Hoje, após 22 meses de prisão, o self-made man norte-americano Jordan
Belfort é palestrante motivacional. Antes da punição foi um dos maiores nomes
do mercado de ações. Acredita-se que tenha acumulado uma fortuna de bilhões de
dólares que, assim como veio fácil, foi facilmente consumido com drogas, iate,
avião, casas, prostituição etc. A sua depravação, aparentemente, teve fim (?)
ao ser condenado por fraude de títulos e lavagem de dinheiro. Ao colaborar como
FBI teve reduzida a pena (de quatro anos) de prisão e pairam dúvidas se está
restituindo (com seus ganhos atuais) os 110 milhões aos investidores enganados.
A vigarice de Belfort inspirou o filme Boiler Room (2000), do diretor Ben
Younger, e duas autobiografias: O Lobo de
Wall Street e A Caçada ao Lobo de Wall
Street. As duas obras do ex-corretor, adaptadas por Terence Winter, com direção de Martin
Scorsese, resultaram no inclassificável O Lobo de Wall Street. Protagonizado por Leonardo DiCaprio, na pele de Jordan
Belfort, a produção (drama, policial, comédia, paródia, deboche?), na
tradicional leitura grandiloquente (180 min!) de Scorsese traz para a telona,
na maior parte (mesmo!) da trama, toda a
depravação de Belfort e de seus
funcionários, que viviam numa eterna orgia (regada com muita droga) dentro e
fora da empresa de corretagem ostentação. As cenas (cansativas depois de 2
horas de mesmice) são tão bizarras e fantasiosas que é difícil acreditar que
tenham acontecido “assim”..., estão mais para delirium tremens generalizado. Todavia, quem leu os livros, e
comparou, disse que o filme é bem fiel ao relatado. O que não quer dizer que a
obra seja fiel à memoria (apodrecida) de Belfort. No tempo restante, de uma
hora, ou pouco menos, a história (que interessa?) gira rangendo em torno das
falcatruas, cerco policial e vida “pessoal” ou “romântica” do escroque bon vivant.
O Lobo de Wall Street (The Wolf of
Wall Street, EUA, 2013), de Scorsese, é dúbio e espetaculoso. O alucinante
movimento de câmera, com suas lentes “intrusivas”, desvela camada a camada um Jordan que parece definitivamente nascido
para a (rendosa?) prática de crimes financeiros. No jogo de cena, a telona do
cinema vira telinha da TV, onde a publicidade abusa das artimanhas para vender
aos incautos espectadores (!) o psicótico personagem como um produto
(divertido) altamente rentável.
Independente ao olhar crítico, cada espectador,
em busca de mero entretenimento, fará a leitura que quiser e colocará metáforas
(absurdas?) onde bem entender, já que o “lobo” do título, pela sua famosa
voracidade, pode ser tanto um predador sexual quanto um predador econômico, e a
sua empresa/covil, tanto território de negociatas quanto jardim de libertinagem.
Mudando o foco, será que Jean-Jacques Roseau (1712-1778) estava certo ao dizer
que todo homem nasce bom e a sociedade
(econômica?) o corrompe?
O Lobo
de Wall Street, ainda que na cola de Os Bons Companheiros, está aquém de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme (“Não diga mentiras sobre mim,
que eu não direi verdades sobre você”), de Oliver Stone e do envolvente Trapaça, de David O. Russell. Dependendo
do ponto de vista (e do Tico e Teco!) pode ser tão engraçado quanto trágico. Excetuando o ótimo
DiCaprio, há nada a se dizer do elenco totalmente coadjuvante e igualmente
histriônico nessa ode à machofalocracia, onde abundam nádegas masculinas e as personagens
femininas praticamente estão na fita apenas para “favores” sexuais (em
simulações ridículas).
Em sua maioria, as cenas de “sexo”, degradação
humana e consumo de drogas são gratuitas (descartáveis!), aborrecidas e estão
longe de escandalizar o público mais moralista. A repetição exaustiva desse
cotidiano deplorável dá uma sensação de caricatura à narrativa desgovernada.
Nesse clube da bolinha, digo, do Bolinha, uma hora (e meia) a menos seria muito
bem-vinda.
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