domingo, 5 de junho de 2011

Crítica: Kung Fu Panda 2



Os amantes de uma boa animação não têm do que reclamar. Para fechar o semestre, com chave de ouro, nesta semana estreia Kung Fu Panda 2, um filme que é pura beleza e emoção, do princípio ao fim. 

A vida de Dragão Guerreiro, o protetor dos habitantes da Vila da Paz, junto com os Cinco Furiosos (Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Víbora, Garça) e o Mentor Shifu, é plena felicidade para o determinado, porém desajeitado e comilão Po. E ela continuaria assim, cheia de alegria e incansável assédio da população, não fosse a ameaça do pavoneante Lorde Shen, um vilão sem nenhum escrúpulo (é claro!), que pretende conquistar toda a China. Para enfrentar uma ameaça tão grande, como a de Lorde Shen, e a sua terrível e explosiva arma secreta, só mesmo o literalmente grande Po, com seus mirabolantes planos improvisados. Porém, se quiser vencer este inimigo visível, antes ele terá que enfrentar os seus próprios fantasmas e desvelar a sua verdadeira origem. 


Kung Fu Panda 2 (Kung Fu Panda 2, EUA, 2011) retorna à espetacular saga do mais improvável dos lutadores de Kung Fu, o fofíssimo urso panda Po, para contar como tudo começou. Com base no excelente roteiro de Jonathan Aibel e Glenn Berger, que não subestima a inteligência do menor ou do maior espectador, a diretora Jennifer Yuh Nelson fez um filme divertido e contagiante, dosando com delicadeza e precisão as cenas de muita ação e aventura. Os temas tradicionais, como altruísmo, honra, amizade, família, aliados à busca de identidade, são tratados sem pieguice ou didatismo. 


A animação aposta acertadamente no humor sadio e pastelão para aliviar alguns momentos mais dramáticos. A engraçadíssima sequência do dragão engolindo guerreiros é antológica. A presença de Falamacia, a sábia cabra vidente, com a sua fome animal, também é inesquecível. Na verdade, todos os personagens são cativantes, até mesmo os vilanescos. Pelo visual deslumbrante nota-se que a produção não economizou em tecnologia, enriquecendo a narrativa com variadas técnicas de animação, como o teatro de sombra, estampas, desenho tradicional, que resultam num primoroso mix-3D. O único deslize fica por conta da fraca dublagem do ator Lucio Mauro Filho, que às vezes parece não casar com a figura bonachona de Po, mas que não chega a comprometer. 


Ao final do belo espetáculo, com toda a sua filosofia oriental (mesmo que simplificada, para compreensão do público, principalmente, infantil), fica difícil entender a chiadeira dos censores chineses ao filme. É fato que o americano tem uma visão deturpada do mundo não-americano e sempre procura americanizar o que não compreende. Kung Fu Panda é uma fantasia e, como tal, até poderia tomar algumas liberdades poéticas. O que não é o caso. A maioria dos elementos já foi explorada (à exaustão) em filmes marciais (tradicionais) chineses. Toda obra intelectual propicia a cada leitor uma visão diferente, até mesmo à do autor, sobre o tema tratado. No cinema, às vezes, o espectador (crítico ou não) vê coisas que não estão no filme e que lhe parece fazer mais sentido. Ou seja, tudo é uma questão do ponto que se avista ou da metáfora que se almeja. Enfim, como dizem os fãs chineses do panda Kung Fu, em vez de censurar, a China tinha mais é que produzir filmes do gênero.

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