domingo, 1 de abril de 2018

Crítica: O Homem das Cavernas


O Homem das Cavernas
por Joba Tridente*

Sempre que o estúdio britânico Aardman Animations anuncia mais uma animação (feita com massinha) a expectativa entre os cinéfilos é enorme, dada a inquestionável qualidade artística e de conteúdo das suas produções com adoráveis personagens bizarros (geralmente dentuços) e tiradas desconcertante do humor inglês. Para quem já nos presenteou com obras sensacionais em quadro a quadro (stop motion) como A Fuga das Galinhas (2000); Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2006); Piratas Pirados (2012); Shaun, O Carneiro (2015); e em computação gráfica (CGI) como Por Água Abaixo (2006) e Operação Presente (2011) não parece ser difícil nos surpreender sempre que queira. Eis que, três anos após o bem sucedido lançamento do querido Shaun, aproveitando (?) a celeuma do Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2018, na Rússia, o estúdio nos traz uma inusitada peleja de futebol entre Homens das Cavernas e Homens da Idade do Bronze.


O Homem das Cavernas (Early Man, 2018), dirigido pelo premiadíssimo Nick Park (A Fuga das Galinhas Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais), a partir do roteiro redondinho e muito bem balanceado dos experientes Mark Burton e James Higginson, como já apregoei e ou você já deve ter visto (algumas das melhores cenas) nos reveladores trailers, trata-se de uma fantasia futebolística ocorrida nos primórdios da civilização, lá nos tempos de transição da Idade da Pedra para a Idade do Bronze, numa região próxima a Manchester inglesa.

Ali, numa verdejante cratera, vive o jovem visionário Dug, com seu esperto javali Hognob (que acha que é um cão), em uma pequena e desconexa tribo de Homens das Cavernas chefiada por Bobnar. Enquanto o corajoso Dug sonha em caçar mamutes, o medroso Chefe Bobnar se contenta com a caça ao coelho. Um dia esse adorável recanto ilhado é invadido por um exército celta da Idade do Bronze, liderado pelo ambicioso Lorde Nooth, e a tribo inglesa das cavernas é expulsa do seu paraíso. Cabe, então, a Dug, que casualmente vai parar na cidade dos bárbaros, encontrar um jeito de recuperar a terra da tribo. Ao descobrir que aquele povo agitado (que fala com sotaque francês, no original) cultua o futebol, e desconfiado de que foram os seus ancestrais que inventaram o jogo (num cena antológica com um icosaedro fumegante), o jovem propõe ao Lorde Nooth um neolítico jogo entre o Time de Bronze (celta) e o Time da Pedra (inglês), valendo a posse da cratera verdejante. O único porém é que, enquanto no time profissional dos celtas só tem estrelas, no time de Dug ninguém sabe jogar bola. Aí..., só assistindo pra saber o que rola nesse desafio (a não ser que já tenha visto aos, infelizmente, reveladores trailers!) e como termina esse Jogo das Eras.


A trama de O Homem das Cavernas é simples mas muito eficiente, principalmente porque seus realizadores nunca perdem a oportunidade de explorar gags relacionadas ao esporte bretão, ao poder da realeza e à política (de vizinhança europeia). Pra variar, na versão dublada brasileira, parte do humor inglês ficou pelo caminho junto com a ironia dos celtas (indo-europeus), que por aqui (sabe se lá por quê!) viraram espanhóis (será que na Espanha vão virar brasileiros?). Portanto, o riso se dá mais graças às inúmeras gags visuais do que aos diálogos, onde nem sempre a piada em português funciona. E por falar em gag visual, fique atento aos nomes das barracas, anúncios e matérias jornalísticas na Cidade dos Bronzios.


O Homem das Cavernas..., cuja técnica de animação com massinha dá característica  charmosa e cartunesca aos personagens, além de detalhar com requinte os mínimos elementos de cena..., embora tenha lá a sua previsibilidade (para o público adulto) e apresente breves referências a Os Flintistones e Os Croods (no uso de tecnologia primitiva), diverte ao alfinetar os vaidosos jogadores individualistas e o sexismo esportivo, e também faz o espectador refletir ao considerar (com simpatia) o empoderamento e o discernimento feminino, nas figuras da futebolista Goona e da Rainha Oofeefa (dona de um pombo-correio hilário) e os benefícios de uma saudável vida campestre..


Enfim, levando em conta que é uma animação sincera e que toda essa divertidíssima maravilha ocupou por cerca de três anos os seus realizadores; que a sua mensagem sobre coletividade, respeito aos acordos estabelecidos e punição ao desvio de conduta (corrupção) é direta e acessível a todas as idades, e passa longe da pieguice, da lição de moral e da violência gratuita (vista em produções infantis recentes como Pedro Coelho); que todos os seus personagens são muito simpáticos (bem desenvolvidos) e nenhum deles canta uma aborrecida musiquinha da moda a cada cinco minutos; que há sequências geniais, como a da primeira caça ao coelho, a do javali Hognob nas dependências do Lorde Nooth e aquela (que deve ter dado muito trabalho!) do empolgante jogo de futebol..., é difícil não gostar de O Homem das Cavernas que cumpre o que promete: (nada mais que) diversão espetacular para toda a família.  Ou como diriam os amantes do futebol: Show de Bola!!!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

2 comentários:

  1. Excelente comentário !
    Fiquei com vontade de assistir este desenho!
    Obrigado por compartilhar!

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    Respostas
    1. ..., olá, Marina Seischi, acho que vai gostar desse delicioso passatempo! ..., mais uma vez, grato pela visita e leitura!

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