domingo, 19 de setembro de 2010

Crítica: O Bem Amado


Crítica: O Bem Amado

Dirigido pelo irregular Guel Arraes (que também assina o roteiro em parceria com Miguel Paiva), finalmente estréia em Curitiba a comédia (?) O Bem Amado (Brasil, 2010), fazendo o espectador sentir saudade da novela, da minissérie, do Odorico Paraguaçu, de Paulo Gracindo (1911 - 1995), da Judicéia Cajazeira, de Dirce Migliaccio (1933 - 2009), do Dirceu Borboleta, de Emiliano Queiroz, do Zeca Diabo, de Lima Duarte.

O Bem Amado fala de um prefeito corrupto que constrói um Cemitério em Sucupira, cumprindo uma promessa de campanha, e como não consegue inaugurá-lo, por falta de um morto sequer, trata de arranjar uma forma de “provocar” alguma morte e ficar bem com seus eleitores e acalmar a oposição. No cinema a história virou um vídeoclip onde se embaralharam, num ritmo alucinante e sem decodificador, curioso material de telejornais, boa música, fotografia e figurino (genéricos) almodovarianos, narrativa confusa, “piadas” velhas e sem graça, personagens gritadores... Assim (como em Origem, de Christopher Nolan) o espectador não se atém às falhas de roteiro ou precariedade da narrativa.


A “comédia” (comum às produções da Globo) tem cara de especial televisivo de pés de barro, onde só falta a claque de gargalhadas compradas. Se bem que não sei se seria o suficiente para provocar algum riso no público mais exigente. É um filme que começa e termina sem um rumo definido. Não namora e nem desocupa a moita onde a farsa, a sátira, a ironia de Dias Gomes provocava os fiéis à tradição, à família e ao patrimônio (político e religioso). As divertidíssimas irmãs cajazeiras foram tão descaracterizadas que (agora) não passam de três solteironas aborrecidas. E a peça-mestre acabou se diluindo, quadro a quadro, em sequências de nada.

Produção muito inferior à obra levada à televisão e ao teatro, essa versão cinematográfica é elencada (como sempre) pelos globais (de sempre), com seus tiques (de sempre) dos personagens que “interpretam” no momento televisivo: Zezé Polessa encarna uma Dorotéia Cajazeira, com a mesma entonação “cômico-dramática” de Sofia, da tola novelinsossa Escrito nas Estrelas; Tonico Pereira (Vladimir, dono do jornal A Trombeta) continua sendo o chato Mendonça, chefe de Lineu (Nanini), no cansativo A Grande Família, de onde parece que Andréa Beltrão acabou de sair, para travestir a Marilda em Dulcinéia Cajazeira. Quanto à caricaturice de Caio Blat e Maria Flor, vivendo o casal Neco Pedreira e Violeta (“igual que nem” a todos os casais dos filmes de Arraes), com seus diálogos em soquinhos, “sutaqui” nordestino encariocado, cuja sensualidade fica abaixo de zero, é melhor nem comentar. Encabeçam a trama, mas também sem convencer: Marco Nanini (Odorico Paraguaçu), Matheus Nachtergaele (Dirceu Borboleta), José Wilker (Zeca Diabo), Drica Moraes (Judicéia Cajazeira).

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