segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Crítica: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald



Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
por Joba Tridente

Os fãs do cinema fantasia de qualidade, sabem que, com o fim da franquia Harry Potter, ficou um vazio bem maior que uma tela branca de cinema pode proporcionar. Mas, como em abracadabra que deu certo, sempre há uma chance de alguma outra varinha de condão ser manipulada, para o bem ou para o mal, por mãos habilidosas, maliciosas e ou, pior, maquiavélicas, dentro ou fora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, eis que, em 2016, voltamos a conviver com o mistério ao folhear as páginas cinematográficas da enciclopédia Animais Fantásticos e Onde Habitam, escrita pelo magizoologista Newt Scamander. Naquele primeiro capítulo, roteirizado por J.K. Rowling e com ótima direção de David Yates, conhecemos uma realidade mágica surpreendente, nos anos 1920, em Nova York, período em que o sonho americano desenvolvimentista e o pesadelo moralista andavam lado a lado com a intolerância e o preconceito, abrindo caminho para a xenofobia.


É nessas primeiras páginas que conhecemos o perverso Grindelwald, disfarçado de Percival Graves (Colin Ferrel), e assistimos à sua prisão pelo MACUSA (Congresso Mágico dos Estados Unidos da América). Agora, quando ia ser entregue às autoridades britânicas, após uma fuga espetacular, o verdadeiro Grindelwald (Johnny Deep) chega a Paris disposto a destilar suas ideias fascistas (para um Bem Maior) e arregimentar bruxos de sangue puro, a fim de estabelecer a superioridade dos magos sobre os trouxas. O único mago que pode derrotá-lo é o seu bom e velho amigo Albus Dumbledore (Jude Law). À medida que Grindelwald age sorrateira e criminosamente para criar uma sociedade ultranacionalista, acompanhamos o sofrimento do jovem obscuro Credence (Ezra Miller), que procura por sua mãe biológica enquanto foge de um bocado de magos. Até mesmo Newt Scamander (Eddie Reydmayne) deixa um pouco de lado seus Animais Fantásticos para encontrar Credence. Pelo que se vê, há bem mais humanos empoderados (caçando ou sendo caçados) que animais domesticados. Mas, sabe como é nesse mundo de bruxedos, quando um portal se abre, ou você chuta o balde, de vez, ou atravessa o pedestal e seja o que a magia quiser...


Imersivo e vertiginoso (em 3D IMAX), Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018), novamente roteirizado por J.K. Rowling e dirigido por David Yates, é daquelas tramas de fios abundantes que vão sendo tecidos vagarosamente para só dar a conhecer o resultado do bordado no arremate. Haja paciência para tantos ornatos! A saga dramática (que está no segundo de cinco capítulos) não adianta muito o alcance feiticeiro das varinhas de condão nas motivações radicais de Grindelwald; nas razões pessoais (talvez até demais) de Albus Dumbledore; na dúbia imparcialidade de Newt; na catarse apavorante do transtornado Credence...

Assim, por enquanto, o que se vê da imensa tessitura é pouco mais de uma curiosa estampa colorida ganhando forma aqui e uma agulhada sangrenta acolá. Imagens impressionantes e conteúdo suficiente apenas para entreter, por hora ou sessão, o espectador que vai ter de esperar ao menos até 2020, para conhecer os novos pontos desse imbróglio, onde um bocado de personagens, como Jacob (Dan Fogler), Queenie (Alison Sudol), Tina (Katherine Waterston), Leta (Zoë Kravitz), Teseu (Callum Turner), Nagini (Claudia Kim), com suas idiossincrasias, mais ou menos exploradas, tenta firmar pé num terreno pra lá de escorregadio, entre o mundo “real” e o “paralelo” (nas entranhas parisienses). Toda via da costura sem dedal, no entanto, nada impede um espectador questionar, por exemplo, se, pelo voar da carruagem de Grindelwald, os fascinantes Animais Selvagens de Newt perderão espaço na história..., se é que não foram meros chamarizes para o enredo sombrio atual..., e ou, contrariando o que se sabe da batalha final entre Grindelwald e Dumbledore, serão os salvadores do dia ou da saga.


Enfim, diferente de Harry Potter, cujos capítulos, de certa forma, tinham começo, meio e fim, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, parece seguir uma linha tipo novela de tv: continua no próximo filme. Ele segue apresentando personagens e mais personagens, desvelando vagamente a personalidade (e intimidade) de um ou outro mago, mas nada que entregue o jogo (da liga) dos vilões e (da liga) dos mocinhos. É um bom aperitivo (sem dúvida!). Mas, para muitos espectadores ansiosos, não muito mais que isso: um produto pensado para ser saboreado com parcimônia, já que a próxima página ainda está em branco.

Embora considere que o roteiro, por vezes confunde mais do que explica; certo que o elenco protagonista e (mesmo) de apoio é excelente; ressaltando a qualidade dos efeitos especiais e reclamando da invasiva e insuportável “trilha sonora”..., Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, com suas metáforas sobre o fascismo e a doutrinação do medo, pode ser visto como um bom (e informativo) espetáculo (sobre os rumos da direita no mundo real) e ou um longo e belo passatempo à beira do escapismo...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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