sábado, 26 de junho de 2010

Crítica: Kick-Ass – Quebrando Tudo


Kick-Ass – Quebrando Tudo
por Joba Tridente

Se você é do tipo que não aguenta mais ver filmes violentos e tampouco suporta a violência cinecoreografada, aos modos de Tarantino, passe longe de Kick-Ass. Mas, se não se importa, talvez goste desta “adaptação” hiper-super-mega-tera violenta, de uma tresloucada série de quadrinhos que gira em torno de dois adolescentes e um adulto travestidos de super-heróis.

Kick-Ass - Quebrando Tudo é a cinequadrinização da HQ homônima, criada por Mark Millar e John Romita Jr. que, pelo jeito, nem eles e nem os personagens, e muito menos os leitores de quadrinhos e os realizadores do filme ouviram (?) falar de Watchmen, a minissérie de Alan Moore e Dave Gibson ou o filme de Zack Snyder. Será? Não nego que Kick-Ass – Quebrando Tudo, dirigida por Matthew Vaughn, tenha alguma originalidade, mas é difícil não vê-lo como um (filme e HQ) genérico “atualizado” de Watchmen, onde um grupo de pessoas comuns (mascaradas ou fantasiadas) e sem nenhum poder (mas com alguma psicopatia) combatem o crime, nos anos 1980. Tudo bem que a narrativa de Kick-Ass está a quilômetros de Watchmen e a sua abordagem fica apenas no social e na exploração das redes de comunicação, via internet, mas a psicopatia de alguns personagens de Moore está presente, aqui, nas figuras de uma singela e sanguinária garotinha de 11 anos, Hit Girl (Chloë Grace Moretz) e de seu pai, Big Daddy (Nicolas Cage) e, em desenvolvimento, num adolescente de 16 anos, Kick-Ass (Aaron Johnson).


Kick-Ass - Quebrando Tudo inicia com Dawe Lizewski (Aaron) falando (em off) da influência de personagens de histórias em quadrinhos na vida de muitas pessoas (enquanto um garoto alça vôo de um prédio), de como ele se tornou um super-herói e o custo de um gesto desses na vida de um adolescente fã de HQ. Não se sabe se está morto ou vivo. Ele pode ser uma alma penada, em busca de justiça, ou estar morrendo em algum lugar desconhecido, relembrando seus atos heróicos. Assim, saímos de um presente-passado rumo a um futuro-presente para conhecer (através da narração) a história deste garoto de 16 anos, que comprou uma roupa, pela internet, incrementou com dois bastões de baseball, treinou algumas poses ameaçadoras (conforme viu nos quadrinhos), criou o codinome Kick-Ass, e saiu às ruas da sua cidade para enfrentar bandidos de verdade.

Na primeira tentativa o garoto se dá muito mal, mas na segunda investida se sai melhor e (como na vida real) a sua ação é filmada, postada no YouTube, e ele vira celebridade e febre entre os adolescentes. Enquanto Dawe banca o visionário Kick-Ass, uma treinada dupla dinâmica, formada por Damon Macready (Cage), o pai, e Mindy Macredady (Moretz), a filha, disfarçados de Big Daddy e Hit Girl, caça e mata (sem nenhuma piedade) traficantes de droga, em busca de Frank D’Amico (Mark Strong), o chefão do crime que não acredita em super-heróis. A fantasia da dupla pode até lembrar a do Batman e a da Mulher Gato, do antológico seriado de TV dos anos 1960, mas as ações de Hit são de uma Elektra Natchios, de Frank Miller. 


A violência de Kick-Ass só tem páreo em Watchmen, o filme. O incômodo se dá porque é praticada por Hit Girl, a “heroína” de 11 anos, tirando a graça de uma história que parece ironizar a própria violência cinematográfica, utilizando apropriadamente, em cada sequência, uma música composta para outros filmes clássicos do gênero. Não é uma aventura para se ver racionalmente, já que vivemos numa sociedade onde os únicos que “podem” fazer justiça, com as próprias mãos, são os bandidos e a polícia. Pode parecer “divertido entretenimento” no cinema, mas, fora das telas, qualquer cidadão que agir por conta, certamente será preso e condenado. O que, de certa forma, já foi explorado em Watchmen (Quem vigia os vigilantes?) e X-Men, entre outras HQs. Na vida real, de violência real, é difícil saber quem tem mais medo de “heróis” (encapuzados ou não), se a sociedade civil ou militar. Talvez porque, por trás de uma máscara, são todos iguais.

Kick-Ass - Quebrando Tudo, no entanto, com seu humor negro e muito escracho, parece não levar a sério a maluquice de seus “heróicos” protagonistas, por isso, entre um ato ultraviolento daqui e outro megaviolento dacolá, eles aparecem em cenas domésticas, vivendo uma vida até normal: Dawe, enquanto não banca o “herói da periferia”, está com os amigos, lendo quadrinhos ou buscando prazeres solitários na internet ou tentando conquistar uma garota da escola; Mindy, na companhia de seu amoroso pai, treina e treina e treina, com as mais diversas armas, para ser uma assassina eficaz. Se haverá redenção para os adolescentes ou resgate da menina, para lhe devolver um mínimo de humanidade e a infância perdida, será preciso atravessar uma cortina de sangue até o final da narrativa. Alguém sobreviverá à inacreditável matança, resta saber quem!

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