quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crítica: Argo



Em Argo a realidade imita a ficção e a ficção imita a realidade para contar uma história tão absurda que, não fosse baseada em fatos reais, seria inverossímil até mesmo para uma ficção (B) hollywoodiana.  

O thriller político, com uma impagável subtrama cômica, narra fatos pouco conhecidos, relacionados ao resgate de seis norte-americanos, após a explosiva tomada da embaixada dos EUA, em Teerã, em 4 de novembro de 1979. Toda ação, pra lá de cinematográfica, só veio a público em 1997, quando o presidente Clinton revelou a operação da CIA que colocou em prática o mirabolante plano do agente Tony Mendez, especializado em exfiltração, em uma missão quase impossível: resgatar seis funcionários americanos asilados na casa do embaixador do Canadá, no Irã. É interessante ressaltar que, mesmo com a liberação de documentos, do lançamento livro Master of Disguise (2000), de Tony Mendez, e do artigo The Great Escape, que Joshuah Bearman escreveu para a revista Wired, em 2007, só agora, com este fascinante filme dirigido, produzido e estrelado por Ben Affleck, o fato ganha realmente notoriedade.


O prólogo é um breve e importante relato histórico, ilustrado com fotos, desenhos, noticiário..., que situa o espectador nesse imbróglio em que os EUA se meteram (como sempre!) lá nos idos de 1953 e até hoje pagam a conta. A excelência do roteiro de Chris Terrio, com base no livro de Mendez e na matéria de Bearman, busca foco narrativo na sequência de eventos após a tomada da embaixada americana, e na imaginativa trama elaborada pelo agente da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), para resgatar seis funcionários americanos refugiados na casa do embaixador canadense Ken Taylor (Victor Garber).

Argo (Argo, EUA, 2012) é o cinema que (independente da origem) dá prazer assistir. A direção de Affleck é o fiel da balança entre o suspense e o nonsense. Se por um lado a tensão prende o espectador à cadeira, por outro o humor sarcástico, a fina ironia (na homenagem e crítica a Hollywood) arranca boas risadas (não gargalhadas!). É que o plano elaborado por Tony Mendez, para resgatar os seis norte-americanos, consistia em criar uma falsa produção cinematográfica de ficção científica (tipo Star Wars) que seria rodada no Irã (Agente O’Donnell: Essa é a melhor ideia ruim que temos, senhor. De longe.), entrar em Teerã, vender o projeto, e sair de lá com os refugiados, como integrantes da equipe de produção. Para tanto, com o país em convulsão e todo e qualquer estadunidense na mira, Mendez precisava dar credibilidade ao tal filme e recorre, é claro a Hollywood, onde encontra o seu grande amigo John Chambers (Jonh Goodman), que o apresenta ao decadente produtor Lester Siegel (Alan Arkin), ambos atores em performances inspiradíssimas, e a tramoia da fictícia Studio Six Productions acaba saindo melhor que a encomenda.


Argo beira a perfeição. Ben Affleck dirige com muita segurança, o que deixa os ótimos atores em plena sintonia com a inusitada narrativa. Liberdade poética à parte, é um filme muito bem produzido (reconstituição de época, figurino, trilha), editado (William Goldenberg) e brilhantemente fotografado por Rodrigo Prieto, que “experimentou” de tudo (até Super 8) para resgatar aqueles dias de fúria e fazer as imagens do noticiário (que se vê na tela) parecerem reais. Um serviço de mestre que joga com a cor e a luz (e o granulado) para ressaltar ambientes e dar veracidade ao drama e ao cômico, enaltecendo a magia do cinema. Pois, como disse Tony Mendez: Era um jogo sem nenhuma regra, portanto era extremamente arriscado. O detalhe mais perigoso era o capricho das pessoas que estávamos tentando enganar. Não tínhamos como prever o que aconteceria - conosco ou com os reféns - se fôssemos pegos.

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