terça-feira, 29 de março de 2011

Crítica: VIPs


por Joba Tridente

É fácil encontrar pontos em comum entre o Marcelo Nascimento da Rocha (Wagner Moura) de VIPs (VIPs, Brasil, 2010), dirigido por Toniko Melo, e o Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) de Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can, 2002), de Steven Spielberg. Ambos são “baseados” em fatos reais e falam de jovens que através da farsa ou da falsificação, acabaram se dando bem (e mal) na vida. Mas esse é só um detalhe do filme brasileiro levemente inspirado no livro VIPS - Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano que, durante um ano, frequentou o Centro de Triagem de Curitiba, para entrevistar Marcelo Rocha, e foi a campo para checar a veracidade dos fatos. E não foram poucos os logros dele junto a artistas, traficantes, celebridades de ocasião.

VIPs não chega a ser uma cinebiografia do criminoso Marcelo Nascimento, já que o foco está em apenas dois dos seus muitos esquemas, o do envolvimento com narcotraficantes e o (mais famoso) que se faz passar por Henrique Constantino, o herdeiro da Gol, e é desmascarado ao aparecer no programa do Amaury Jr. Há, também, mais três citações rápidas e rasas do golpista: adolescente em sala de aula (ridícula!), piloto sem brevê (aceitável) e membro do PCC (apoteótica), que parecem mais um tropeção do que um equívoco. Elas pouco acrescentam à trama que opta pelo drama (psicológico), em vez do humor (mesmo negro).



O roteiro de Thiago Dottori e Braulio Montovani (querendo parecer neutro) tenta justificar as atitudes do estelionatário paranaense, que conseguiu se infiltrar no high society (do show business e do tráfico), mais como um caso de psicopatia (a ser desculpado e estudado?) do que de bandidagem mesmo: Fui preso porque não consegui mais sair do personagem. O Marcelo (real) tem consciência e domínio total dos seus crimes (até onde se sabe) nada leva a crer que a sua vida bandida seja fruto (podre) da ausência paterna. Ele não é um anti-herói, é bandido, mesmo.

Falar do talento de Wagner Moura (na pele de quem quer que seja) é tão clichê quanto chover no molhado. Em VIPs ele consegue seduzir, de tal forma, o espectador que é impossível não torcer para que a “malandragem” do (seu) simpático personagem (sacaneando os “famosos” ricos basbaques) dê certo. Bem, talvez a sedução tenha a ver com o fato de o Marcelo (do filme) estar mais próximo da ficção do que o Marcelo real, que ninguém da equipe quis conhecer. Um verdadeiro crime de autor (tornar palatável o que é indigesto), partilhado com as boas performances de todo o elenco.

VIPs é um bom filme brasileiro, tem produção competente e direção segura, porém, dura demais. Poderia “brincar” com o famoso jeitinho brasileiro da gente que sempre quer “levar vantagem em tudo, certo?!”, mas não sai da zona de conforto, quando a proposta cinematográfica exige um pouco de risco, de ousadia. Agora, quanto à veracidade dos fatos, é como se diz: uma lenda (recontada) pode ser muito mais interessante que a história (registrada). Desde que se saiba (re)contá-la, é claro! O que não justifica o redundante fato dos grandes estúdios comprarem os direitos de uma obra e, se muito, aproveitar apenas o título.

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