Kick-Ass – Quebrando Tudo
por Joba Tridente
Se você é do tipo que
não aguenta mais ver filmes violentos e tampouco suporta a violência cinecoreografada,
aos modos de Tarantino, passe longe de Kick-Ass.
Mas, se não se importa, talvez goste desta “adaptação” hiper-super-mega-tera
violenta, de uma tresloucada série de quadrinhos que gira em torno de dois
adolescentes e um adulto travestidos de super-heróis.
Kick-Ass - Quebrando Tudo é a cinequadrinização da HQ homônima, criada por Mark
Millar e John Romita Jr. que, pelo jeito, nem eles e nem os personagens, e
muito menos os leitores de quadrinhos e os realizadores do filme ouviram (?)
falar de Watchmen,
a minissérie de Alan Moore e Dave Gibson ou o filme de Zack Snyder. Será? Não
nego que Kick-Ass – Quebrando Tudo,
dirigida por Matthew Vaughn, tenha
alguma originalidade, mas é difícil não vê-lo como um (filme e HQ) genérico “atualizado”
de Watchmen, onde um grupo de pessoas
comuns (mascaradas ou fantasiadas) e sem nenhum poder (mas com alguma psicopatia)
combatem o crime, nos anos 1980. Tudo bem que a narrativa de Kick-Ass está a quilômetros de Watchmen e a sua abordagem fica apenas
no social e na exploração das redes de comunicação, via internet, mas a
psicopatia de alguns personagens de Moore está presente, aqui, nas figuras de
uma singela e sanguinária garotinha de 11 anos, Hit Girl (Chloë Grace Moretz)
e de seu pai, Big Daddy (Nicolas Cage) e, em desenvolvimento,
num adolescente de 16 anos, Kick-Ass
(Aaron Johnson).
Kick-Ass - Quebrando Tudo inicia com Dawe
Lizewski (Aaron) falando (em off) da influência de personagens de histórias
em quadrinhos na vida de muitas pessoas (enquanto um garoto alça vôo de um
prédio), de como ele se tornou um super-herói e o custo de um gesto desses na
vida de um adolescente fã de HQ. Não se sabe se está morto ou vivo. Ele pode
ser uma alma penada, em busca de justiça, ou estar morrendo em algum lugar
desconhecido, relembrando seus atos heróicos. Assim, saímos de um presente-passado
rumo a um futuro-presente para conhecer (através da narração) a história deste
garoto de 16 anos, que comprou uma roupa, pela internet, incrementou com dois
bastões de baseball, treinou algumas poses ameaçadoras (conforme viu nos
quadrinhos), criou o codinome Kick-Ass,
e saiu às ruas da sua cidade para enfrentar bandidos de verdade.
Na primeira tentativa
o garoto se dá muito mal, mas na segunda investida se sai melhor e (como na
vida real) a sua ação é filmada, postada no YouTube, e ele vira celebridade e
febre entre os adolescentes. Enquanto Dawe
banca o visionário Kick-Ass, uma
treinada dupla dinâmica, formada por Damon
Macready (Cage), o pai, e Mindy
Macredady (Moretz), a filha, disfarçados de Big Daddy e Hit Girl, caça
e mata (sem nenhuma piedade) traficantes de droga, em busca de Frank D’Amico (Mark Strong), o chefão do crime que não acredita em super-heróis. A
fantasia da dupla pode até lembrar a do Batman
e a da Mulher Gato, do antológico
seriado de TV dos anos 1960, mas as ações de Hit são de uma Elektra Natchios, de Frank Miller.
A violência de Kick-Ass só tem páreo em Watchmen,
o filme. O incômodo se dá porque é praticada por Hit Girl, a “heroína” de 11 anos, tirando a graça de uma história que
parece ironizar a própria violência cinematográfica, utilizando apropriadamente,
em cada sequência, uma música composta para outros filmes clássicos do gênero. Não
é uma aventura para se ver racionalmente, já que vivemos numa sociedade onde os
únicos que “podem” fazer justiça, com as próprias mãos, são os bandidos e a
polícia. Pode parecer “divertido entretenimento” no cinema, mas, fora das
telas, qualquer cidadão que agir por conta, certamente será preso e condenado.
O que, de certa forma, já foi explorado em Watchmen
(Quem vigia os vigilantes?) e X-Men, entre outras HQs. Na vida real,
de violência real, é difícil saber quem tem mais medo de “heróis” (encapuzados
ou não), se a sociedade civil ou militar. Talvez porque, por trás de uma
máscara, são todos iguais.
Kick-Ass - Quebrando Tudo, no entanto, com seu humor negro e muito escracho,
parece não levar a sério a maluquice de seus “heróicos” protagonistas, por
isso, entre um ato ultraviolento daqui e outro megaviolento dacolá, eles aparecem
em cenas domésticas, vivendo uma vida até normal: Dawe, enquanto não banca o “herói da periferia”, está com os
amigos, lendo quadrinhos ou buscando prazeres solitários na internet ou
tentando conquistar uma garota da escola; Mindy,
na companhia de seu amoroso pai, treina e treina e treina, com as mais diversas
armas, para ser uma assassina eficaz. Se haverá redenção para os adolescentes
ou resgate da menina, para lhe devolver um mínimo de humanidade e a infância
perdida, será preciso atravessar uma cortina de sangue até o final da
narrativa. Alguém sobreviverá à inacreditável matança, resta saber quem!
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