quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Crítica: O Lobo de Wall Street



Hoje, após 22 meses de prisão, o self-made man norte-americano Jordan Belfort é palestrante motivacional. Antes da punição foi um dos maiores nomes do mercado de ações. Acredita-se que tenha acumulado uma fortuna de bilhões de dólares que, assim como veio fácil, foi facilmente consumido com drogas, iate, avião, casas, prostituição etc. A sua depravação, aparentemente, teve fim (?) ao ser condenado por fraude de títulos e lavagem de dinheiro. Ao colaborar como FBI teve reduzida a pena (de quatro anos) de prisão e pairam dúvidas se está restituindo (com seus ganhos atuais) os 110 milhões aos investidores enganados.

A vigarice de Belfort inspirou o filme Boiler Room (2000), do diretor Ben Younger, e duas autobiografias: O Lobo de Wall Street e A Caçada ao Lobo de Wall Street. As duas obras do ex-corretor, adaptadas por Terence Winter, com direção de Martin Scorsese, resultaram no inclassificável O Lobo de Wall Street. Protagonizado por Leonardo DiCaprio, na pele de Jordan Belfort, a produção (drama, policial, comédia, paródia, deboche?), na tradicional leitura grandiloquente (180 min!) de Scorsese traz para a telona, na maior parte (mesmo!)  da trama, toda a depravação de Belfort e de seus funcionários, que viviam numa eterna orgia (regada com muita droga) dentro e fora da empresa de corretagem ostentação. As cenas (cansativas depois de 2 horas de mesmice) são tão bizarras e fantasiosas que é difícil acreditar que tenham acontecido “assim”..., estão mais para delirium tremens generalizado. Todavia, quem leu os livros, e comparou, disse que o filme é bem fiel ao relatado. O que não quer dizer que a obra seja fiel à memoria (apodrecida) de Belfort. No tempo restante, de uma hora, ou pouco menos, a história (que interessa?) gira rangendo em torno das falcatruas, cerco policial e vida “pessoal” ou “romântica” do escroque bon vivant.


O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, EUA, 2013), de Scorsese, é dúbio e espetaculoso. O alucinante movimento de câmera, com suas lentes “intrusivas”, desvela camada a camada um Jordan que parece definitivamente nascido para a (rendosa?) prática de crimes financeiros. No jogo de cena, a telona do cinema vira telinha da TV, onde a publicidade abusa das artimanhas para vender aos incautos espectadores (!) o psicótico personagem como um produto (divertido) altamente rentável.

Independente ao olhar crítico, cada espectador, em busca de mero entretenimento, fará a leitura que quiser e colocará metáforas (absurdas?) onde bem entender, já que o “lobo” do título, pela sua famosa voracidade, pode ser tanto um predador sexual quanto um predador econômico, e a sua empresa/covil, tanto território de negociatas quanto jardim de libertinagem. Mudando o foco, será que Jean-Jacques Roseau (1712-1778) estava certo ao dizer que todo homem nasce bom e a sociedade (econômica?) o corrompe?


O Lobo de Wall Street, ainda que na cola de Os Bons Companheiros, está aquém de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme (“Não diga mentiras sobre mim, que eu não direi verdades sobre você”), de Oliver Stone e do envolvente Trapaça, de David O. Russell. Dependendo do ponto de vista (e do Tico e Teco!) pode ser tão engraçado quanto trágico. Excetuando o ótimo DiCaprio, há nada a se dizer do elenco totalmente coadjuvante e igualmente histriônico nessa ode à machofalocracia, onde abundam nádegas masculinas e as personagens femininas praticamente estão na fita apenas para “favores” sexuais (em simulações ridículas).

Em sua maioria, as cenas de “sexo”, degradação humana e consumo de drogas são gratuitas (descartáveis!), aborrecidas e estão longe de escandalizar o público mais moralista. A repetição exaustiva desse cotidiano deplorável dá uma sensação de caricatura à narrativa desgovernada. Nesse clube da bolinha, digo, do Bolinha, uma hora (e meia) a menos seria muito bem-vinda. 

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