Sabe
aquela sensação de déjà vu, que
é cada vez mais notória no cinema popular americano? Pois é, pode ser que
você a tenha quando assistir a “comédia de ação” Roubo nas Alturas, estrelada por Ben Stiller e Eddie Murphy. Na
verdade, este filme dirigido por Brett
Ratner, com base no roteiro de Ted Griffin e Jeff Nathanson, está mais para
um drama de roubo, já que o humor é quase inexistente e a “ação” não empolga. É
claro que tem uma ou outra piadinha escatológica (sem graça) de ocasião e a indefectível
sequência (enfadonha) envolvendo carros, mas elas funcionam apenas como tapa
buraco.
Meio que
a reboque do escandaloso caso de fraude (em Wall Street) do megainvestidor Bernard
Leon Madoff, o ex-presidente da Nasdaq (condenado a 150 anos de prisão) responsável
por uma quebra de mais de 60 bilhões de dólares, em 2008, Roubo nas Alturas narra uma história possível, mas nada
convincente. Alan Alda é o bilionário
investidor Arthur Shaw, que aceita “cuidar”
das economias dos funcionários do luxuoso prédio onde mora. Ben Stiller é o honesto Josh Kovaks, o gerente do condomínio e responsável
por confiar a grana dos colegas de trabalho ao investidor. Quando descobre que
foi enganado, Josh arranja um jeito
de reaver pelo menos o dinheiro dos amigos, que investiu na esperança de um
lucro fácil. Para burlar o “sofisticado” esquema de segurança do prédio e
roubar o que acha que lhe é devido, ele contrata o gatuno Slide (Eddie Murphy), o
seu afobado cunhado Charlie Gibbs (Casey Affleck), o ascensorista Dev’reaux (Michael Peña), a camareira Odessa
(Gabourey Sidibe) e um falido
ex-proprietário Sr. Fitzhugh (Matthew Broderick). Josh sabe que não pode esperar muito
desta trupe de ineptos, e logo o espectador se dará conta de que não pode
esperar muito deste burocrático filme.
A princípio,
por conta do mirabolante planejamento de roubo, o argumento pode remeter ao curioso
Um Plano Brilhante (Flawless, 2007), de Michael Radford, mas
só a princípio. Roubo nas Alturas,
que segundo Murphy começou a ser idealizado em 2005, carece de um bom roteiro
com, no mínimo, diálogos inteligentes. Não há nesta “comédia” de, digamos,
costumes, a ironia peculiar nos personagens humilhados (ao menos na ficção), o
sarcasmo do populacho. O desconforto da periferia, do trabalhador imigrante que
faz das tripas coração para agradar o “patrão padrão branco”, é tão civilizado
que constrange. Falta ousadia e engenhosidade (além da sequência do elevador) ao
plano do “justiceiro” Josh,
travestido de Robin Hood de Nova York.
Bem como uma boa dose de safadeza, para dar aquele gostinho de volta por cima,
de virada de jogo na torre do xadrez, para o espectador entender o (óbvio) “trocadilho”
que se anuncia no princípio da trama.
A
produção tem alguns furos que atravancam a narrativa e sem o timing característico
dos filmes do gênero, repete fórmulas gastas, sem ambições criativas e ou
rendimento dos bons atores, que parecem perdidos em um ensaio final para se
testar alguns cacos. A discutível justiça (final) à revelia da Justiça (final),
a primária aula de roubo no shopping e os estereótipos do “negro marginal” e do
“branco trouxa” (vistos até no abominável QueroMatar o Meu Chefe, 2011) podem incomodar aquele público do politicamente correto.
Mas, nada que um banho de realidade, ao sair do cinema, não aplaque. Roubo nas Alturas é um filme escapista
que se vê indiferente à previsível história com seus cacoetes e maniqueísmo. É
uma pena que, num assunto financeiro, que ainda desperta interesse dentro e
fora de Hollywood, seja tão evasivo no esperado olhar invasivo sobre a velha
Wall Street e seus grandes e pequenos “poupadores”.
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