deve ser muito mais engraçado na versão original, dublado
com sotaque russo por Alec Baldwin. Aliás, a versão brasileira, infelizmente,
descarta todos os sotaques e assim, quem optar pela dublagem nacional não
ouvirá a voz de Hugh Jackman dando vida ao esquentado Coelho da Páscoa (especializados em artes marciais e mestre do bumerangue)
ou Jude Law apavorando com o insinuante Bicho
Papão (malicioso e perigoso).
A animação, com excelente ritmo e ótimo roteiro
de David Lindsay-Abaire busca a originalidade, ou pelo menos um ponto de vista
diferente do lugar comum, com seu Papai
Noel tatuado, Coelho da Páscoa
que parece um canguru, Fada dos Dentes
que lembra um beija-flor, Sandman
feito de areia dourada... Porém, por mais
interessante que seja a narrativa, alguns momentos remetem a outros filmes do
gênero, como Operação
Presente (2011), que também discutia a importância da criança e de ser
criança imaginativa, além do seu valor para o adulto, reforçando a ideia de que
o Natal é muito mais que um mero presente (de Papai Noel).
Uma referência cinematográfica aqui e outra
literária acolá, no entanto, não tira nenhum mérito ou sequer ofusca o brilho
dessa primorosa produção que traz sequências emocionantes, de pura poesia, protagonizadas
por Jack Frost que, apesar de
brincalhão (feito o adorável Saci Pererê),
se sente deslocado nos dois mundos por não se lembrar do seu passado. Uma dessas
cenas antológicas fala sobre o “eu” (O que somos? Como nos vemos? Como nos veem?)
e define a personalidade do Papai Noel. Desconcertante!
Na sessão-cabine um crítico levou seu filho, de
uns cinco anos, e o piá adorou o filme, tanto quanto o pai. Portanto, acredito
que o belo desenho animado não vai provocar tédio nos espectadores acima dos
doze anos. É um bom momento para se rever os conceitos da Páscoa e do Natal. Ou,
ainda, se quiser, a quantas anda o seu relacionamento com filhos e netos e para
onde foi a sua imaginação quando deixou de acreditar na magia (da vida).
Nota: A
Origem dos Guardiões não tem nada a ver com a impressionante animação
australiana A
Lenda dos Guardiões (2010).
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