Em Argo
a realidade imita a ficção e a ficção imita a realidade para contar uma
história tão absurda que, não fosse baseada em fatos reais, seria inverossímil
até mesmo para uma ficção (B) hollywoodiana.
O thriller político, com uma impagável subtrama
cômica, narra fatos pouco conhecidos, relacionados ao resgate de seis
norte-americanos, após a explosiva tomada da embaixada dos EUA, em Teerã, em 4
de novembro de 1979. Toda ação, pra lá de cinematográfica, só veio a público em
1997, quando o presidente Clinton revelou a operação da CIA que colocou em
prática o mirabolante plano do agente Tony
Mendez, especializado em exfiltração, em uma missão quase impossível:
resgatar seis funcionários americanos asilados na casa do embaixador do Canadá,
no Irã. É interessante ressaltar que, mesmo com a liberação de documentos, do
lançamento livro Master of Disguise
(2000), de Tony Mendez, e do artigo The
Great Escape, que Joshuah Bearman escreveu para a revista Wired, em 2007, só agora, com este fascinante
filme dirigido, produzido e estrelado por Ben
Affleck, o fato ganha realmente notoriedade.
O prólogo é um breve e importante relato
histórico, ilustrado com fotos, desenhos, noticiário..., que situa o espectador
nesse imbróglio em que os EUA se meteram (como sempre!) lá nos idos de 1953 e
até hoje pagam a conta. A excelência do roteiro de Chris Terrio, com base no livro de Mendez e na matéria de Bearman, busca
foco narrativo na sequência de eventos após a tomada da embaixada americana, e na
imaginativa trama elaborada pelo agente da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck),
para resgatar seis funcionários americanos refugiados na casa do embaixador
canadense Ken Taylor (Victor Garber).
Argo (Argo, EUA, 2012) é o cinema que
(independente da origem) dá prazer assistir. A direção de Affleck é o fiel da
balança entre o suspense e o nonsense. Se por um lado a tensão prende o
espectador à cadeira, por outro o humor sarcástico, a fina ironia (na homenagem
e crítica a Hollywood) arranca boas risadas (não gargalhadas!). É que o plano
elaborado por Tony Mendez, para resgatar os seis norte-americanos, consistia em
criar uma falsa produção cinematográfica de ficção científica (tipo Star Wars) que seria rodada no Irã (Agente
O’Donnell: Essa é a melhor ideia ruim que
temos, senhor. De longe.), entrar em Teerã, vender o projeto, e sair de lá
com os refugiados, como integrantes da equipe de produção. Para tanto, com o
país em convulsão e todo e qualquer estadunidense na mira, Mendez precisava dar
credibilidade ao tal filme e recorre, é claro a Hollywood, onde encontra o seu
grande amigo John Chambers (Jonh Goodman), que o apresenta ao
decadente produtor Lester Siegel (Alan Arkin), ambos atores em
performances inspiradíssimas, e a tramoia da fictícia Studio Six Productions acaba saindo melhor que a encomenda.
Argo beira
a perfeição. Ben Affleck dirige com muita segurança, o que deixa os ótimos
atores em plena sintonia com a inusitada narrativa. Liberdade poética à parte,
é um filme muito bem produzido (reconstituição de época, figurino, trilha),
editado (William Goldenberg) e brilhantemente fotografado por Rodrigo Prieto,
que “experimentou” de tudo (até Super 8)
para resgatar aqueles dias de fúria e fazer as imagens do noticiário (que se vê
na tela) parecerem reais. Um serviço de mestre que joga com a cor e a luz (e o
granulado) para ressaltar ambientes e dar veracidade ao drama e ao cômico, enaltecendo
a magia do cinema. Pois, como disse Tony Mendez: Era um jogo sem nenhuma regra, portanto era extremamente arriscado. O
detalhe mais perigoso era o capricho das pessoas que estávamos tentando
enganar. Não tínhamos como prever o que aconteceria - conosco ou com os reféns
- se fôssemos pegos.
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