sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Crítica: A Forma da Água


A Forma da Água
por Joba Tridente*

Para quem gosta de histórias baseadas em fatos imaginários, A Forma da Água (The Shape of Water, 2017), do diretor mexicano Guillermo del Toro, é deliciosamente potável e extraordinariamente refrescante no atual cenário enevoado pelo denuncismo hollywoodiano. A sua trama, muito bem tecida no universo do conto maravilhoso, por del Toro e Vanessa Taylor, enreda o espectador, numa alegoria de fascinante mistério e sedução, do belíssimo prólogo ao inebriante epílogo.

Aparentemente simples, como se um Canto de Sereia ou um Solo de Tritão para entreter crianças, A Forma da Água tem narrativa adulta, ousada, que não se apequena nem diante de questões de racismo, de homofobia, de trabalho, de violência sexual, do moralismo vigente nos anos 1960 (época em que se situa esta fábula). Antes de prosseguir, é bom que se diga que não se trata de um drama social, e as questões citadas são bem-vindas pontuações (quase) subliminares no excelente roteiro..., que está mais para um drama romântico surreal.


Já que é hora de dar asas à imaginação..., era o ano de 1962 e, na quentura da Guerra Fria (1947-1991), os EUA e a URSS disputavam a primazia do espaço sideral quando a rotina de trabalho de Elisa (Sally Hawkins), servente em um laboratório de pesquisa espacial, em Baltimore, foi quebrada com a chegada do impiedoso agente do governo norte-americano Richard Strickland (Michael Shannon), trazendo prisioneiro um estranho e belo Anfíbio (Doug Jones, de Hellboy, Fauno do Labirinto, A Colina Escarlate), capturado no Amazonas. Elisa, que mora num pequeno apartamento em cima do suntuoso Cinema Orfeu, é muda e só tem dois amigos: o vizinho Giles (Richard Jenkins), um desenhista publicitário com quem divide sonhos românticos e a felicidade dos musicais que assistem na tv, e Zelda (Octavia Spencer), uma colega de trabalho com quem troca confidências e divide o serviço noturno de limpeza no laboratório. Assim, por conta de um cotidiano tão mínimo, ao conhecer casualmente o espécime raro, cuja constituição física assemelha-se à de um humano, compreende-se porque é tomada de grande ternura por ele e decide libertá-lo de um destino possivelmente trágico.


Tanto a sinopse quanto o trailer (para quem fez a besteira de assistir) de A Forma da Água pode levar o espectador a concluir que se trata de mais uma história de ficção infantojuvenil de seres alienígenas capturados para pesquisa científica e libertos por alguma alma benevolente e ou de uma fantasia no estilo de A Bela e A Fera. Ele não está de todo enganado. Porém, na via de todo bom contador de histórias, o grande diferencial é o seu conteúdo, que (passando ao largo das tramas de ação e aventura juvenis) desvela um inusitado conto mágico para adultos (com reflexões sociais pertinentes), onde exala romantismo e sensualidade e transborda sequências de sexo e de incômoda violência física (com sangue) e de linguagem (chula).


Após o ótimo Circulo de Fogo (2013) e o deslize A Colina Escarlate (2015), o irregular del Toro volta às telas, fazendo bom uso de elipses, num filme robusto sobre espécies e atos heroicos praticados por gente que, de tão comum, é invisível na orbe dos poderosos. Entre as sutilezas do inteligente roteiro, a que mais chama a atenção é a irônica caracterização do homem bom e do homem mau, no embate político-militar envolvendo o cientista russo Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg) e o segurança norte-americano Strickland (Shannon). Corajoso! Na mesa das cobaias, humanidade e animalidade em nome do intangível e ou da pátria armada, por mero capricho de conquistar o espaço, onde o homem jamais esteve..., sem sequer compreender as nuances da vida na Terra, onde o homem sempre esteve.

Enfim, considerando o elenco excepcional, o design de produção (com sua paleta de infinitos tons de verde) e efeitos especiais inquestionáveis, A Forma da Água, emoldurado com a notável fotografia do dinamarquês Dan Laustsen, ainda que o contexto seja outro (?), é um filme à altura do primoroso O Labirinto do Fauno (2006), considerado a melhor obra de Guillermo del Toro. Diante de uma obra tão singular, é até redundante dizer que é um espetáculo de encher os olhos e de afagar o cérebro, com sua bela e imersiva história de amor e fúria conduzida com equilíbrio e muita criatividade no melhor do “Era uma vez...”.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Crítica: The Post - A Guerra Secreta


The Post - A Guerra Secreta
por Joba Tridente*

Em um tempo em que fakes são cada vez mais news, criados por imbecis e grupelhos de “informação” em busca de publicidade (e grana fácil), em redes sociais, jornais e revistas (digitais, televisivos, impressos)..., é mais do que pertinente a fala do juiz do Supremo Tribunal dos EUA, Hugo Black, recorrendo à Primeira Emenda da Constituição norte-americana, quando do processo New York Times Co. v. Estados Unidos (1971), por causa da publicação de trechos de um dossiê secreto, desvelando as reais intenções do país na Guerra do Vietnã: “A imprensa deve servir aos governados e não aos governantes”. A afirmação de Black, que você pode ler na íntegra aqui e ou aqui, está presente em The Post - A Guerra Secreta, o novo filme de Steven Spielberg.


The Post - A Guerra Secreta (The Post, EUA, 2017) é um docudrama, com essência de thriller jornalístico, sobre a liberdade de imprensa nos anos 1970 e o seu reflexo nas décadas posteriores. Os eventos do fascinante enredo se passam em 1971, no governo de Nixon (que aparece apenas de costas - suas falas seriam gravações originais), quando o jornal local Washington Post, de propriedade de Katharine 'Kay' Graham (Meryl Streep), a primeira editora de jornal feminino da América, e o editor-chefe Ben Bradlee (Tom Hanks) veem a oportunidade de ganhar mercado e notoriedade com a publicação de um dossiê confidencial norte-americano, relacionado às ações do EUA no Vietnã (1961-1973), depois que o New York Times foi proibido de dar continuidade à sua série de artigos sobre o tema que comprometia os presidentes norte-americanos John Kennedy (1917-1963), Lyndon Johnson (1908-1973) e Richard Nixon (1913-1994) e o Secretário de Defesa dos EUA (1961-1968) Bob McNamara (1916-2009), pois, segundo Nixon, punha em xeque a credibilidade norte-americana (para o resto do mundo).

A trama histórica acompanha os dias tensos que precederam o julgamento da ação contra o New York Times, quando jornalistas, redatores, conselho editorial e advogados do Washington Post, discutem se o jornal tem ou não o direito (segundo a Primeira Emenda Constitucional dos EUA) de publicar novos fatos do dossiê confidencial (de interesse público), colhido da mesma fonte do NYT, e as consequências da publicação: ameaça de prisão, processo, descrédito dos acionistas...


Escrito por Josh Singer (o co-roteirista do excelente Spotlight) e Elizabeth Hannah, o roteiro de The Post - A Guerra Secreta, sobre a liberdade de imprensa e jornalismo investigativo setentista, pode até parecer datado, com o crescimento dos “urgentes” web-jornais, em detrimento dos jornais impressos (e mesmo televisivos)..., mas o assunto continua relevante, já que, indiferente à plataforma midiática, por falta de critérios (ou seria de ética?), a maioria dos veículos de comunicação abusa de notícias sensacionalistas (de ocasião!) em benefício de governos, de políticos e do capitalismo selvagem. No papel, na tv ou na internet, como vimos recentemente em O Abutre (2014), a notícia, a cada dia mais emburrecedora, serve tão somente a quem paga mais por sua veiculação...

Confesso que nunca fui fã dos dramalhões piegas de Steven Spielberg (raramente os vejo), prefiro-o nas divertidas fantasias de ação e aventura, do que em produções ao estilo de Ponte dos Espiões. No entanto, assim como em Lincoln (2012), ele me pareceu mais comedido (em pieguice) e seguro em The Post - A Guerra Secreta, que começa claudicante - pois o assunto é meio confuso até para quem não é estadunidense - e depois engata e cresce intensificando o clima de thriller. Há uma escorregadela aqui e outra acolá (repare nos cartazes de cinema na parede) na composição cênica, mas nada que influa no excelente desenvolvimento narrativo que traz um elenco afinadíssimo (Streep e Hanks magníficos), bela fotografia e notável reconstituição de época e de costumes da machista sociedade norte-americana.


Enfim, considerando o suspense (ainda que se conheça o final do caso The Pentagon Papers); a nostalgia das redações físicas e do aparelhamento de impressão gráfica; a oportuna referência ao escândalo político Watergate (lido e visto em Todos Os Homens do Presidente), ocorrido dois anos após este relato; o interesse histórico, mesmo para quem não está (?) familiarizado com o assunto Vietnã e Liberdade de Imprensa (no mundo) e o puxão de orelhas em quem brinca de jornalismo contemporâneo, futilizando a informação séria e enaltecendo a descartável..., The Post - A Guerra Secreta é um ótimo programa para quem espera que a imprensa realmente sirva aos governados e não aos governantes, neste Brasil maculado por políticos corruptos e mídia conivente e noutros países idem.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Crítica: O Touro Ferdinando

O Touro Ferdinando
por Joba Tridente*

O livro O Touro Ferdinando (The Story Of Ferdinand, 1936), de Munro Leaf, com ilustrações de Robert Lawson, é um dos meus favoritos, desde a infância. Ainda guardo comigo a tradução da escritora Maria Clara Machado (1921-2001), publicada em 1975 pela Edições de Ouro, e sou fã (com ressalva mínima) da animação Ferdinando, O Touro (1938), produzida por Walt Disney (1901-1966) e ganhadora do Oscar de melhor Curta-Metragem.

É difícil imaginar que uma obra tão singela, que conta a história de um touro (Ferdinando) que prefere o perfume das flores do campo ao odor sanguinolento das arenas de touradas, uma história breve e profunda sobre o direito de cada um ser o que quiser, amada por Mahatma Gandhi (1869-1948) e H.G. Wells (1866-1946), tenha sido banida da Espanha pelo ditador Francisco Franco (1892-1975) e queimada na Alemanha pelo nazista Adolf Hitler (1889-1945)..., acusada de promover o pacifismo, a democracia, a liberdade de pensamento. Na nova onda de intolerância que quebra no mundo, nunca é demais lembrar de um poema curto da escritora paranaense Helena Kolody (1912-2004): “no poema/ e nas nuvens,/ cada qual descobre/ o que deseja ver.


Agora, 80 anos depois do curta (de 7min57) da Disney, Ferdinando está de volta aos cinemas em O Touro Ferdinando (Ferdinand, EUA, 2017) uma versão em longa-metragem (de 1h48) dirigida por Carlos Saldanha (Rio e Rio 2). Produzido pela Blue Sky e 20th Century Fox Animation, os roteiristas Robert L. Baird, Tim Federle e Brad Copeland esticaram ao máximo a história de poucas páginas de Leaf, criando vários personagens não-humanos e humanos para recontar, com muita aventura e ação pastelão, a consagrada fábula.

A releitura animada de O Touro Ferdinando é pensada mais para o publico infantil que juvenil e adulto..., o que não quer dizer que estes dois últimos não possam apreciá-la. Enquadrada com uma paleta de cores naturais (em tons pastel) e muita luminosidade (que se crê) espanhola, a narrativa, acompanha o desenvolvimento de Ferdinando, de bezerro (na fazenda de gado de tourada, de onde fugiu) a touro gigantesco (na fazenda de flores, onde se refugiou e cresce feito animal de estimação de Nina, a filha do florista) que, após muitas confusões, acaba numa arena de touros, que ele sempre evitou.


Embora tenha substituído a suavidade da mãe (vaca) pela truculência do pai (touro), em busca de maior reflexão sobre a banalidade da morte na arena de touradas ou a compensadora morte nos matadouros, o roteiro manteve (ao menos) no prólogo e epílogo, a essência perfumada do conto..., o resto é fantasia com um bando de “bichinhos” simpáticos. É espetáculo nonsense para crianças. A violência da disputa de força entre touros e das (indefectíveis!!!) fugas e perseguições a pé e motorizadas é moderada e, apesar dos muitos estragos materiais na fazenda e na cidade, não há sangue!


Possivelmente, por conta da tradução e dublagem brasileira, o humor fica muito a desejar. Há uma piadinha meio tonga aqui e uma gag clichê ali, mas nada (?) para o espectador jovem ou adulto gargalhar. Como não podia faltar numa animação, há um mix musical num duelo de danças entre touros e cavalos austríacos (Lippizaner). Ao que parece, a presença destes arrogantes cavalos adestrados (com sotaque alemão) é uma referência (inconsciente?) a Hitler. No suporte de “conteúdo” ao protagonista Ferdinando..., que mesmo enorme ainda sofre com o bullying, por gostar do perfume das flores..., fazem parte da fauna improvisada uma cabra (Lupe), cinco touros (entre eles, Valente), três cavalos (entre eles, Hans), um trio de porcos-espinho (Um, Dois e Quatro), um coelho rosado (alívio cômico) e um cão cinzento (Paco). Entre os humanos, além de Nina, o destaque é o toureiro Matador.

O Touro Ferdinando é um filme muito bonito graficamente (o cenário da Casa del Toro é perfeito, nem parece desenho), porém, mesmo com a  mensagem pacifista, reforçada com o anti-bullying, o seus script é básico, simplório. Tem alguns furinhos no roteiro, mas só quem for muito perspicaz vai perceber e então não vale a pena mencioná-los. Quanto à trilha pop, por mais que se almeje uma musicalidade espanhola, há que se lembrar que se trata de um filme norte-americano. Portanto, contente-se com La Macarena.


Enfim, O Touro Ferdinando de Carlos Saldanha pode não ser tão impactante quanto o da obra homônima de Munro Leaf e Robert Lawson (onde menos é sempre mais no universo da imaginação) ou tão divertida quanto a animação da Disney (e talvez por isso possa desapontar alguns fãs), mas, principalmente pela arte e excelente 3D, não é um filme descartável. Tem bom ritmo, algumas boas sequências, com destaque para a toureada de Ferdinando e o Matador na arena de Madrid. Com sua linguagem infantilizada o filme pode até não empolgar os jovens e adultos, mas tampouco os aborrecerá.

Ah, infelizmente, as melhores cenas estão expostas nos trailers (que só assisti após a sessão oficial) e, sinceramente, na hora “h”, perdem totalmente a graça...



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Crítica: O Destino de Uma Nação


O Destino de Uma Nação
por Joba Tridente*

Em 2017 a Batalha de Dunquerque, evidenciando a notável Operação Dynamo, recebeu três piscadelas cinematográficas: o metalinguístico Sua Melhor História (Their Finest), de Lone Scherfig; o ensurdecedor mega espetáculo Dunkirk, de Christopher Nolan, e o fascinante thriller político O Destino de Uma Nação (Darkest Hour), dirigido por Joe Wright e com foco maior nos primeiros dias de Winston Churchill como primeiro-ministro do Reino Unido da Grã-Bretanha.

Aliás, o estadista britânico Winston Leonard Spencer-Churchill (1874-1965) frequenta as telinhas e as telonas há um bocado de tempo. Já recebeu a voz de Patrick Wymark, no documentário The Finest Hours (1964), e já foi interpretado por Simon Ward em Young Winston, (1972), Richard Burton em The Gathering Storm (1974), Timothy Lancaster West em Churchill and the Generals (1979), Albert Finney em The Gathering Storm (2002), Brendan Gleeson em Into the Storm - Churchill at War (2009), Sir Michael John Gambon em Churchill's Secret (2016), Brian Cox em Churchill (2017)…, e agora  Gary Oldman em O Destino de Uma Nação (2017).


Com base no roteiro ágil e envolvente de Anthony McCarten, o drama de guerra O Destino de Uma Nação traça um tenso painel do crucial maio de 1940, mês em que Winston Churchill, primorosamente incorporado por Gary Oldman, assume como primeiro-ministro britânico em meio a um parlamento dividido e acovardado com as tropas de Hitler batendo à porta, o governo francês levando rasteira e Mussolini se aliando ao nazista. Churchill, pouco diplomático diante de uma situação desesperadora (tropas inglesas sendo dizimadas e mais de 300.000 soldados sitiados em Dunquerque), longe de ser o candidato ideal do rei George VI (Ben Mendelsohn, memorável) e achincalhado pelos adversários e colegas de partido Neville Chamberlain (Ronald Pickup) e Visconde Halifax (Stephen Dillane), faz do seu nacionalismo (regado a Scotch e charutos) o combustível ideal para Grã-Bretanha entrar e sair (ou cair!) com alguma dignidade dessa guerra insana. Concentrando um tempo bem maior aos bastidores ingleses que à frente de batalha, a trama mais sugere que explicita a violência bélica..., embora não dispense os ânimos exaltados das autoridades políticas e militares na busca de uma solução rápida e viável para o assunto devastador.


Como se lê, o motivo (Operação Dynamo) não é inédito e tampouco parece esgotado. Há sempre alguém procurando um novo viés na literatura, cinema e tv. Porém, não me lembro de tê-lo visto numa versão tão instigante e dinâmica, onde as liberdades poéticas soam (se não sutis) divertidas com o apelo do inigualável humor inglês nos diálogos ferinos. Assim como a reconstituição de época, a cinematografia de Bruno Delbonnel, com impressionante movimento de câmera e recorte de cenas (em função da trama e não de exibicionismo) é um espetáculo à parte nesta convincente narrativa que, além do parlamento inglês, bisbilhota o dia a dia no interior do famoso Número 10 londrino, residência oficial do ansioso Churchill e sua tranquila esposa Clementine (Kristen Scott-Thomas). Uma casa onde se resolvem tanto assuntos de Estado quanto domésticos.


O Destino de Uma Nação, com um olhar ímpar de Joe Wright sobre o papel da Grã-Bretanha na Segunda Guerra, é um filme prazeroso que, além de um script inteligente e cativante, brinda o espectador com belas performances de um elenco (espontâneo) que inclui Lily James, na pele de Elizabeth Nel, secretária particular de Churchill. Toda via infernal da guerra, com seu terror intermitente de bombardeios, no entanto, há um incômodo: a inconveniente trilha chorosa, digo, sonora, do Dario Marianelli, que aparece mais quanto menos se faz necessária. Além de redundante é piegas.

Considerando que este breve capítulo da biografia de Winston Churchill é muito bem (re)contado e, independente do excelente aparato técnico, traz interpretações marcantes de Gary Oldman e Ben Mendelsohn, sob direção praticamente irretocável de Joe Wright, o público que aprecia uma trama engenhosa, nem vai sentir a passagem do tempo...



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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