quinta-feira, 12 de abril de 2018

Crítica: Rampage: Destruição Total



Rampage: Destruição Total
por Joba Tridente

Para variar na ignorância, a primeira vez em que vi o cartaz de Rampage: Destruição Total, tendo em primeiro plano o Dwayne Johnson e logo atrás um gigantesco gorila, pensei tratar-se (já?) da prometida continuação do assim-assim (King) Kong: A Ilha da Caveira (2017)..., em que o símio enfrentará o Godzilla. Mas, para minha surpresa de néscio em games, o pôster era da adaptação do jogo homônimo (de que nunca tinha ouvido falar). Já que não me importa a origem, mas o itinerário e o final de uma trama que promete ação e aventura, arrisquei a cabine especial do filme. Isto posto, vamos ao play que interessa.


Rampage: Destruição Total, dirigido por Brad Peyton (que acertou em Como Cães e gatos - 2 e escorregou em Viagem 2: A Ilha Misteriosa e Terremoto - A Falha de San Andreas), acompanha a rotina de cuidados do sensível primatologista Davis Okoye (Dwayne Johnson) para com os símios de uma Reserva e a sua busca desenfreada por um antídoto para o gorila albino George (um animal extremamente inteligente e dócil), vítima de um experimento genético que o transformou em uma criatura corpulenta e feroz, colocando em risco a vida de todos ao seu redor. Nessa corrida contra o tempo, para salvar o seu amigo e para evitar uma catástrofe urbana, Davis, que confia mais nos primatas que nos humanos, unirá forças com a geneticista Kate Caldwell (Naomie Harris) e enfrentará a ira de um exército de militares imbecis (óbvio!) e o dúbio Agente Russell (Jeffrey Dean Morgan), que anda atrás de Claire Wyden (Malin Åkerman) e seu irmão Brett (Jake Lay), responsáveis pelo experimento ilegal que atingiu também um lobo e um crocodilo.
  

Indo atrás de informação sobre o Game Rampage, para conferir “referências”, a verdade é que, tirando a tradicional cultura norte-americana de destruição (também) arquitetônica em plataformas do gênero, a versão cinematográfica (para desespero dos fãs gamers?) é apenas levemente inspirada nos personagens destrutivos dos jogos Rampage (1986) e Rampage: Total Destruction (2006)..., onde o jogador controla cada um dos três monstros: George (gorila tipo King Kong), Lizzie (lagarto tipo Godzila) e Ralph (lobisomem gigante) - que são humanos mutantes: George era um homem de meia-idade, Lizzie, uma jovem, e Ralph, um idoso.

Diferente (?) dos bonequinhos George, Lizzie e Ralph, que eram humanos e viraram animais que incansavelmente destroem prédios em Las Vegas, os animais (gorila, lobo, crocodilo) do filme são animais mesmos, só que, modificados geneticamente e apenas o gorila tem nome (George). Os três se dirigirem à Chicago, não para destruir todos os edifícios que encontrarem pelo caminho (ainda que destruam tudo que encontram pela frente), mas porque são impelidos por um “chamado”. É nessa cidade que os três animais (instintivamente rivais) vão se defrontar com um inimigo em comum e com eles mesmos.


Em se tratando de Brad Peyton (discípulo de Roland Emmerich, o destruidor de mundos?), que está se aperfeiçoando no gênero catastrash (como visto em Terremoto), o público já sabe o que esperar. Não faltam militares ensandecidos com dedos nos gatilhos e no botão da “bomba mãe” (típico de todos os filmes de monstrengos e ou de aliens), toneladas de escombros, carros voando e aviões caindo, muitas mortes (sem sangue)..., cenas que, se reais, apavorariam. Mas Hollywood, aposta mesmo é no entretenimento infantojuvenil passageiro e então faz tais cenas parecerem engraçadas (ainda que indigestas), tamanho o exagero e a abundância de clichês. Concorrendo com essa gente endinheirada de Los Angeles, a Asylum (com sua inesgotável fonte de trash, que também serve aos hollywoodianos) vai acabar perdendo espaço. Será? Ah, e por falar em Asylum, olha, cala-te boca sobre o Mega Tubarão que vem por aí!


Enfim, embora Rampage: Destruição Total não vá muito além da mesmice do gênero catástrofe e considerando que (com a tacanha direção de atores) a performance do bom elenco beire a caricatura, o que não faz muita diferença, se você decididamente não levar o filme a sério, já que ele também não se leva; que mesmo o Dwayne Johnson (divertidíssimo em Jumanji - Bem-Vindo à Selva), ator-fetiche de Brad Peyton (que o coloca sempre em primeiro plano, destacando o seu tamanho desproporcional em relação ao elenco) poderia render bem mais; achando que nem todas as piadas funcionam (embora tenha rido um bocado), mas que tem gags visuais ótimas (a cartunesca do George com a empresária Claire Wyden, no final, é muito legal); levando em conta que quem rouba todas as cenas é o devastador trio de animais (em razoável CGI) e que, diferente de O Jogador N.º 1, não tem cara de filme-game e é bem mais engraçado..., talvez por se tão alucinantemente bobo e flertar tão acintosamente com o trash (da Asylum), procurando não me importar com o indefectível culto bélico estadunidense, acabei gostando desse entretenimento infantojuvenil divertido e descartável. Ainda que o violentíssimo grande final (e único possível?) não deixe (?) margem para continuação, adoraria ver o trio animalesco se pegando novamente em filme solo...

Dica: Não espere nada mais que diversão passageira com bom humor (às vezes involuntário)! Caso contrário, o seu mau humor vai sobrar até pro game, que como já disse, aqui só está de passagem (ou seria: de paisagem?)


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

domingo, 1 de abril de 2018

Crítica: O Homem das Cavernas


O Homem das Cavernas
por Joba Tridente*

Sempre que o estúdio britânico Aardman Animations anuncia mais uma animação (feita com massinha) a expectativa entre os cinéfilos é enorme, dada a inquestionável qualidade artística e de conteúdo das suas produções com adoráveis personagens bizarros (geralmente dentuços) e tiradas desconcertante do humor inglês. Para quem já nos presenteou com obras sensacionais em quadro a quadro (stop motion) como A Fuga das Galinhas (2000); Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2006); Piratas Pirados (2012); Shaun, O Carneiro (2015); e em computação gráfica (CGI) como Por Água Abaixo (2006) e Operação Presente (2011) não parece ser difícil nos surpreender sempre que queira. Eis que, três anos após o bem sucedido lançamento do querido Shaun, aproveitando (?) a celeuma do Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2018, na Rússia, o estúdio nos traz uma inusitada peleja de futebol entre Homens das Cavernas e Homens da Idade do Bronze.


O Homem das Cavernas (Early Man, 2018), dirigido pelo premiadíssimo Nick Park (A Fuga das Galinhas Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais), a partir do roteiro redondinho e muito bem balanceado dos experientes Mark Burton e James Higginson, como já apregoei e ou você já deve ter visto (algumas das melhores cenas) nos reveladores trailers, trata-se de uma fantasia futebolística ocorrida nos primórdios da civilização, lá nos tempos de transição da Idade da Pedra para a Idade do Bronze, numa região próxima a Manchester inglesa.

Ali, numa verdejante cratera, vive o jovem visionário Dug, com seu esperto javali Hognob (que acha que é um cão), em uma pequena e desconexa tribo de Homens das Cavernas chefiada por Bobnar. Enquanto o corajoso Dug sonha em caçar mamutes, o medroso Chefe Bobnar se contenta com a caça ao coelho. Um dia esse adorável recanto ilhado é invadido por um exército celta da Idade do Bronze, liderado pelo ambicioso Lorde Nooth, e a tribo inglesa das cavernas é expulsa do seu paraíso. Cabe, então, a Dug, que casualmente vai parar na cidade dos bárbaros, encontrar um jeito de recuperar a terra da tribo. Ao descobrir que aquele povo agitado (que fala com sotaque francês, no original) cultua o futebol, e desconfiado de que foram os seus ancestrais que inventaram o jogo (num cena antológica com um icosaedro fumegante), o jovem propõe ao Lorde Nooth um neolítico jogo entre o Time de Bronze (celta) e o Time da Pedra (inglês), valendo a posse da cratera verdejante. O único porém é que, enquanto no time profissional dos celtas só tem estrelas, no time de Dug ninguém sabe jogar bola. Aí..., só assistindo pra saber o que rola nesse desafio (a não ser que já tenha visto aos, infelizmente, reveladores trailers!) e como termina esse Jogo das Eras.


A trama de O Homem das Cavernas é simples mas muito eficiente, principalmente porque seus realizadores nunca perdem a oportunidade de explorar gags relacionadas ao esporte bretão, ao poder da realeza e à política (de vizinhança europeia). Pra variar, na versão dublada brasileira, parte do humor inglês ficou pelo caminho junto com a ironia dos celtas (indo-europeus), que por aqui (sabe se lá por quê!) viraram espanhóis (será que na Espanha vão virar brasileiros?). Portanto, o riso se dá mais graças às inúmeras gags visuais do que aos diálogos, onde nem sempre a piada em português funciona. E por falar em gag visual, fique atento aos nomes das barracas, anúncios e matérias jornalísticas na Cidade dos Bronzios.


O Homem das Cavernas..., cuja técnica de animação com massinha dá característica  charmosa e cartunesca aos personagens, além de detalhar com requinte os mínimos elementos de cena..., embora tenha lá a sua previsibilidade (para o público adulto) e apresente breves referências a Os Flintistones e Os Croods (no uso de tecnologia primitiva), diverte ao alfinetar os vaidosos jogadores individualistas e o sexismo esportivo, e também faz o espectador refletir ao considerar (com simpatia) o empoderamento e o discernimento feminino, nas figuras da futebolista Goona e da Rainha Oofeefa (dona de um pombo-correio hilário) e os benefícios de uma saudável vida campestre..


Enfim, levando em conta que é uma animação sincera e que toda essa divertidíssima maravilha ocupou por cerca de três anos os seus realizadores; que a sua mensagem sobre coletividade, respeito aos acordos estabelecidos e punição ao desvio de conduta (corrupção) é direta e acessível a todas as idades, e passa longe da pieguice, da lição de moral e da violência gratuita (vista em produções infantis recentes como Pedro Coelho); que todos os seus personagens são muito simpáticos (bem desenvolvidos) e nenhum deles canta uma aborrecida musiquinha da moda a cada cinco minutos; que há sequências geniais, como a da primeira caça ao coelho, a do javali Hognob nas dependências do Lorde Nooth e aquela (que deve ter dado muito trabalho!) do empolgante jogo de futebol..., é difícil não gostar de O Homem das Cavernas que cumpre o que promete: (nada mais que) diversão espetacular para toda a família.  Ou como diriam os amantes do futebol: Show de Bola!!!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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