Rampage:
Destruição Total
por Joba Tridente
Para variar na ignorância, a primeira vez em que vi o
cartaz de Rampage: Destruição Total,
tendo em primeiro plano o Dwayne Johnson e logo atrás um gigantesco gorila,
pensei tratar-se (já?) da prometida continuação do assim-assim (King) Kong: A Ilha da Caveira (2017)..., em
que o símio enfrentará o Godzilla.
Mas, para minha surpresa de néscio em games, o pôster era da adaptação do jogo
homônimo (de que nunca tinha ouvido falar). Já que não me importa a origem, mas
o itinerário e o final de uma trama que promete ação e aventura, arrisquei a
cabine especial do filme. Isto posto, vamos ao play que interessa.
Rampage:
Destruição Total, dirigido por Brad
Peyton (que acertou em Como
Cães e gatos - 2 e escorregou em Viagem
2: A Ilha Misteriosa e Terremoto
- A Falha de San Andreas), acompanha a rotina de cuidados do sensível primatologista
Davis Okoye (Dwayne Johnson) para com os símios de uma Reserva e a sua busca
desenfreada por um antídoto para o gorila albino George (um animal extremamente inteligente e dócil), vítima de um
experimento genético que o transformou em uma criatura corpulenta e feroz,
colocando em risco a vida de todos ao seu redor. Nessa corrida contra o tempo,
para salvar o seu amigo e para evitar uma catástrofe urbana, Davis, que confia mais nos primatas que
nos humanos, unirá forças com a geneticista
Kate Caldwell (Naomie Harris) e enfrentará a ira de um exército de militares imbecis (óbvio!) e o dúbio Agente Russell (Jeffrey Dean
Morgan), que anda atrás de Claire
Wyden (Malin Åkerman) e seu
irmão Brett (Jake Lay), responsáveis pelo experimento ilegal que atingiu também
um lobo e um crocodilo.
Indo atrás de informação sobre o Game Rampage, para conferir “referências”, a verdade é que, tirando
a tradicional cultura norte-americana de destruição (também) arquitetônica em plataformas
do gênero, a versão cinematográfica (para desespero dos fãs gamers?) é apenas levemente
inspirada nos personagens destrutivos dos jogos Rampage (1986) e Rampage:
Total Destruction (2006)..., onde o jogador controla cada um dos três
monstros: George (gorila tipo King Kong), Lizzie (lagarto tipo Godzila)
e Ralph (lobisomem gigante) - que são
humanos mutantes: George era
um homem de meia-idade, Lizzie, uma
jovem, e Ralph, um idoso.
Diferente (?) dos bonequinhos George, Lizzie e Ralph, que eram humanos e viraram
animais que incansavelmente destroem prédios em Las Vegas, os animais (gorila,
lobo, crocodilo) do filme são animais mesmos, só que, modificados geneticamente
e apenas o gorila tem nome (George). Os
três se dirigirem à Chicago, não para destruir todos os edifícios que
encontrarem pelo caminho (ainda que destruam tudo que encontram pela frente),
mas porque são impelidos por um “chamado”. É nessa cidade que os três animais (instintivamente
rivais) vão se defrontar com um inimigo em comum e com eles mesmos.
Em se tratando de Brad Peyton (discípulo de Roland
Emmerich, o destruidor de mundos?), que está se aperfeiçoando no gênero catastrash (como visto em Terremoto),
o público já sabe o que esperar. Não faltam militares ensandecidos com dedos nos
gatilhos e no botão da “bomba mãe” (típico de todos os filmes de monstrengos e
ou de aliens), toneladas de escombros, carros voando e aviões caindo, muitas mortes
(sem sangue)..., cenas que, se reais, apavorariam. Mas Hollywood, aposta mesmo
é no entretenimento infantojuvenil passageiro e então faz tais cenas parecerem
engraçadas (ainda que indigestas), tamanho o exagero e a abundância de clichês.
Concorrendo com essa gente endinheirada de Los Angeles, a Asylum (com sua
inesgotável fonte de trash, que também serve aos hollywoodianos)
vai acabar perdendo espaço. Será? Ah, e por falar em Asylum, olha, cala-te boca
sobre o Mega Tubarão que vem por aí!
Enfim, embora Rampage:
Destruição Total não vá muito além da mesmice do gênero catástrofe e
considerando que (com a tacanha direção de atores) a performance do bom elenco
beire a caricatura, o que não faz muita diferença, se você decididamente não levar
o filme a sério, já que ele também não se leva; que mesmo o Dwayne Johnson
(divertidíssimo em Jumanji
- Bem-Vindo à Selva), ator-fetiche de Brad Peyton (que o coloca sempre em
primeiro plano, destacando o seu tamanho desproporcional em relação ao elenco)
poderia render bem mais; achando que nem todas as piadas funcionam (embora
tenha rido um bocado), mas que tem gags
visuais ótimas (a cartunesca do George com
a empresária Claire Wyden, no final, é muito legal); levando em conta que
quem rouba todas as cenas é o devastador trio de animais (em razoável CGI) e
que, diferente de O
Jogador N.º 1, não tem cara de filme-game e é bem mais engraçado..., talvez
por se tão alucinantemente bobo e flertar tão acintosamente com o trash (da Asylum), procurando não me
importar com o indefectível culto bélico estadunidense, acabei gostando desse entretenimento
infantojuvenil divertido e descartável. Ainda que o violentíssimo grande final (e único possível?) não deixe (?) margem para continuação, adoraria ver o trio animalesco se
pegando novamente em filme solo...
Dica: Não espere nada mais que diversão
passageira com bom humor (às vezes involuntário)! Caso contrário, o seu mau
humor vai sobrar até pro game, que
como já disse, aqui só está de passagem (ou seria: de paisagem?)
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.