domingo, 30 de abril de 2017

Crítica: Colossal

Colossal
por Joba Tridente

Ficção científica é um tema que sempre ganha uma ferventada no cinema. O que não quer dizer que toda ebulição na telona seja de qualidade e satisfaça ao paladar de todos..., já que são poucos os roteiristas e diretores dispostos a melhorar os ingredientes da tradicional receita no cardápio do gênero.

Colossal (Colossal, 2016), escrito e dirigido por Nacho Vigalondo, é um drama(lhão) de ficção científica divã-psicoterápico que tem tudo para dividir grogues (e esquecíveis) opiniões, principalmente entre os jovens adultos, seu público alvo. A trama, com prólogo em Nova York, miolo numa cidade interiorana estadunidense qualquer, e epílogo em Seul, na Coréia do Sul, pode causar indisposição aos mais suscetíveis. É que o diretor espanhol aproveita a cenografia (e a mística etílica) para misturar, numa coqueteleira de boteco, ingredientes clichês, como alcoolismo, amor, sexo, frustração, vinganças, traumas, egocentrismo, vazio existencial..., na busca de um drink original (de alto teor alcoólico) que suba à cabeça norte-americana e descambe na cabeça sul-coreana. Haja enxaqueca!


A ressaca, digo, a narrativa (que abre com um brevíssimo pré-prólogo de 25 anos atrás, em Seul) segue os passos zonzos da alcoólatra Gloria (Anne Hathaway, com peruca horrorosa que parece que vai se soltar a qualquer momento), uma blogueira desempregada (?) e dispensada pelo namorado Tim (Dan Stevens), que deixa Nova York para morar numa casa literalmente vazia, no interior dos EUA. Ali ela reencontra um colega de infância, Oscar (Jason Sudeikis), que é dono de um bar e lhe oferece emprego de garçonete, e conhece os seus amigos Garth (Tim Blake Nelson) e Joel (Austin Stowell). Para variar, o quarteto passa o dia e a noite bebendo todas e comendo nada. Em território country, nada mais propício que um clima junkie. Será?


Numa manhã, após os goles da noite, Glória (onde estou?) fica sabendo do ataque de um gigantesco monstro, em Seul, que deixa mortos e muita destruição. Algum tempo depois e uns goles a mais, ela se dá conta de que o mostrengo é um avatar que repete todos os seus gestos. E, para a sua surpresa, o “Monstro Glória” não está sozinho, um enorme robô, que é o avatar do seu patrão e amigo Oscar, entra em cena e começa a participar do jogo absurdo. Seguem-se, então, diversas sequências bobas e ou violentas (nos dois lados do planeta), diálogos toscos e redundantes (relacionados à situação de sexo, romance, ego, bebida, possessividade) que acrescentam pouco à trama claudicante. É melhor parar por aqui, já que estas informações básicas estão na sinopse e nos trailers e não quero cometer spoiler das respostas que, com paciência sóbria, você vai ter no catártico terceiro ato. Uma coisa é certa, até lá você vai ficar pensando: Por que Seul e não Pyongyang (na Coréia do Norte), Washington e ou Madri? Será que o excelente cinema da Coréia do Sul tem algo a ver com o quebra-quebra? Calma! Mas fique atento no que anda bebendo!


Vigalondo, que caiu nas graças da crítica com seu excelente Crimes Temporais, de 2007, e a dividiu com o econômico (bota econômico nisso) e preguiçoso Extraterrestre, de 2011, por ter ficado mais na esfera da comédia (sensual e surreal) de costume do que propriamente na da ficção científica (com seu OVNI fixo), que alguns críticos (em vez de desdenhar) preferiram metaforizar sobre a estupidez humana..., não vai muito além com Colossal, um filme de fantasia em que (dependendo do seu estado de espírito ou de embriaguez) o argumento pode lhe parecer bem mais interessante que o resultado (juvenil tardio) final.  


A produção, que segue o modelo de baixo custo, com poucos atores, é uma mistura (a princípio curiosa) de vídeo game de ação e violência com drama(lhão) de vícios e “romantismo”. Porém, ainda no primeiro ato (quando começa a ganhar plataforma e delinear personagens), parece que algo está meio fora de ordem e lugar. E essa impressão bocejante persiste nos dois atos seguintes, uma vez que o devaneio do roteiro não se mostra lá muito acessível a todo espectador-joystick, apaixonado ou não por game e ou gente. O bocejo talvez se justifique pela falta de humor (nem sorriso amarelo e nem humor negro), de gags realmente engraçadas e ou de personagens que provoquem alguma empatia. Talvez! Tudo bem que, como cantou John Lennon na belíssima Nobody Loves You (When You're Down And Out): “Ninguém te ama quando você está por baixo”, mas, cá pra nós, os quatro personagens bebuns são dose..., bem desagradáveis e difíceis de se amar.


Enfim, considerando que bebida no fígado alheio é café forte sem açúcar; que quando não se entende trechos do enredo, metaforiza e deixa pra lá; que os efeitos especiais são bacaninhas; que a culpa pelos personagens malas sem alça não é do ótimo elenco; que apesar da vocação para algo bem interessante (como se vê no epílogo), a história é um psicodrama assim-assim; que o jubiloso final pode ser um recomeço (com ou sem gelo?)..., Colossal, que com sua trama quimérica (para jovens adultos) parece querer homenagear os escritores Charles Bukowski (1920-1994) e William Burroughs (1914-1997), não ficaria mal com o título Colossal Delirium Tremens...



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

2 comentários:

  1. Excelente, Joba!
    Melhores definições, impossível!

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    Respostas
    1. ..., grato, Thiago, pela visita e comentário. ..., assim que publicar sua crítica, me avise!

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