domingo, 30 de dezembro de 2018

Crítica: Meu Querido Filho


Meu Querido Filho
por Joba Tridente

É do aclamado livro O Profeta (1923), do mestre libanês Gibran Khalil Gibran (1883-1931), a breve prosa poética Os Filhos, que vem marcando profundamente gerações de leitores, sem jamais perder a pertinência: “E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”/ E ele disse: “Vossos filhos não são vossos filhos./ São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma./ Vêm através de vós, mas não de vós./ E, embora vivam convosco, não vos pertencem./ Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,/ Pois eles têm seus próprios pensamentos./ Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;/ Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho./ Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,/ Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados./ Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como setas vivas./ O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe./ Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:/ Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.” (tradução de Mansour Challita).


Cito Gibran Kalil nesta introdução porque, ainda que num outro (?) contexto, é impossível não se lembrar deste belo e profundo conto ao assistir Meu Querido Filho (Weldi, 2018), o sensível filme escrito e dirigido com elegância pelo tunisiano Mohamed Ben Attia, cuja trama enreda o espectador num pungente drama familiar e social, com um leve viés psicológico, em que um dedicado pai, Riadh (Mohamed Dhrif), busca desesperadamente por seu filho Sami (Zakaria Ben Ayyed) que, sem nenhuma justificativa e às vésperas do vestibular, vai embora de casa, para se juntar a militantes terroristas do ISIS, na Síria. Desenvolvida a partir do ponto de vista de Riadh, a narrativa compartilha com o público a mesma sensação de perplexidade e angústia de um pai que, ao lado se sua mulher Nazli (Mouna Mejri), não consegue compreender a razão do amado filho único do casal, dar um rumo inesperado à sua vida, influenciado pela doutrina jihadista.

O que leva um jovem estudante de classe média, feito Sami, a quem seus zelosos pais não deixam faltar coisa alguma, a tomar uma atitude tão drástica? Adrenalina? Autoafirmação? Certamente, em todo o mundo, não são poucos os Sami que diariamente os pais perdem para o terrorismo, o tráfico de droga e de armas, o mercenarismo, as ideologias políticas e religiosas equivocadas. E há também aqueles jovens que deixam seus lares para se dedicar a causas meritórias em diversas partes do mundo e, às vezes, acabam frustrando os planos (profissionais) de seus familiares. A dor da perda é sempre menor naquele que olha de fora do que em quem a sente por dentro. O corte do segundo cordão umbilical pode deixar sequelas...


Conforme material de divulgação, publicado no site Instituto da Cultura Árabeo diretor e roteirista Mohamed Ben Attia encontrou o argumento para Meu Querido Filho ao ouvir, em uma rádio, relatos de pais que estavam à procura dos filhos que tinham se juntado ao Estado Islâmico: “Infelizmente, tornou-se quase que comum. Um dia, ouvindo um pai falando sobre sua história, realmente me afetou. Ele continuava repetindo: ‘meu filho’. Eu rapidamente percebi que o que me interessou mais não foram as razões que fizeram o filho sair, mas o ponto de vista dos que ficaram para atrás: os pais dele, que não viram isso chegando”.

Uma vez que a “sangria” não está na jugular, mas no coração de um pai desnorteado com o desaparecimento do filho, a narrativa sóbria pode não dar as respostas que o público deseja, sobre o terrorismo e suas facções no Oriente Médio e ou sobre as inquietações juvenis num mundo além das conexões digitais..., mas tentará objetivá-las. Num drama pessoal e dolorosamente humano, onde não há espaço para maniqueísmos e ou polemização, o espectador saberá tão somente o que Riadh sabe sobre a perturbadora realidade ao seu redor, porque é apenas a ele que acompanhamos na cruel jornada de resgate de Sami.


Meu Querido Filho é de um realismo tocante. O naturalismo que evoca não está impresso apenas na performance arrebatadora do veterano Mohamed Dhrif e ou na entrega do bom elenco iniciante, mas se estende equilibrado pela cenografia e fotografia que lhe garantem um caráter documental crível. Com ótimo roteiro (se ocupando apenas do que é essencial ao fato em questão) e edição que vai acentuando o ritmo e encurtando sequências até se bastar com elipses (sem exibicionismo) num desfecho comovente, este introspectivo drama tunisiano há de calar fundo no coração de qualquer platéia...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Crítica: Bumblebee


Bumblebee
por Joba Tridente

Como se dizia lá em 2007: toda história tem seu começo, inclusive a dos Transformers. Ou será que não foi dito? Bem, se alguém disse, está até hoje tentando explicar a localização da rebimboca da parafuseta nos robôs, porque, pelo que se assiste em Bumblebee, a história dos Transformers está começando (?) agora, em 2018, com a chegada do Autobot B-127 (Dylan O'Brien) ao norte de São Francisco, Califórnia-EUA, em 1987. Na época, ele era um robô adolescente que, em meio à guerra devastadora em seu planeta natal Cybertron, foi enviado à Terra por Optimus Prime (Peter Cullen), líder dos derrotados Autobots, para aguardar a reorganização da tropa. Aqui, enquanto se esquiva do belicista militar norte-americano Burns (John Cena) e dos exterminadores Decepticons Shatter (Angela Bassett) e Dropkick (Justin Theroux), que vieram no seu rastro celestial, o jovem B-127..., que lá em 2007 vai ser o Chevolet Camaro 1974 amarelo de Sam Witwicky (Shia LaBeouf)..., se disfarça num Fusca amarelo, que vai parar nas mãos da adolescente (em crise!) Charlie (Hailee Steinfeld) que o batiza de Bumblebee.


A relação de amizade, trapalhadas e parceria entre a humana e o alienígena mecânico, com certeza fará os espectadores mais velhos se lembrarem da relação entre o garoto Elliott e um adorável alienígena em ET: O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg. Porém, a trama de ação e aventura da dupla, nas entranhas da engrenagem dos Transformers, parafusa peças dentadas muito mais pesadas e complexas na preservação da vida humana e da vida alienígena. 

Em um mundo em constante ebulição, ambos carecem de alguma forma de ajuda física ou psicológica. O robô Bumblebee não precisa voltar a Cybertron, mas contará com o apoio de Charlie para evitar que os robôs Shatter e Dropkick levem a cabo seus planos malignos para a Terra. A jovem Charlie, que vive a crise (e as carências) da idade e anda às turras com a sua família, encontrará em Bumblebee o ombro amigo para as suas lamentações aborrescentes. Assim, na proteção mútua, formarão uma dupla que viverá os melhores (e mais intensos) dias de suas vidas.


Escrito pela roteirista Christina Hodson, a primeira mulher num reduto masculino (os cinco Transformers da franquia foram roteirizados por homens!) e dirigido com ousadia e elegância por Travis Knight (da magnífica animação Kubo e as Cordas Mágicas), Bumblebee (Bumblebee, 2018) traz um frescor pra lá de necessário ao recomeço (?) da série. Ainda que não faltem clichês, a sua dramaturgia é mais sensível e os decibéis da pancadaria bem menores..., o que torna os embates tecnicamente mais compreensível. O número de Transformers, (apenas três, no arco principal) também ajuda no desenvolvimento narrativo. Quanto menos máquinas para calibrar..., maior o tempo para se contar uma história inteligível e, o mais importante, com alma.


Bumblebee é um filme redondinho e seus protagonistas (Charlie e Bumblebee) são carismáticos. Bumblebee, em particular, é extremamente expressivo, cativante. Como ele descobre a forma para se comunicar com Charlie é genial. O bom humor beira o ingênuo ou infantojuvenil, com ótimas gags visuais (a sequência do meninão Bumblebee na sala da casa de Charlie é tão divertida quanto aflitiva). Os efeitos especiais são excelentes e as músicas da trilha sonora certamente farão a cabeça dos mais saudosistas com canções de The Smiths, Bon Jovi, Rick Astley, LL Cool J, Duran Duran, a-ha, Tears for Fears. Mesmo numa produção desse quilate, tem parafusos e arruelas precisando de um aperto, porém, nada que comprometa a garantida e movimentada diversão.


Ah, pra terminar, uma vez que o seu público alvo é a garotada adolescente (rebelde sem causa) do séc. XXI, resta saber se ele vai entender as referências cênicas da garotada adolescente (rebelde sem causa) do séc. XX, no cultuado clássico Clube dos Cincos (The Breakfast Club, 1985), de John Hughes, que pontua o enredo. Ou será que só os cinéfilos mais aplicados vão entender o gesto final?

Se o próximo Transformers individual (?) for no mesmo nível, bem escrito, prazeroso e totalmente sem compromisso, eu, que nunca fui muito fã da franquia blockbuster de Michael Bay..., tanto que só escrevi sobre o Transformers 3: O Lado Oculto da Lua..., vou gostar de acompanhar a série que deixei pra trás!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Crítica: Homem-Aranha no Aranhaverso


Homem-Aranha no Aranhaverso
por Joba Tridente

Demais! Demais! Demais! Q+!..., é o mínimo que se pode dizer do novíssimo filme do Homem Aranha, que chega aos cinemas num formato de animação que une arte tradicional em 2D, 3D, anime, mangá e cartum. Assistir ao inovador Homem-Aranha no Aranhaverso é uma experiência muito próxima a de se ler um gibi gigantesco transbordando criatividade narrativa e gráfica.

Confesso que, embora tenha tido uma considerável coleção de gibis (ou por isso), sou um tanto tradicional e torço o nariz para as invencionices que mudam origens, universos, cor, sexo, orientação sexual de heróis e de super-heróis..., só para se encaixar (?) no politicamente correto e ou (mais provável) conquistar novos leitores. Ou ainda por qualquer outra (?) razão. Das HQs do Homem-Aranha acompanhei até o uniforme negro. Ouvi falar do Miles Morales, o afro-americano que iria substituí-lo e não tive a menor curiosidade em conhecê-lo. Agora, vendo a sua história na telona, mordo a língua. O Miles Morales é nada menos que espetacular...


Homem-Aranha no Aranhaverso tem um roteiro simples, mas jamais (mesmo!) tedioso. A trama envolvente, fazendo jus às histórias (cinematográficas) de origem, lança seus fios grudentos já na apresentação do simpático adolescente Miles Morales (Shameik Moore), pouco feliz com a transferência para a Brooklyn Visions Academy (escola para quem tem Q.I bem acima da média). Filho do policial afro-americano Jefferson Davis (Brian Tyree Henry) e da enfermeira porto-riquenha Rio Morales (Luna Lauren Velez), Miles tem grande afinidade com o ambíguo tio Aaron (Mahershala Ali), que, além de bom ouvinte das suas reclamações adolescentes, o apoia e o incentiva nas suas transgressões grafiteiras.

Já enredados pelo prólogo, seguimos a rotina do acidente com a aranha radioativa e os efeitos no corpo frágil do jovem. Daí, quando pensamos saber o que virá, como as boas ações do “amigo da vizinhança”, um experimento do obsessivo Wilson Fisk (Liev Schreiber), o Rei do Crime, abre um fenda interdimensional por onde “caem”, em Nova York, cinco versões alternativas de “heróicos espécimes-aranha” de outros universos: o desleixado Peter B. Parker (Jake Johnson); o cartunesco Porco-Aranha (John Mullaney); o detetive Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), em preto e branco; a adolescente Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), a Mulher-Aranha; e a jovem Peni Parker (Kimiko Glenn), de anime..., influenciando drasticamente a vida de Morales que, mesmo sem nenhum treinamento adequado, se sentirá obrigado a ir à luta, a pedido do próprio Homem Aranha (Peter Parker), que pode (nunca se sabe!) estar morto nesse multiverso. Caberá ao jovem Homem-Aranha (Morales) enfrentar o Rei do Crime e ajudar aos diferentes Aranhas resolverem a parada do Portal..., se quiserem voltar para suas Nova York em segurança. Uma tarefa nada fácil. Porém, muito divertida de se acompanhar, já que cada Aranha tem um tipo de habilidade e humor peculiar (mesmo involuntário), inclusive o tímido Miles...


Para não me sentir tão leigo diante da “nova” saga do “novo” espetacular Cabeça de Teia, logo após a sessão de cinema pesquisei sobre Miles Morales e achei melhor não me apegar ao que li a respeito da sua mutação, já que, digamos, é (bem) diferente do que se vê na excelente animação. Como gosto de frisar: quadrinhos é uma coisa e cinema, ainda que baseado em quadrinhos, é outra. Toda via da novela gráfica, no entanto, Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018), escrito por Phil Lord (Uma Aventura LEGO) e Rodney Rothman e dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodnei Rothman tem material mais que suficiente para agradar, em cheio, tanto ao espectador-leitor juvenil, que entende as idiossincrasias desses tais multiversos, quanto àquele que sequer sabia da sua existência. Tampouco vai decepcionar quem espera uma adaptação tal e qual a dos gibis. Para que a imersão nas páginas da revista de história em quadrinhos na telona seja ainda mais surpreendente, não assista ao trailer e não queira saber mais do que a sinopse informa. Faça como eu, descubra quem é quem com o próprio Miles Morales.


Não bastasse a história solta e jovial, ao melhor estilo do “amigo da vizinhança”, a animação (de cair o queixo!) impressiona também pela originalidade no uso de recursos técnicos (incluindo a retícula comum na impressão dos gibis), do grafismo e da metalinguagem sem limites. Os personagens são todos carismáticos..., principalmente Morales e suas tiradas irônicas às revistas em quadrinhos do Homem Aranha. A narrativa sempre encontra soluções inteligentes e bem-humoradas para a ação dos heróis contra vilões (também modificados) deste e doutros mundos. Não faltam gags realmente engraçadas e até insanas e pitadas de nostalgia, com mais uma participação pra lá de especial do grande Stan Lee. Ah, por falar em nostalgia, quem tiver um pouco de paciência e esperar até o fim de todos os créditos, irá viajar no tempo e curtir uma sequência (que é uma piada) muito louca e pode sinalizar o próximo capítulo...


Contemporâneo e estiloso, Homem-Aranha no Aranhaverso, com seus cortes, recortes e enquadramentos inusitados que dialogam visualmente com todos os públicos, está sendo considerado por alguns críticos como o melhor filme do Homem-Aranha. A mim, há controvérsia, já que trata-se de uma primeira versão alternativa de Homem-Aranha na pele do jovem Miles Morales..., e não de (mais uma vez) o Homem-Aranha na pele de Peter Parker (que retorna às telonas em 2019 com Homem-Aranha: De Volta ao Lar 2). Pode ser (e é!) um dos melhores filmes de heróis já feitos, mas não o melhor do Homem-Aranha. Nessa estranhíssima linha de tempo nem mesmo a adorável Tia May (Lily Tomlin) é a velha e ingênua Tia May. Pra quem gosta de bola dividida, é um chute que tanto pode acertar a Aranha Viúva-Negra quanto a Aranha Marrom.

Enfim, a animação, por si só, já é um magnífico espetáculo gráfico. O seu enredo espirituoso emociona, faz rir (quase gargalhar) e refletir sobre perdas, coragem e deveres, sem ser melodramático. Um excelente passatempo que deve dar ainda pano pra muitas páginas, digo, mangas. Este personagem e seus coadjuvantes multiculturais prometem...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Crítica: Aquaman


AQUAMAN
por Joba Tridente

Se você é do tipo que sempre torce o nariz para os filmes da Warner/DC, mas que sempre assiste, nem que seja para reclamar do tom sombrio..., possivelmente vai mudar os seus conceitos (ao menos temporariamente) ao assistir ao iluminado Aquaman, dirigido pelo malaio James Wan, especialista em filmes de terror (que nunca vi), que me pareceu excelente na condução desta fantasia submarina de beleza inequívoca.

Aquaman (Aquaman, EUA, 2018), escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall, traz tudo o que você precisa e ou sempre quis saber sobre a origem do divertido herói anfíbio Aquaman (Jason Momoa). Ou ao menos a sua origem (digamos) clássica, já que em HQs nunca se pode confiar cegamente e os roteiristas raramente se apegam fielmente a ela, não é? Para quem prefere curtir as surpresas (e que surpresas!) na telona a perder o encanto com o trailer, vou escrever apenas o essencial.


Nesse início de franquia o espectador companha, num breve prólogo, o encontro (amoroso) de Atlanna (Nicole Kidman), a rainha da Atlântida, com o faroleiro Tom Curry (Temuera Morrison), o nascimento de Arthur Curry (Mamoa) e o aparecimento do primeiro inimigo do herói ocasional Aquaman, o perverso e vingativo Manta Negra (Yahya Abdul-Mateen II). Na sequência, em três atos que vão crescendo em intensidade e estética: o encontro de Arthur/Aquaman, treinado pelo seu mentor Vulko (Willem Dafoe), com Mera (Amber Heard), a filha do rei Nereus (Dolph Lundgren) e noiva do belicista Orm (Patrick Wilson), meio-irmão de Arthur e atual rei de Atlântida que, além de declarar guerra aos humanos, desafia o herói mestiço a lutar pela coroa do reino submarino..., se quiser evitar o iminente combate entre os povos dos sete mares e os povos da superfície. Arthur, que jamais quis ser rei de reino algum, só terá uma chance real, contra Orm, se encontrar o poderoso Tridente de Atlan..., escondido em algum lugar da Terra.  


Aquaman tem boa trama, repleta de ação e aventura bem satisfatórias (a sequência duas em uma, em que Aquaman e Mera enfrentam vilões, em dois planos diferentes, na Sicília, é simplesmente espetacular). O elenco é afiado e adequado aos personagens bem desenvolvidos. Mera não é apenas um rostinho bonito, um bibelô do fundo do mar, mas uma guerreira ousada e que está ali (porrada a porrada) com Aquaman. Não faltam (!!!) bom humor e ótimas gags..., e os efeitos especiais (caríssimo espectador!) são de cair o queixo (principalmente se visto em IMAX).


Aquaman é de uma beleza absurda e, principalmente por ser tão divertido, nem parece filme da DC Universo Expandido. Ou melhor, parece a nova DC, que finalmente está (?) deixando de ser sombria para atrair (?) o público juvenil que vai ao cinema em busca de diversão e não (apenas) de aflição num filme de super-heróis amargurados com seus passados bastardos e ou alienígenas. Cá pra nós, não bastasse a eficiente narrativa, só pelas estonteantes e surreais cenas submarinas, com a sua rica fauna e a inacreditável (re)criação da Atlântida em três tempos (nova, antiga, ruínas), já vale o ingresso. A qualidade técnica é tão impressionante que, em algumas sequências mal se consegue discernir o que é ator e o que é personagem animado em CGI.

Aquaman é uma produção que surpreende do princípio ao fim. Mas para curtir completamente esta alucinante viagem submarina (com roteiro simples, mas não banal) é preciso esquecer a lógica e se deixar levar por um toboágua vertiginoso durante duas horas e meia por mares de águas mansas, turbulentas ou abissais. A viagem, com alguma borrifada de horror, é tão envolvente e refrescante que o espectador sequer vê o tempo passar. Não vai querer nem dar aquela fugidinha pro banheiro (como é comum em filme de tamanha metragem)..., e olha que incentivo de água jorrando pra tudo quanto é lado não falta.


Com seu deslumbrante visual subaquático, feito cenário de Contos de Fadas (para A Pequena Sereia, por exemplo), e inspiradas (e reconhecíveis) referências visuais a clássicos da ficção científica cinematográfica, Aquaman pode até parecer escapista, mas vale ressaltar que as suas vigorosas braçadas pelos sete mares não são tolas e ou gratuitas. Na “sutileza” dos diálogos (e imagens) “subliminares” em seu roteiro redondinho, há tempo para se mirar o arpão e acertar em cheio questões relacionadas à poluição dos mares e a extinção da vida marinha.

Enfim, quando pensava já ter visto tudo o que poderia imaginar e esperar de mais uma rotineira adaptação de hq, salta d’água e para a água este Aquaman, contando a história de um super-herói que não tem receio de mostrar a sua simpática cara de “homem-peixe” que odeia perder a happy hour..., por causa da cerveja que entorna, é claro! Confira, sem medo de se extasiar!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Crítica: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald



Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
por Joba Tridente

Os fãs do cinema fantasia de qualidade, sabem que, com o fim da franquia Harry Potter, ficou um vazio bem maior que uma tela branca de cinema pode proporcionar. Mas, como em abracadabra que deu certo, sempre há uma chance de alguma outra varinha de condão ser manipulada, para o bem ou para o mal, por mãos habilidosas, maliciosas e ou, pior, maquiavélicas, dentro ou fora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, eis que, em 2016, voltamos a conviver com o mistério ao folhear as páginas cinematográficas da enciclopédia Animais Fantásticos e Onde Habitam, escrita pelo magizoologista Newt Scamander. Naquele primeiro capítulo, roteirizado por J.K. Rowling e com ótima direção de David Yates, conhecemos uma realidade mágica surpreendente, nos anos 1920, em Nova York, período em que o sonho americano desenvolvimentista e o pesadelo moralista andavam lado a lado com a intolerância e o preconceito, abrindo caminho para a xenofobia.


É nessas primeiras páginas que conhecemos o perverso Grindelwald, disfarçado de Percival Graves (Colin Ferrel), e assistimos à sua prisão pelo MACUSA (Congresso Mágico dos Estados Unidos da América). Agora, quando ia ser entregue às autoridades britânicas, após uma fuga espetacular, o verdadeiro Grindelwald (Johnny Deep) chega a Paris disposto a destilar suas ideias fascistas (para um Bem Maior) e arregimentar bruxos de sangue puro, a fim de estabelecer a superioridade dos magos sobre os trouxas. O único mago que pode derrotá-lo é o seu bom e velho amigo Albus Dumbledore (Jude Law). À medida que Grindelwald age sorrateira e criminosamente para criar uma sociedade ultranacionalista, acompanhamos o sofrimento do jovem obscuro Credence (Ezra Miller), que procura por sua mãe biológica enquanto foge de um bocado de magos. Até mesmo Newt Scamander (Eddie Reydmayne) deixa um pouco de lado seus Animais Fantásticos para encontrar Credence. Pelo que se vê, há bem mais humanos empoderados (caçando ou sendo caçados) que animais domesticados. Mas, sabe como é nesse mundo de bruxedos, quando um portal se abre, ou você chuta o balde, de vez, ou atravessa o pedestal e seja o que a magia quiser...


Imersivo e vertiginoso (em 3D IMAX), Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018), novamente roteirizado por J.K. Rowling e dirigido por David Yates, é daquelas tramas de fios abundantes que vão sendo tecidos vagarosamente para só dar a conhecer o resultado do bordado no arremate. Haja paciência para tantos ornatos! A saga dramática (que está no segundo de cinco capítulos) não adianta muito o alcance feiticeiro das varinhas de condão nas motivações radicais de Grindelwald; nas razões pessoais (talvez até demais) de Albus Dumbledore; na dúbia imparcialidade de Newt; na catarse apavorante do transtornado Credence...

Assim, por enquanto, o que se vê da imensa tessitura é pouco mais de uma curiosa estampa colorida ganhando forma aqui e uma agulhada sangrenta acolá. Imagens impressionantes e conteúdo suficiente apenas para entreter, por hora ou sessão, o espectador que vai ter de esperar ao menos até 2020, para conhecer os novos pontos desse imbróglio, onde um bocado de personagens, como Jacob (Dan Fogler), Queenie (Alison Sudol), Tina (Katherine Waterston), Leta (Zoë Kravitz), Teseu (Callum Turner), Nagini (Claudia Kim), com suas idiossincrasias, mais ou menos exploradas, tenta firmar pé num terreno pra lá de escorregadio, entre o mundo “real” e o “paralelo” (nas entranhas parisienses). Toda via da costura sem dedal, no entanto, nada impede um espectador questionar, por exemplo, se, pelo voar da carruagem de Grindelwald, os fascinantes Animais Selvagens de Newt perderão espaço na história..., se é que não foram meros chamarizes para o enredo sombrio atual..., e ou, contrariando o que se sabe da batalha final entre Grindelwald e Dumbledore, serão os salvadores do dia ou da saga.


Enfim, diferente de Harry Potter, cujos capítulos, de certa forma, tinham começo, meio e fim, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, parece seguir uma linha tipo novela de tv: continua no próximo filme. Ele segue apresentando personagens e mais personagens, desvelando vagamente a personalidade (e intimidade) de um ou outro mago, mas nada que entregue o jogo (da liga) dos vilões e (da liga) dos mocinhos. É um bom aperitivo (sem dúvida!). Mas, para muitos espectadores ansiosos, não muito mais que isso: um produto pensado para ser saboreado com parcimônia, já que a próxima página ainda está em branco.

Embora considere que o roteiro, por vezes confunde mais do que explica; certo que o elenco protagonista e (mesmo) de apoio é excelente; ressaltando a qualidade dos efeitos especiais e reclamando da invasiva e insuportável “trilha sonora”..., Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, com suas metáforas sobre o fascismo e a doutrinação do medo, pode ser visto como um bom (e informativo) espetáculo (sobre os rumos da direita no mundo real) e ou um longo e belo passatempo à beira do escapismo...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Crítica: O Grinch


O Grinch
por Joba Tridente

O paraíso do entretenimento cinematográfico é muito louco. Sabe-se lá quantos cifrões passam pelas mentes capitais hollywoodianas para decidir os filmes que (re)produzirão. No mundo literário há trocentas histórias que, dependendo do roteirista e do diretor, dariam excelentes filmes. Mas, em tempos de indefectíveis refilmagens (de novo e outra vez), lá pra bandas da terra das palmeiras e do sol caliente, onde até a Disney vem readaptando suas animações clássicas com atores, alguma releitura pode até surpreender. É o caso da terceira versão de O Grinch, que está de volta em formato de longa-metragem animado, dirigido por Yarrow Cheney e Scott Mosier.


Criado pelo escritor e ilustrador norte-americano Dr. Seuss (1904-1991), o personagem apareceu no divertido poema de 32 versos: The Hoobub and the Grinch, em 1955 e, na sequência, no livro How the Grinch Stole Christmas (Como o Grinch roubou o Natal), em 1957..., que foi adaptado para um curta-metragem de animação televisiva, dirigido por Chuck Jones (1912-2002), com roteiro e arte bem fiéis ao livro e às ilustrações originais, em 1966. A fábula, que também ganhou versões musicais para os palcos, foi adaptada e bem ampliada para o longa-metragem estrelado por Jim Carrey e Taylor Momsey, com direção de Ron Howard, em 2000. Agora é a vez da Illumination Entertainment mostrar a sua versão animada e também ampliada desta história que encanta e enternece gerações há seis décadas.


O Grinch (The Grinch, 2018) é daquelas animações de encher os olhos e de cair o queixo, com sua belíssima arte. O roteiro divertido e dramático (sem pieguice), escrito por Michael LeSieur e Tommy Swerdlow, aquece até o coração mais empedernido, ao contar a envolvente história do velho Grinch, um indivíduo solitário, tão inteligente quão rabugento, que mora no nevado Monte Espicho, no arredor de Quemlândia, com seu fiel e explorado cão Max, e todo fim de ano se incomoda com as alegres e agitadas festas natalinas dos quemlandianos, repletas de cantoria, comilança e consumo desenfreado. Porém, como barulho pouco é bobagem, ao saber que os seus vizinhos estão planejando realizar uma festa natalina três vezes maior que a última, o arredio ser de pelo verde decide que, se quiser sossego e neve fria, o melhor a fazer é se disfarçar de Papai Noel e roubar o Natal deles. Enquanto isso, no aprazível vilarejo a decidida garotinha Cindy-Lou Quem, que vive com a sobrecarregada mãe e dois irmãos bebês, traça um plano infalível para encontrar o Papai Noel e, cara a cara, lhe fazer um pedido muito especial...


Se você se viu tentado a assistir ao trailer, infelizmente vai perder algumas surpresas e gags visuais engraçadíssimas. Mas, mesmo assim, há muita coisa ainda para se curtir e rir e refletir nessa fábula sessentona que soa contemporânea, ao falar de consumismo, solidariedade e amor ao próximo. Embora não faça diferença na apreciação, vale ressaltar que, excetuando o curta de 1966, as duas versões mais recentes tomaram liberdades iguais, mas diferenciadas (pensando no público alvo), ao criar um passado para o triste (e quase trágico) Grinch e um núcleo familiar para Lucy..., além do perfil do protagonista, que em 2000, na pele de Jim Carrey, lembrava o vilão Coringa e, agora, em 2018, está mais para mal-humorado (digamos) azarado.


Com diálogos irônicos e personagens graciosos, boas doses de humor pastelão e nonsense, o desenho animado O Grinch é capaz de cativar até mesmo o público alheio ao Natal (cada vez mais materialista). Tecnicamente irretocável, a animação transborda cores e luzes, ao dar forma harmoniosa aos personagens, aos admiráveis objetos de cena e, principalmente, à arquitetura deslumbrante de Quemlândia. Certamente muito adulto vai viajar no tempo ao mergulhar de cabeça e se deixar enredar pela história singela. Toda via Jingle Bells, no entanto, como não poderia ser diferente, o filme que saúda as boas ações do Natal é repleto de canções natalinas que dialogam com a narrativa. Mas, infelizmente, no Brasil, elas não são dubladas e muito menos legendadas..., como se as letras, por vezes edificantes, não tivessem importância para a compreensão das crianças (público alvo) e ou dos acompanhantes que não dominam o inglês. Fora essa bronca antiga, entendendo ou não a cantoria, nada mais te impede de curtir este excelente espetáculo que chega todo rimado para lembrar que o Natal é muito mais que presentes e banquetes faustosos...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Crítica: Chacrinha: O Velho Guerreiro



Chacrinha: O Velho Guerreiro
por Joba Tridente

Praticamente uma década após o documentário Alô, Alô, Terezinha (2009), de Nelson Hoineff, e trinta anos da sua morte, o indefectível comunicador Abelardo “Chacrinha” Barbosa (1917-1988), é “novamente” tema de filme em Chacrinha: O Velho Guerreiro, dirigido por Andrucha Waddington.


A trama, que se pretende um leque de cores a uma paleta básica, é urdida em duas fases (digamos!) distintas. Na primeira, a apresentação e a ascensão de Abelardo Barbosa (Eduardo Sterblitch), que desembarca no Rio de Janeiro em 1939, quando a viagem para a Alemanha, a bordo do navio Bagé, onde trabalhava como “baterista” do Bando Acadêmico, é interrompida por causa da Segunda Guerra Mundial. Na então capital federal, de bico em bico, ele vira locutor da Radio Tupi e depois da Radio Fluminense, que ficava numa chácara e onde criou o animado programa Rei Momo na Chacrinha (daí que vem o “Chacrinha”). Com o sucesso do programa, feito em estúdio, passou para o auditório com Cassino do Chacrinha. A segunda fase, já como Chacrinha (Stepan Nercessian), aquele que veio pra confundir e não para explicar, o espectador acompanha os altos e baixos da sua carreira alucinada na televisão.


Em cena, o Velho Guerreiro, que estreou na TV Tupi (Rancho Alegre e Discoteca do Chacrinha), em 1956, foi pra TV Rio e depois pra Globo (Buzina do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha), de lá voltou pra Tupi, passou pela TV Bandeirantes e retornou à Globo, onde apresentou o Cassino do Chacrinha (1982 a 1988), parece estar com tudo e não estar prosa. Porém, como em toda via biográfica rápida, a se acreditar no foco que aleatoriamente jorra luz (sem manter a luminosidade) onde bem entende, ou provoca curto-circuito ora num palco (rádio/tv) e ora noutro (casa/família), o fardo de melancolia do palhaço de auditório (com intrigas, fofocas de bastidores, denúncias graves e críticas pipocando de todo lado) era tão pesado que faz supor que o preço do seu sucesso era quase insuportável. Aparentemente, a sua única alegria era ser o centro das atenções em meio àquela bagunça generalizada diante das câmeras de tv e do seu público fiel. Ou seria esta impressão também falsa?


Enfim, com direção claudicante de Andrucha Waddington e roteiro frágil de Claudio Paiva, Julia Spadaccini e Carla Faour, Chacrinha: O Velho Guerreiro, oriundo do morno espetáculo teatral festivo Chacrinha - O Musical (difícil acreditar que tenha orçamento de 12 milhões de reais), também dirigido por Andrucha, à primeira vista é agradável e até divertido, com seu humor grosseiro ou nonsense (bem menos baixaria que o humor do musical). Mas, após a sessão, quando a gente começa a pensar e a discutir sobre o que viu, quando a ficha cai realmente, cada tilintar da moeda dá a impressão de que se assistiu tão somente a uma venerada hagiografia travestida de cinebiografia..., onde há muito barulho por nada. Ou muito paetê pra um palco onde a lamúria é bem maior que a felicidade. Tamanha é a mordida em fatos (?) e fofocas (?) por uma boca pequena demais para mastigar o imbróglio sagrado.


Chacrinha: O Velho Guerreiro traz, para degustação da massa, um personagem folclórico e controverso, um fenômeno da televisão brasileira, um tropicalista antropofágico que é ainda é matéria de estudo e discussão. Persona riquíssima, mas cuja narrativa rasa, com mais questionamentos (discutíveis) que respostas às revelações (?) sensacionalistas, parece disposta a enaltecer a coragem do polêmico apresentador apenas para desculpar as suas falhas (?) técnicas, ou de caráter. Se assim é o que se vê, que cada espectador aprecie o que de melhor lhe convier, da ótima reconstituição de época às performances sensacionais de Eduardo Sterblitch e de Stepan Nercessian.

Com a rica matéria-prima à disposição, fosse menos preguiçoso o seu enredo, Chacrinha: O Velho Guerreiro (que deve virar minissérie no canal que o produziu) poderia emparelhar com o excelente Bingo: O Rei das Manhãs (2017), de Daniel Rezende. Mas, ainda assim, é um melodrama padronizado que dá pro gasto!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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