A Família Dionti
por Joba Tridente
Sinopses
e trailers podem ser pegadinhas de mau gosto e ou podem surpreender positivamente
a quem costumar dar muita importância para ambos..., já que nem sempre fazem
jus ao filme e ou vice-versa e ou vira e desconversa.
Pela
sinopse (raramente, só se distraído, vejo trailer) o longa-metragem
infantojuvenil A Família Dionti, parece
interessante em sua proposta de dialogar com o realismo mágico (ou fantástico),
que na literatura brasileira se destacam o mineiro Murilo Rubião e o goiano
José J. Veiga: A Família Dionti narra a
fantástica história de um pai (Josué) e seus dois filhos, Kelton, de 13 anos, e
Serino, de 15, que vivem em um sítio no interior de Minas Gerais. A mãe não
mora mais com eles, pois derreteu de amor, evaporou e partiu. Enquanto todos os
dias sonha com a volta da mulher a cada chuva que cai, Josué (Antônio Edson) cuida dos filhos com olhar atento, preocupado com a possibilidade de
que tenham herdado o dom da mãe. Serino (Bernardo Santos) é seco e
chora grãos de areia e Kelton (Murilo
Quirino), ao se apaixonar por Sofia (Ana Luiz Marques), uma garota de circo,
literalmente se liquefaz de amor.
Promissor,
não? Num interior bucólico, lá pra bandas de Dores da Vitória e de Angustura,
beirando um atalho mineiro de Guimarães Rosa e uma trilha mato-grossense de
Manoel de Barros, a história desta família singular que comunga sonhos molhados
e pesadelos secos que, de uma hora pra outra, podem se desmanchar ao vento e ou
ao sol, tem início com uma chuva madrugadora que Josué espera que traga de volta a sua amada esposa e mãe dos
meninos. E daí, como a imprevisibilidade da chuva, a vida segue lerda, num
cotidiano de pouco fazer ou contornar: a rotina na escola “branca” de Kelton; o desejo de Serino por uma bicicleta nova; os afazeres de Josué em casa e na olaria; as histórias de circo da itinerante Sofia; a iminência do inusitado...
É
sempre bom quando narrativas diversas desvelam o que inda há de belo e natural,
Brasil afora e adentro. Toda via da beleza das locações, no entanto, A Família Dionti (Brasil, Inglaterra, 2015),
com roteiro e direção de Alan Minas,
exagera um pouco ao trazer toda a lerdeza interior de quem mora no bucólico
interior para o melancólico exterior do público da cidade grande. Por vezes a
lerdeza do lugarejo atemporal, onde cabe o cotidiano de quem se prende ao
passado e de quem almeja um futuro longe dali, é tanta que chega a extrapolar a
tela e a dar soninho no espectador mais ansioso.
Num
cenário comercial em que raramente um filme brasileiro moldado para o público
infantil chega às salas de cinema, há que se saudar o bonito e bem
intencionado A Família Dionti, mas
há, também, que ressaltar que a premiada produção não está isenta de falhas. A certa
altura (quando a história começa a perder o interesse?) alguns escorregões
saltam aos olhos e outros passam batidos nos vacilos da direção de arte, da
continuidade, da trilha sonora, dos efeitos especiais, da edição, das
performances...
A Família Dionti é um filme de recortes, de pequenas
cenas (ilustrativas), nem sempre bem costuradas pela linha narrativa. Algumas
cenas, na verdade, são totalmente descartáveis. Há as sequências encantadoras, como a do velho
e suas abelhas, as interessantes, porém mal resolvidas, como a do mágico, sua mulher e a flor, e
ainda as aborrecidas, como as do consultório médico. Na trama leve e pueril,
com toques românticos, tem poesia e tem prosa sertanejas, nem sempre no mesmo
diálogo. O realismo mágico é servido em diversas plataformas (circo, bonecos,
pessoas)..., já o humor, ninguém sabe e ninguém viu, se é que algum dia passou
pela região. Não é que a gente do lugar seja triste, não é isso, mas na
história não tem passagem (gag ou piada) alguma engraçada ou que provoque algo
mais que um sorrisinho amarelo. Nem mineiro da roça é tão contido assim.
Pelo
resultado final, considerando que (na minha leitura de adulto) mesmo com cenas
curtas a disritmia faz a narrativa claudicar; que o argumento é excelente, mas
o roteiro e a direção nem tanto; que os personagens centrais são razoáveis e os
coadjuvantes, como o médico charlatão Dr.
Waldomiro Carls (Gero Camilo) e a
funcionária do Conselho Tutelar, Doroteia
(Neila Tavares), são tão caricatos que,
com suas caras e bocas e trejeitos, os atores estão mais é para “vilões” de
abomináveis “espetáculos infantis”; que o humor faz
uma falta danada..., A Família Dionti
é um filme mediano. Se foi premiado duas vezes pelo voto popular em festivais de cinema (Brasília e Lisboa), deve então agradar ao grande público.
Ficou curioso? Arrisque-se! A minha é apenas uma opinião que não precisa
coincidir com a sua. E se assistir, traga o seu ponto de vista para cá!
*Joba Tridente:
O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Pelo visto, um belo material desperdiçado. Eu, como bom filho adotivo de Minas e com perambulações pelos caminhos de Guimarães Rosa, fiquei tentado a ver. Espero que não me falta a oportunidade.
ResponderExcluirAbraços.
..., olá, J. E. Guimarães, pode ser que tenha um olhar diferenciado e menos crítico. ..., grande abraço!
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