Logan
por Joba Tridente
Para
a fidelidade do leitor, a vida de herói de história em quadrinhos é cheia de
surpresas e finais praticamente previsíveis. Toda via de traços diferenciados no
retrato de um mesmo personagem, no entanto, num mundo onde a realidade pode ser
paralela e ou alternativa, muitos já foram mortos e ressuscitados pelos
roteiristas, para desespero dos fãs, em diferentes plataformas em que atuam:
hq, tv e cinema. É claro que, num universo (ou multiverso) de tantos heróis,
muitos (a maioria?) não fazem a menor falta. Já outros, por mais que seu tempo
tenha passado, têm sempre que voltar à cena.
Embora
poucos leitores se deem conta, nas mãos de um bom autor, o tempo não para nem mesmo
para um carismático super-herói. Porém, chega uma hora em que o sujeito se cansa
de salvar a pátria (ou o planeta) de infinitos vilões. Acostumados com a sua imprescindível
força bruta, poucos de nós se importam com a sua vida pessoal (família,
traumas, estafa). Ou se dá conta de que até mesmo um ator que dá vida a ele,
nas telas de cinema, também envelhece, também se cansa, também quer partir para
outras histórias, até mesmo menos heroicas e, quiçá, mais humanas..., como Hugh
Jackman, que nos últimos 17 anos personificou nove vezes o grande Wolverine ou Logan ou James Howlett, na telona.
Levemente
inspirado nas minisséries Wolverine - O
Velho Logan (Old Man Logan, 2008) e em A
Morte de Wolverine (Death of Wolverine, 2014), o filme de ação Logan (Logan, EUA, 2017), dirigido por James Mangold e estrelado por Hugh
Jackman, chega para fechar com trava de adamantium uma trilogia solo que
começou com X-Men Origens: Wolverine
(2009) e seguiu com Wolverine
Imortal (2013). Pelo que se comenta nos bastidores, este seria o
canto do cisne de Jackman na pele de Logan/Wolverine. Mas, assim como nos
quadrinhos, quem é que sabe? Até uma próxima edição na telona, tudo pode
acontecer!
Escrito
por James Mangold, Michael Green e Scott Frank, a trama de ação (extremamente
violenta!) de Logan se passa em 2029.
Há mais de vinte anos não nascem mais mutantes e a maioria dos X-Men foi morta. Logan (Jackman) está velho, o adamantium o envenena e o seu poder
de cura está debilitado. Para sobreviver ele trabalha como motorista de limusine
na fronteira árida e decadente dos Estados Unidos com o México, na esperança de
juntar dinheiro suficiente para comprar um barco e sair velejando na companhia
do Professor Xavier (Patrick Stewart) e de Caliban (Stephen Merchant), que também estão doentes: “Nós pensamos que todos faziam parte do plano de Deus, mas talvez
fossemos o erro de Deus”.
Ser
motorista é um trabalho cansativo, pouco rentável e há sempre alguns basbaques querendo
atrapalhar a sua vida. Aí, quem não ouve a voz da razão e fere um lobo com
chumbo quente, aprende da pior forma possível que, mesmo velho, debilitado ou
bêbado, um ex-herói não perde a fúria e, ainda que aposentado, sabe muito bem
onde enfiar as suas garras de adamantium.
É em meio a um cotidiano cada vez mais caótico que Logan é contratado para levar Laura (Dafne Keen), uma menina muito especial e tão mal humorada quanto ele, para um lugar chamado Éden, na fronteira com o Canadá. Poderia ser apenas um trabalho de rotina, não fosse o condenável interesse do cirurgião-chefe da Transgen, Dr. Zander Rice (Richard E. Grant), e do perverso segurança Donald (Boyd Holbrook) e sua “gangue” de Carniceiros, pela garota. Se você assistiu a trailers e ou leu material com spoiler já sabe quem é a misteriosa jovem..., mas, para quem prefere a surpresa, me nego a desvelar a sua identidade aqui.
É em meio a um cotidiano cada vez mais caótico que Logan é contratado para levar Laura (Dafne Keen), uma menina muito especial e tão mal humorada quanto ele, para um lugar chamado Éden, na fronteira com o Canadá. Poderia ser apenas um trabalho de rotina, não fosse o condenável interesse do cirurgião-chefe da Transgen, Dr. Zander Rice (Richard E. Grant), e do perverso segurança Donald (Boyd Holbrook) e sua “gangue” de Carniceiros, pela garota. Se você assistiu a trailers e ou leu material com spoiler já sabe quem é a misteriosa jovem..., mas, para quem prefere a surpresa, me nego a desvelar a sua identidade aqui.
Assim
como a minissérie O Velho Logan
(inspirada em Os Imperdoáveis, Mad Max e A Estrada), de Mark Millar, o filme Logan, de James Mangold, pode ser considerado uma dos mais violentos
da Marvel. Mangold aproveita bem as referências cinematográficas de Millar,
principalmente Mad Max, ao conduzir o
espectador por territórios fronteiriços arruinados, mas dispensa o indigesto
humor negro dos quadrinhos. Na verdade, há quase nada de humor em Logan. Nem mesmo a ironia do herói
encontra eco quando, ao lado de Xavier
e Laura, assiste na tv ao clássico
faroeste Shane (1953), de George
Stevens, que, em impressionante reflexo atemporal, se repete belo e trágico em
seu caminho. Justiça e paz de espírito definitivamente parecem não coexistir na
vida dos heróis.
Sem alívio
cômico (raridade num produto da Marvel), o excelente roteiro ganha intensidade
ao traçar uma melancólica e dramática jornada do herói (imortal) para um ex-herói
(imortal) que não quer saber de redenção, mas de ser esquecido..., ainda que o
passado o persiga e todas as dores e feias cicatrizes pelo corpo insistam em
lhe gritar quem foi e ou o quê ainda é enquanto (experimento) vivo. Irascível,
ele sabe como acabar com o próprio sofrimento e possivelmente já o teria feito
não fosse pela amizade e dependência dos amigos Xavier e Caliban.
Sombrio, continuaria “enterrado vivo” em El Paso, no México, até conseguir
comprar um barco, não fosse a determinada jovem Laura arrastá-lo para o Éden.
Enfim,
considerando que, se você é um espectador que resistiu imune à violência de Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010) e Deadpool (2016), vai tirar o “X” de letra; que, se o enredo não te enrola é
porque é muito bom e, em se tratando de um X-Men
(de poucos efeitos especiais e CGI) vai muito bem em sala X-Plus; que, embora a trama “brinque” com a metalinguagem (HQ
dentro da HQ), misturando fantasia (inocente) e horror (brutal), não é uma história
para o público jovem; que muitas sequências são de dar nó na garganta..., Logan é um filme imperdível para fãs de
hq para adultos! Um espetáculo digno (ainda que triste) sobre o ocaso de um
herói. Simplesmente inesquecível!
Nota: Se você espera que após os créditos “Nenhum mexicano foi maltratado, ferido ou
morto durante as filmagens” vai assistir a algumas cenas do próximo filme,
ou não prestou atenção no final da história ou nas notícias de cinema na
internet ou é muito esperançoso...
*Joba Tridente:
O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.